quinta-feira, 28 de julho de 2016

ATEÍSMO MILITANTE

“Com o advento do comunismo que, a todo transe, pretende traduzir em realidade social o materialismo dialético de MARX, a irreligiosidade passar a ser o ideal de uma nova civilização, e o combate à divindade, a condição preliminar de seu triunfo na história. Sem extirpar das consciências a crença em Deus e tudo o que ela representa para a grandeza, a paz e a esperança das almas, a humanidade não atingirá a meta de sua evolução na conquista da felicidade. Um ateísmo militante identifica-se assim com o próprio esforço de libertação salvadora. Acenar aos homens com um novo estilo de civilização em que Deus é o grande inimigo e, para levar a termo esta transmutação radical de valores, mobilizar, num titanismo sem escrúpulos, todos os ressentimentos históricos e toda a avidez de paixões violentas, eis a tragédia do comunismo. Um estudo da gênese ideológica do marxismo porá em evidência estas correlações internas e essenciais, que fazem do combate à própria noção da divindade a pedra angular da implantação e conservação do comunismo soviético”.
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Pe. Leonel Franca. “Ateísmo militante”, em Alocuções e artigos, Tomo II, Rio de Janeiro: Agir Editora, 1954, p. 33-34.

domingo, 17 de julho de 2016

O SACERDOTE NO REGIME COMUNISTA

“O regime comunista soviético, que durou cerca de 70 anos (1917-1991), tinha a pretensão de estabelecer uma espécie de paraíso na terra. Mas este reino não podia ter consistência já que se fundava na mentira, na violação da dignidade do homem, na negação e inclusive no ódio a Deus e a Sua Igreja. Era um reino onde Deus e os valores espirituais não podiam e não deviam ter nenhum espaço. Qualquer sinal que pudesse trazer à memoria dos homens a Deus, a Cristo ou a Igreja, era arrancado da vida pública e da vista dos homens. Não obstante, existia uma realidade que continuamente recordava aos homens a presença de Deus: o sacerdote. Por esta razão o sacerdote não devia ser visível, não devia existir”.
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Dom Athanasius Schneider. Dominus Est: reflexiones de um obispo de Asia central sobre la Sagrada Comunión, Libreria Editrice Vaticana, 2009, p. 11.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

O VALOR DAS COISAS PEQUENAS

Essas coisas aparentemente pequenas tornam-se grandes pelo nosso amor. E as lembranças infantis criam um mundo encantado, misterioso, que faz da vida um reino quase lendário. Quem sufocou o menino, matou o adulto. A poesia da infância é duma pureza essencial. Poesia silenciosa, que é devoção. Em velha casa do vale do Ceará-Mirim, praticamente em ruínas, mas onde o passado deixou traços permanentes, penetro mesmo à distância para recriar a vida e ouvir passos e antigas vozes que tornam reais, e até tangíveis, as sombras com que me encontro nas salas vazias, quase conventuais.
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Nilo PEREIRA. Espírito de Província, UFP: Recife, 1970, p. 21. 

