terça-feira, 31 de outubro de 2017

É IMPOSSÍVEL CONSTRUIR UMA SOCIEDADE COM ELEMENTOS IGUAIS

“A essência de toda sociedade é a de agrupar seres desiguais em vista a seus fins comuns, como testemunha a mais fundamental das sociedades humanas baseada na diversidade de sexos e destinada a propagar a vida, condição indispensável para bem viver. É, pois, estritamente impossível construir uma sociedade com elementos iguais”.
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MARCEL DE CORTE. De la justice (1973).

sábado, 28 de outubro de 2017

O SENTIDO DA MORTE...

"Parece que em nossos dias se perde cada vez mais o sentido da morte... Já o advertiu Bernanos: ‘pesa sobre nós a ameaça de morrer como imbecis’. A morte imbecil a que se refere Bernanos é uma morte não humana ou carente de sentido. Quando o fato da morte se trivializa, como ocorre hoje, se esvazia também parte do sentido da vida. O sentido da morte depende do sentido da vida e vice-versa. Morre como imbecil quem vive como tal. É como a morte de um animal. Quando a vida de uma pessoa se apresenta como mera sobrevivência, a morte não interrompe nenhum projeto vital”.
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Leonardo Polo. La muerte de los imbéciles. Istmo, nº 165.   México (VIII-1986) pp. 18-19.
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A DESORDEM TOTAL...

"Uma desordem total invadiu o nosso século. A característica principal da forma moderna da desordem é a inversão dos valores do convívio humano... Na família, os filhos estão surdos para o timbre da voz paterna. Os pais estupefatos temem os filhos. Temem principalmente perdê-los. Com cabisbaixa fraqueza cedem às suas imposições, para não perderem aqueles que de há muito perderam. Congrega-os o lar apenas por laços de um certo instinto gregário e os interesses monetários dos filhos. Mas o filho já é um estranho na casa. Na escola, a professora condicionada por uma pedagogia que nega a tendência da criança para o mal (tendência que é um claro indício do pecado original) e o valor educativo das punições, docilmente cede a todos os caprichos infantis. Nos ginásios, os adolescentes agrupados na promiscuidade da co-educação, iniciam-se nas “viagens do fumo” e dos tóxicos, preparam-se para o amor nas “inocentes” práticas sexuais, sob os olhares estimulantes e compreensivos dos orientadores educacionais. Nas universidades, os representantes do mais tolo mito do século, o mito do JOVEM, elaboram os programas, impõem e depõem os mestres e dirigentes... que os orientam conforme a moral permissiva e a linha subversiva".
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Gustavo CORÇÃO. Editorial da Revista Permanência, no. 57, Julho de 1973.

