sexta-feira, 22 de setembro de 2017

O CENTRALISMO E O MONOPÓLIO DA EDUCAÇÃO

Centralização significa a absorção de toda a atividade dos corpos intermediários e mesmo dos indivíduos pelo Estado. Esta absorção cresce desde a famosa francesada de 1789 até hoje, de modo que é possível dizer que hoje todos os Estados são tiranias. O maior ladrão de qualquer Estado é o Governo. O publicista Bertrand de Jouvenel, em seu denso tratado O Poder, compreende que essa absorção é inevitável no Estado, que o crescer é essencial ao Estado. Deveria ter acrescentado a condicionante: a menos que outro não o impeça. Com efeito, a função natural dos poderes parciais e relativos (Família, Município, Grêmio, Dinheiro, Universidade, Exército) é limitar o poder, em si açambarcador, do Poder Central.
Hoje em dia o Estado faz de tudo, menos, às vezes, o que deveria fazer. De sapateiro a construtor de casas, o Estado se mete em tudo... Você não pode publicar um livro sem ter o Fisco em cima. O Fisco sangra toda a atividade produtiva e inclusive monopoliza a maior parte das atividades produtivas.
Mas onde o Estado se mostra mais zeloso e por isso mesmo mais danoso é no Monopólio do Ensino. O Estado é o mestre de part Dieu – que digo? -, é o Mestre dos Mestres, o Mestríssimo. Direta ou indiretamente é o que transmite a - chamemo-la assim – Educação, diretamente nas escolas ‘publicas’, indiretamente nas escolas mal chamadas ‘privadas’.
Esta aberração de o “Político” se meter a reger ou a fazer o que lhe toca, sem aptidão, nós copiamos da Terceira República francesa e esta copiou de Juliano, o Apostata, com o fim de perseguir a Religião. Napoleão também o fez, mas com fim diverso. É o dogma mais acariciado do futuro Estado socialista e é o credo do Anticristo. Os pais têm o dever e o direito de educar seus filhos, a Igreja tem a missão de ensinar a religião. O Estado é político e não educador, a não ser para subjugar a educação à política, e nesse caso, à infidelidade.
“Greve dos trabalhadores da Educação”. Este enunciado grotesco é a criada respondona que se tornou como que a divisa do Estado Ensinante. Está acontecendo aqui o se passou na França, a saber: o Estado Anticlerical fundou a Escola Normal Superior, que devia forjar todos os mestres superiores, e reservou para si o poder de habilitar os mestres comuns. Queria fazer dos ensinantes os “soldados da República”, como se expressou Jules Ferry, ou seja, aqueles que inocularam nas crianças indefesas o laicismo e o anticlericalismo.
Com efeito, como resultado lógico ocorreu que os mestres se fizeram comunistas, e começaram a dar dor de cabeça à ‘República laica, una e indivisível’, com greve atrás de greve começando por pedir ‘aumentos de salário’...
Quando o dano ou o escândalo se torna intolerável, o Governo cede e aumenta os salários e os trabalhadores da Educação se reintegram ao trabalho de educar, depois de haver dado o mau exemplo de deseducar. ‘Os soldados da República’.
Aqui neste país, o monopólio da educação é responsável pela decadência da educação; e a decadência da educação é responsável, em grande parte, pela decadência da República.
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Leonardo CASTELLANI. Prólogo al libro Nociones de comunismo para católicos , de Enrique Elizalde, In. Seis Ensyos y Tres Cartas, Buenos Aires: Ediciones Dictio, Buenos Aires, 1973, p. 142-144.

A CIDADE MODERNA

Por suas características, a cidade moderna modelou uma sociedade urbana composta exclusivamente de indivíduos isolados. Os esquemas centralistas, a abolição da vida paroquial, dos bairros e vizinhanças com personalidade própria, foram suficientes para debilitar a cultura urbana, pois não há cultura baseada em indivíduos isolados. A excessiva acessibilidade, paradoxalmente, criou mais solidão. Os contatos pessoais, casuais, na rua, vão desaparecendo. O anonimato vai cobrindo áreas inteiras em razão das densidades desumanas que fazem com que ninguém se conheça entre si. Daí resulta a ausência de solidariedade e, logo, a insegurança e a ausência total de um mínimo de controle social que, antes, colaborava em grande medida com as forças da ordem e hoje delas se afasta.
É que a sociedade urbana perdeu as virtudes da comunidade; é, na realidade, o seu oposto. Trata-se de uma aglomeração que acredita na capacidade de organizar-se voluntariamente, por contratos, e que em vez de buscar fundamentos comuns se jacta de sustentar um pluralismo como fim. De onde o reflexo material – a aparência arquitetônica – seja tão deplorável, pois salvo que algum regulamento o proíba, a tendência espontânea é o destoar, o desarmonizar, criar o caos.
A comunidade era – e é em alguns contados casos infensos à voragem da macrourbanização – a associação fundada em ideais comuns, em determinadas pautas de comportamento social herdadas, não questionadas racionalistamente, onde os deveres imperavam sobre os direitos, pois ninguém se sentia como nascido fora do seio dessa comunidade.
Mas a técnica descontrolada, com sua força material avassaladora, persuadiu a muitos de que é portadora de uma nova ordem social. Pior ainda, de que essa nova ordem é diferente – se assim convém – da natureza humana e até mesmo a ela contrária. Por isso, se chega a proclamar que o homem contemporâneo deve adequar-se não tanto à outra ordem, pois esta é cambiante, senão à mudança em si, a mudar indefinidamente: acostumar-se a ser ninguém.
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Patricio H. RANDLE. Tendencia a la desconstruccion de la ciudad contemporânea, in Revista Verbo, Ns. 301-302, Madri: Speiro, p. 105-106.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