terça-feira, 5 de julho de 2016

MULHER: RAINHA DO UNIVERSO

Deste modo se ·torna realidade a ideia de um desconhecido artista holandês que denominava a mulher rainha do universo. Contemplei durante muito tempo, na célebre abadia de Melk, à beira do Danúbio, as pinturas da abóbada que representam a fé, a esperança e a caridade. São três mulheres: a fé traz a cruz e o cálice, a esperança a âncora de salvação, a caridade é uma mãe rodeada de filhos - um ·deles abraça-a, o outro beija-a e o terceiro brinca a seu lado... Todas as aspirações da mulher encontram na família a sua mais bela plenitude.
Num congresso de mulheres, queixaram-se de que a história do mundo estivesse escrita somente sob o ponto de vista do homem. Pode ser. No entanto, não se deve esquecer que a vida da mulher está íntima e indissoluvelmente unida à vida do homem, do filho, do próprio povo e de toda a cultura. A sua glória não está em serem espíritos invulgares ou gênios; está em saberem dar gênios ao mundo. E deram Watt, Stephenson, Edison, Carlos Magno, Napoleão... O primeiro lugar de entre as grandes figuras da história do mundo está reservado à mãe.
O cetro do mundo pertence a quem pode dar a vida a um novo ser e, por isso, podem as mulheres olhar com desdém para o grandioso edifício de São Pedro de Roma ou qualquer outra construção tão impressionante como essa. Elas trouxeram ao mundo algo de mais senhorial e mais belo: o templo para uma alma imortal! A mulher trabalha no lar, mas o seu silencioso labor reflete-se em todo um povo. Transmite todo o tesouro da cultura aos filhos e aos netos, edifica o futuro e não só o futuro terreno; já que a sua ação penetra na eternidade até ao coração de Deus.
Sem ela não há família, sem ela não há pátria.
Sem ela perder-se-iam as fontes mais ricas da energia da humanidade; sem ela desapareceriam a bondade, o amor e a compaixão. É o humilde cajado em que se apoia o homem, cansado de peregrinar pelos poeirentos caminhos da vida. É o soldado desconhecido do contínuo dia a dia. A mão que embala uma criança, guia o leme do mundo e tudo quanto no mundo vive e morre, teve a sua origem numa mulher.
“O homem vem à vida através da mulher”, diz São Paulo, e, por isso, nas obras dos homens sempre se vislumbra a imagem de uma mulher. O homem pode encontrar-se numa situação elevada e brilhante, de destaque perante a história, ou numa profunda obscuridade. A mulher, como imagem do valor eternamente duradouro, vai criando no silêncio vidas novas, traça-lhes o caminho e deita a semente num campo que nunca foi lavrado. Nos traços da mãe está impressa a face do povo que há de vir. Uma moça, pouco depois de ser mãe, dizia-me: “A passagem da mulher para mãe é mais importante que a passagem de adolescente para mulher”. Na maternidade encontra a sua solução esse problema premente e angustiante que tantas sombras projeta nos dias da juventude, o problema da aparição do amor e da mútua harmonia dos amores. O matrimônio serve para realizar essa harmonia e resolve o problema da mulher, porque é na maternidade que ela consegue alcançar a sua felicidade em clima apropriado à sua natureza. A vida da mulher é mais silenciosa e recolhida que a do homem, mas do fogo do lar pode ela fazer fogo de um altar sagrado onde oferecer-se, dia a dia, silenciosamente, até ao holocausto. Quando contemplo uma cruz coroada de rosas, penso no meu íntimo: este é o símbolo da vida da mulher, a cruz escondida entre as rosas! A vida e a vocação da mulher não são sempre rosas, mas também não são sempre cruz. Lado a lado, caminham rosas e cruz. Em resumo, viver para os outros, procurar por todos os meios a felicidade dos outros, ainda que se desfaça em sangue o coração!
Uma frase de León Bloy, digna de ser meditada: “Quanto mais santa é uma mulher, tanto mais é mulher”. E também tem valor permanente o pensamento de Schiller: “Honra a mulher! Ela tece rosas no caminho da vida, tece o feliz vínculo do amor e, oculta sob o véu da graça, alimenta vigilante, com mãos sagradas, o eterno fogo dos sentimentos nobres”.
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Cardeal MINDSZENTY. A mãe, Lisboa: Editora Aster, p. 20-21.

sábado, 2 de julho de 2016

A IMPORTÂNCIA DOS HERÓIS

"Todos os heróis admirados e propostos como modelo à juventude eram homens e mulheres capazes de grandes sacrifícios, de generosas renúncias, de heroicos sofrimentos por uma causa, por um ideal que se identificava sempre com a verdade e o bem, e nunca com a auto-satisfação hedonista ou o interesse egoísta. Este era o comum denominador dos grandes personagens bíblicos – Moisés, Davi, Judite, Ester... –, dos heróis pagãos – Aquiles, Penélope, Enéias, Dido... – e dos heróis cristãos, quer se tratasse de mártires, de virgens enamoradas de Deus, de grandes servidores dos pobres; quer de modelos de cavaleiro cristão, como o rei São Luís da França ou El-Rei Dom Sebastião; ou os heróis lendários como Sir Lancelot, Tirant lo Blanc e o louco e genial Dom Quixote de la Mancha. O espelho da grandeza era a virtude. E a virtude não só tolerava, mas exigia o sofrimento heroico, paciente, e o sacrifício desinteressado, até chegar à entrega – sem um arrepio – da própria vida."
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Padre Francisco FAUS. A sabedoria da Cruz. São Paulo: Quadrante, 2001, p. 09-10.
(Enviado por Kathren Silveira Batista)