sábado, 21 de outubro de 2017

O PENSAMENTO UTOPISTA

“Nos damos o direito de descrever o pensamento utopista como a crença em um início imaculado e em uma perfeição alcançável. Quando se analisa a mentalidade utopista deve-se destacar que todos os avanços que ela efetua partindo desde o hipotético, ou postulado estado de perfeição primitiva até o de perfeição restaurada, encontram-se sempre acompanhados de doses exageradas de pessimismo e de otimismo que se apresentam mescladas em proporções que nos parecem chocantes. É muito comum que uma concepção tão pessimista do universo como a que se apresenta no materialismo radical, e segundo o qual todas as coisas foram criadas ao acaso e de tal modo que o próprio ser humano não é mais que uma agregação fortuita de átomos, leva a um otimismo irracional sobre a possibilidade de estabelecer uma comunidade feliz. Na realidade, nesse caso o pessimismo e o otimismo não se contradizem mutuamente já que cada um possui seu rol delimitado: o utopista pode muito bem permanecer sendo pessimista sobre a natureza humana individual enquanto conserva seu otimismo sobre a natureza social do homem, tal como se apresenta incorporada na comunidade, e de seu poder para vencer a contumácia do indivíduo. É certo que vencer a resistência individual implica o emprego da força, mas o utopista assegura que isto se justifica quando as metas são a bondade e a perfeição. Ademais, até é admissível estabelecer um governo especial daqueles que foram eleitos como depositários da doutrina da sociedade perfeita; tais eleitos têm o direito supremo de obrigar a cada indivíduo a abandonar seu egoísmo e a adornar-se com a roupagem de candidato à perfeição.
Esta condição de candidatura pode durar indefinidamente. A noção mesmo de governo dos eleitos, quer dizer, de teocracia, implica uma ameaça perene por parte das potencias do mal não corrigido ou, no melhor dos casos, pelos vestígios persistentes daquele. Por isso a teocracia não ceder nunca, pois enquanto exista o perigo – e a simples ausência de entusiasmo pelas leis teocráticas se interpreta como sinal de perigo – as forças repressivas não devem afrouxar sua tensão. Aos que manipulam tais forças há que mostrar-lhes que seus sujeitos, os candidatos à perfeição, vivem em estado de entusiasmo permanente.
Naturalmente, dado que sempre se apresentarão coisas que façam perigar essa teocracia, os designados para administrar insistirão em demonstrações regulares e entusiastas de adesão. Por exemplo, sob os regimes comunistas não é permitido ao indivíduo permanecer simplesmente em silêncio: deve falar, escrever, aprovar e proclamar, tudo isto com um entusiasmo mais sonoro que o de seu vizinho.
Pessimismo em relação ao indivíduo, otimismo em relação à coletividade e entusiasmo exaltado.
(...)
Se afirmou que tais construções utopistas configuram um jogo realizado com elementos tirados da realidade, mas ordenados de maneira diferente.  Sem embargo, e como fez notar Raymond Ruyer em L’Utopie et les Utopies, o elemento que mais salta à vista na literatura utopista é a crítica social e política, o desgosto ante a comunidade atual, com seus regimes políticos e seus obstáculos à felicidade. Ademais, como já afirmado, estes utopistas não mostram nenhum desejo de efetuar simples reformas, pois sua crítica vai muito além de uma mera proposta de simples mudanças: com efeito, são os fundamentos mesmos do estado da humanidade o que esses pensadores quiseram demolir para em seu lugar colocar outros novos. Nesse sentido, ditos estudiosos merecem o qualificativo de ‘radicais’, já que sua reconstrução da sociedade e do homem exige uma renovação total das elucubrações acerca de Deus e da Criação.
Como pensador, o utopista é simultaneamente irracional e lógico. Uma vez edificada sua república imaginária (e algumas vezes se trata inclusive de um mundo fantástico com suas próprias leis físicas distintas das do nosso), uma vez realizado esse grande salto para dentro de um sistema distinto de ideias, procede com uma lógica estrita, sem deixar nada abandonado à própria sorte. Suas criaturas humanas se comportam ou se as faz comportar como autômatos, e a organização de suas vidas, no curso das quais executam com precisão cronométrica as tarefas assinaladas por uma autoridade central, não muda jamais. Precisamente em razão de que o pensador estabeleceu seu sistema próprio fundamental de ideias, o povo estruturado pela mente do utopista já não se encontra mais na dependência de sua natureza humana e de toda a rica gama de variações que ela pode brindar: o utopista se permitiu manejar seus dramatis personae com muito maior liberalidade que o corrente em um novelista ou em um dramaturgo. Suas criaturas, cortado o cordão umbilical que as ligava à mãe terra e à Humanidade ordinária, se convertem então em marionetes, semelhantes a esses homens sem alma que em alguns contos fantásticos se denomina como zombies, carentes de toda dimensão histórica, despojados de toda liberdade e de toda possibilidade de escolher”.
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Thomas MOLNAR. El utopismo: la herejía perene. Buenos Aires: EUDEBA, 1970, PP. 16-17.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

SIMPLICIDADE DA ALMA

“Uma alma que transige com seu eu, que se preocupa com sua sensibilidade, que se entretém em pensamentos inúteis, que se deixa dominar por seus desejos, é uma alma que dispersa suas forças e não está orientada totalmente para Deus. Sua lira não vibra uníssona e o divino Mestre, ao tocá-la, não pode extrair dela harmonias divinas. Tem ainda demasiadas tendências humanas. É uma dissonância. A alma que ainda reserva algo para si em seu reino interior, que não tem suas potencias dispostas em Deus, não pode ser um perfeito Louvor de glória. Não está capacitada para cantar eternamente o Canticum Magnum de que fala São João, porque a unidade não reina nela. Em vez de prosseguir com simplicidade seu hino de louvor através de todas as coisas, tem que reunir constantemente as cordas de seu instrumento dispersas por todas as partes. Que necessária é a bela unidade interior para a alma que quer viver na terra a vida dos Bem-aventurados, quer dizer, dos seres simples, dos espíritos! Me parece que o Divino Mestre se referia a ela quando falava a Maria Madalena do unum necessarium (Lc. 10, 41)".