UMA CRIANÇA É UM SANTO EM FLOR

“No pensamento de Deus, uma criança é um santo em flor. Querendo ou não, sois colaboradores de Deus. Vós o fostes na obra admirável da 'criação' dos vossos filos. Deveis sê-lo também na obra de sua 'educação', que não é menos bela. Educar vem de duas palavras latinas: ex ducere, tirar de, fazer brotar de. É extrair de uma criança, tanto quanto possível, com a sua colaboração cada vez mais consciente, à medida que cresce, um homem, um cristão, um santo é, noutros termos, fazer resplandecer, com a graça do Senhor, a efígie do Cristo no seu rosto de homem”.
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Pe. G. COURTOIS. A Arte de Educar as Crianças hoje, Rio de Janeiro Agir, 1964, p. 13.

CONCEPÇÃO SACRAL DA VIDA RURAL

“A vida rural teve muito a ver com a vida religiosa dos lavradores. A Igreja cuidou que as principais festas do ano litúrgico coincidissem sempre que possível com o ciclo das estações e as fainas do campo correspondentes, realizando-se assim uma interessantíssima comunhão entre a vida espiritual e o acontecer cósmico. O sino da paróquia ou do convento conferia à existência camponesa um ritmo não só cronológico, mas também sacral. Pouco antes da aurora tocava a laudes e encerrava a jornada na hora das vésperas. Deste modo, a oração matutina e a prece vespertina marcavam o trabalho, conferindo-lhe uma significação transcendente. Os dias de festa eram numerosos, muito mais que em nosso tempo. Tanto aos domingos como nos dias festivos os camponeses assistiam à Santa Missa e com frequência aos ofícios das Horas canônicas. Participavam também das procissões, presenciavam nos átrios representações teatrais dos mistérios sagrados, ouviam sermões e homilias, aprendiam o catecismo. Tudo isso somado às visitas domiciliares dos sacerdotes, constituía uma espécie de cátedra ininterrupta para sua educação nos princípios da fé da moral. Toda a existência do camponês pulsava ao ritmo estabelecido pela Igreja. Desde o nascimento até a morte, passando pelo matrimônio e as enfermidades, os momentos fundamentais de sua vida eram sublimados pelo alento sobrenatural da liturgia”.
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Alfredo SÁENZ S.J. La Cristiandad y su Cosmovisión, P. 151-152.

AS COISAS SUPREMAS...

“...as coisas supremas florescem apenas do outro lado do túmulo. Mas elas começam aqui embaixo, e a frágil semente delas está em nossos corações, e nada floresce no Céu que não tenha antes germinado na terra”.
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Gustave THIBON. A escada de Jacob, Porto: Editorial Aster, Coleção Éfeso.

VIVEMOS FORA DE NOSSA INTERIORIDADE

“Nós vivemos fora de nossa interioridade: não interiorizamos nossa vida prática, exteriorizamos nossa consciência; não recuperamos o mundo dentro de nós, nos perdemos e dispersamos a nós mesmos no mundo. Refletimos a superfície das coisas em lugar de refletir sobre as coisas a profundidade de nosso espírito”.
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Michele Federico SCIACCA. Fenomenología del hombre contemporáneo, Buenos Aires: Asoc. Dante Alighieri, 1957, p. 10.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

JARDIM CELESTIAL

“No jardim celestial, Deus deseja não só belas rosas e orquídeas exóticas, mas também humildes violetas e pequenas margaridas. Todas estas flores contribuem para Sua glória”.
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PAUL DE JAEGHER, S. J. A Virtude do Amor, São Paulo: Flamboyant, 1962, p. 24.

A VERDADEIRA VIDA É A VIDA ETERNA

Recordemos outra vez a lição que nos dão os santos; para eles, a verdadeira vida era a vida eterna e a vida presente não era mais que uma sombra. Para eles, a vida eterna era um livro imenso, de que a presente vida era o prefácio, a introdução. Para eles a vida eterna era a pátria verdadeira, e a vida na terra, um vale de lágrimas. Alegravam-se também eles com os raios do sol;  escutavam e deliciavam-se com o trinado das avezinhas; lutavam para cumprir o seu dever. Para o cumprirem tão heroicamente como o faziam, tiravam forças do pensamento da vida eterna, tinham nostalgia do céu. A nostalgia do céu compele a praticarmos verdadeiros heroísmos. Esta nostalgia faz-nos esquecer as lágrimas e juntar as mãos na oração, para vencermos os ímpetos da cólera, perdoando aos inimigos. Só assim podemos nós sorrir no meio dos sofrimentos; sabemos que todas as nossas lágrimas caem nas mãos de Deus. Estejamos certos que, por maiores que sejam as tribulações, por mais sombrio que se nos mostre o céu, a luz da vida eterna penetra através da mais escura cerração.
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Mons. TIHAMER TOTH. Jesus Cristo Rei, Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1956, p. 67-67.