terça-feira, 13 de setembro de 2016

O REINO DA MENTIRA E DA DUPLICIDADE


A duplicidade é universal; ela nos cega, nos sufoca, nos desgarra, nos apodrece e dissolve todos os nossos pontos de apoio. Nossa época e nosso espírito, estão de tal modo gangrenados de mentira que contaminam até as instituições e os homens que desejariam ficar indenes e os leva a recorrer, na falta de coisa melhor, à mentira para lutar contra a mentira. Mentira na filosofia política que pretende sub-repticiamente substituir o espírito pela matéria, a qualidade pela quantidade, o Criador pela criatura, a razão por uma cega aritmética. Mentira da linguagem política e especialmente do calão parlamentar, tornado anfibológico e quase hermético e do qual nenhuma só palavra, notava Péguy, conservou sua significação natural. Mentira nas instituições políticas construídas “
en porte à faux” sobre fundamentos instáveis e ruinosos. Mentira em particular na Soberania do Povo, que desfigura a autoridade, de que faz uma escrava e o comando de que faz um despojo. Mentira na justiça que se torna a serva dócil da iniquidade triunfante, sem se preocupar nem mesmo com a evidência, prostituindo-se aos poderosos do dia e pretendendo impassivelmente converter a culpabilidade em inocência, a inocência em culpabilidade. Mentira na polícia que perverte a moralidade pública, que tem a missão de defender. Mentira na repressão e na vingança que se escondem sob a máscara da legalidade e na sombra dos cárceres. Mentira na interpretação do Bem Comum e do Interesse Geral, que já não são invocados senão para servir interesses de partidos, ou que se reduz a uma concepção sórdida, baixamente utilitária, que se confunde voluntariamente com o bem estar, as comodidades materiais e as satisfações dadas aos instintos gozadores das multidões. Mentira da lei, que já não é a ordem racional, imposta pelo bem de todos, mas a simples expressão, disfarçada em direito formal, da vontade do mais forte e entregue assim a uma perpétua instabilidade, a uma permanente injustiça. Mentira na liberdade, onde já não se quer ver o que ela é, isto é, uma lenta e penosa conquista e a faculdade sublime de ser causa, mas um dom gratuito e congenital e que se transforma em tributária do mal, em dissolvente da autoridade, em negação da responsabilidade. Mentira na Igualdade, em nome da qual se tende estupidamente dar a todos os homens, direitos, estatutos e satisfações uniformes. Mentira na Fraternidade, que se orgulha de tornar inútil a Caridade e nada mais faz do que renovar incessantemente o drama de Caim e Abel. Mentira na Moral, privada de sua base e de seu fim e tornada puramente fictícia. Mentira no hino universal entoado à apoteose da Pessoa Humana, cuja dignidade nunca foi tão desconhecida. Mentira na educação, que não passa d’um entulho, sem nenhuma ação formadora e deixa portanto de merecer o nome que se lhe atribui. Mentira no crédito que o Estado confunde abertamente com a espoliação e o roubo. Mentira na moeda, cujo valor real está num desequilíbrio cada vez mais completo com o valor aparente e tende irresistivelmente para o zero. Mentira, direi eu, até nas orações que certos políticos, que se pretendem religiosos, dirigem publicamente aos Céus pela salvação de um Estado que é a negação e a violação dos direitos divinos, pois, segundo a grande palavra de Bossuet, Deus se ri das suplicas que se elevam até Ele para desviar as desgraças publicas, quando não nos opomos ao que se faz para atraí-las. Mentira, para coroar o todo, no comportamento dos melhores que julgam, sob o pretexto de evitar um mal maior, dever pactuar com o falso, arvorar opiniões que não são as suas e dizer-se o que não são. Mentira, sim! Até na verdade, à qual se incorpora sistematicamente uma parte de erro, mentira no erro o qual se incorpora sistematicamente uma parte de verdade, alienando assim o espírito dos homens, de tal modo que aos olhos de grande número elas se tornam praticamente indiscerníveis, intercambiáveis. Perversão e confusão, tornadas tais que, mais cínico do que Pôncio Pilatos, um parlamentar francês, sem suscitar reprovação alguma, pode proclamar: ‘Mais vale unir-se ao erro do que dividir-se na verdade’.
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Marcel de la BIGNE DE VILLENEUVE. Satan en la Ciudad, Buenos Aires: Nuevo Orden.


terça-feira, 6 de setembro de 2016

O SÉTIMO MANDAMENTO E A CONDENAÇÃO DO COMUNISMO

“O sétimo Mandamento consagra o direito de propriedade. A propriedade privada é legitima em face da lei natural e da lei divina positiva. Por isso, neste Mandamento está condenado o comunismo como sistema econômico (além de o ser pela sua ideologia materialista), pois ele transfere a propriedade dos particulares para o Estado. Por esse motivo, os Papas Leão XIII e Pio XI, respectivamente nas Encíclicas Rerum novarum e Quadragesimo anno, fizeram ver que um católico não pode ser socialista (o que foi reiterado noutros documentos dos mesmos Pontífices)”.
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José Pedro GALVÃO DE SOUSA. Breve Catecismo Expositivo: para Conhecer e Viver as Verdades da Fé, Belo Horizonte: Edições Cristo Rei, 2013, p. 70.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

NEGAÇÃO DO PECADO ORIGINAL: DOGMA FUNDAMENTAL DA REVOLUÇÃO

“A negação do pecado original é um dos dogmas fundamentais da Revolução. Supor que o homem não tenha caído no pecado original significa negar, e nega-se efetivamente, que o homem tenha sido redimido. Supor que o homem não foi redimido significa negar, e nega-se efetivamente, o mistério da Redenção e da Encarnação, o dogma da personalidade exterior do Verbo e o próprio Verbo. Supor a integridade natural da vontade humana, de um lado, e não reconhecer, de outro, a existência de outro mal e de outro pecado além do pecado filosófico, significa negar, e nega-se efetivamente, a ação santificante de Deus sobre o homem e, com ela, o dogma da personalidade do Espírito Santo. De todas estas negações deriva a negação do dogma soberano da Santíssima Trindade, pedra angular da nossa fé e fundamento de todos os dogmas católicos”.
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Juan DONOSO CORTÉS. Lettera al cadinal Fornari, 19 de junho de 1852. Saggio sul cattolicesimo, il liberalismo e il socialismo, trad. It., Milão, 1972,  p. 51.