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Santa Elisabete da Trindade. Últimos Ejercicios, día segundo.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

A MAÇONARIA

Leão XIII, no final de sua Encíclica [Humanum Genus, 1884], revela o modo como estas seitas clandestinas se insinuam no coração dos príncipes, ganhando sua confiança com o falso pretexto de proteger sua autoridade contra o despotismo da Igreja; na realidade, com o fim de inteirar-se de tudo, como o prova a experiência, já que depois – acrescenta o Papa – estes homens astutos lisonjeiam as massas fazendo brilhar ante seus olhos uma prosperidade da qual, segundo dizem, os Príncipes e a Igreja são os únicos e irredutíveis inimigos. Em resumo: precipitam as nações no abismo de todos os males, nas agitações da revolução e na ruína universal, de que não tiram proveito senão os mais astutos.
Este objetivo real da descristianização se mascarava antes com outro que só era aparente. A seita se apresentou ao mundo como sociedade filantrópica e filosófica. Mas, logrado alguns triunfos, arrancou a máscara. Se gloria de todas as revoluções sociais que sacudiram a Europa, e especialmente da francesa; de todas as leis contra o clero e as Ordens religiosas; da laicização das escolas; da retirada dos Crucifixos dos hospitais e dos tribunais; da lei do divórcio, e tudo quanto descristianiza a família e debilita a autoridade do pai, para substituí-la por um Governo ateu. Pratica o adágio: dividir para vencer. Separar da Igreja os reis e os Estados; debilitar os Estados, separando-os uns dos outros para melhor dominá-los com um oculto poder internacional; preparar conflitos de classe separando os proprietários dos empregados; debilitar e destruir o amor à pátria; na família separar o esposo da esposa, tornando legal e facilitando cada vez mais o divórcio; separar, por fim, os filhos de seus progenitores para fazer deles a presa das escolas chamadas neutras, na verdade ímpias, e do Estado ateu.
A Maçonaria pretende também, contribuir com o progresso da civilização rechaçando toda revelação divina, toda autoridade religiosa: os mistérios e os milagres devem ser desterrados do programa cientifico. O pecado original, os Sacramentos, a graça, a oração, os deveres para com Deus são absolutamente desprezados, assim como toda distinção entre o bem e o mal. O bem se reduz ao útil, toda obrigação moral desaparece, as penas de além terra desaparecem. A autoridade não vem de Deus, mas do povo soberano.
Reina na Maçonaria particular ódio contra Cristo.
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Reginald GARRIGOU-LAGRANGE O.P. La vida eterna y la profundidad del alma, Madrid: Ediciones Rialp, 1952.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

IDOLATRIA MODERNA

Todas as coisas criadas são intermediários, sinais, aparências. Mas algumas, dentre elas, são intermediários em segundo grau, sinais de sinais, aparências de aparências. Assim sucede com o dinheiro, as honrarias, os títulos, os prazeres artificiais, etc. E são precisamente estes fantasmas o objeto preferido da idolatria moderna, são estes bens ultra-relativos os que mais captam o nosso desejo de absoluto. Já se não adora o sol, as plantas ou os animais (que pelo menos têm o mérito de serem intermediários necessários entre o homem e o seu fim supremo), mas sim uma etiqueta política, uma condecoração, uma nota de papel.
Como o culto antigo de Cybelis, o de Cypris, ou mesmo o de Príape, que correspondiam às profundas realidades naturais, se revelam sãos e vivos em comparação com o culto actual dos mais vãos elementos da nossa existência! A idolatria moderna rege-se pela lei do menor coeficiente de realidade. E ainda quando se abate sobre coisas necessárias e naturais, as despoja da sua realidade, da sua substância, fá-las sobras e joguetes. Assim, a idolatria do amor sexual não adora, na mulher, a esposa ou a mãe tal como Deus a quis; substitui-a, segundo incida sobre o corpo ou sobre a alma, quer por um instrumento de prazer estéril, isto é, um ser degradado, quer por um produto de sonhos impossíveis, isto é, um ser imaginário. A idolatria antiga (pelo menos na sua fase inicial) elevava para Deus as coisas da natureza, enquanto que a idolatria moderna as degrada até ao nada.
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Gustave Thibon. O pão de cada dia. 
Colecção Éfeso, Lisboa: Editorial Aster.


domingo, 8 de outubro de 2017

O GORDO MAIS BRIGUENTO DO MUNDO...

Este Gordo, o mais briguento do mundo, mas briguento com amabilidade de boxeador obeso, morreu sem deixar um só inimigo. Suas investidas eram tão sinceras, humildes e caritativas, tão impregnadas de humana simpatia, que o melhor seria aceita-las e calar-se. Não há poder contra a vida. Seria, contudo, um erro ver em Chesterton um puro polemista; ele foi um catequista. Voltaire é um puro polemista, um espadachim falaz. A polêmica em Chesterton é um episódio e um pretexto.
- Quanto sabe você, Mr. Gilbert?
- Nada mais que o Catecismo, filho!
- Mas o mete em tudo, como o tomate.
- Para isso nos foi dado.
Para poder reensinar o Catecismo aos ingleses haveria de entrar em um pub, sentar-se diante de uma garrafa de gin, saber de tudo, amar a Londres, ser um pouco raro, sempre excêntrico e ao mesmo tempo moderno e triunfal.  Haveria de ter uma alegria de criança, uma saúde de touro, uma fé de irlandês, um bom senso de cockney, uma imaginação shakespeariana, um coração de Dickens e uma vontade de lutar mais formidável já vista desde que o mundo é mundo.  
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Pe. Leonardo Castellani. El buen sentido de Chesterton, extraído do livro Critica Literaria: Notas a caballo de un pais en crisis. Buenos Aires: Ediciones Dictio, pp. 151-152.

DIABÓLICA TENTAÇÃO

“A ideologia marxista não é uma teoria, nem mesmo uma verdadeira política. É uma adulação, uma tentação sedutora, porém não irresistível, que vem tirando dos trilhos os humildes, os pobres, fazendo-os esquecer que "ninguém é tão pobre, nem tão desamparado que não tenha a cada instante, o meio de fazer o bem a outra criatura sem interesse, por ela mesma, por um puro movimento de amizade" (Paul Claudel). Arranca deles sua consciência cristã que julga a riqueza como a mais pequena de todas as grandezas, para arrastá-los a uma falaz e rancorosa consciência de classe pela qual se julgam miseráveis. E essa diabólica tentação vai os despojando de todos os bens que receberam de Deus, de sua Pátria, de sua família, de seus amigos; deixando suas almas vazias de todas estas coisas preciosas que acumulavam na conformidade de sua pobreza; a humildade, a sobriedade, a paciência, a disposição para a vida esforçada e sobretudo, o temor de Deus e o amor dos seus e de sua terra. Assim é que vão ingressar na legião dos miseráveis cheios de ódio, saturados de ressentimento contra tudo o que existe e tem comando. A esta destruição interior, a esta desmobilização moral dos operários, dos camponeses, dos soldados e suboficiais, dos filhos e dos jovens estudantes, os Comunistas denominam: consciência de classe".
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Jordán Bruno Genta. Libre Examen y Comunismo. Buenos Aires: Libreria Huemul, 1960, p. 35-36.


quinta-feira, 5 de outubro de 2017

A ORAÇÃO É A RESPIRAÇÃO DA ALMA

Ora; a Igreja ora em seu sacrifício, no ofício divino, em toda sua liturgia...
Ora; a oração brota da fé, é a linguagem da esperança e a companheira da caridade...
Ora; para viver bem, a oração é a respiração da alma.
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Pe. Lucas GARCIA BORREGUERO (21/3/1911 – 27/5/1992), na homilia de encerramento da IX reunião dos amigos da “Ciudad Católica” de Espanha em 1970.

A ALMA HUMANA CARECE DE CONCRETA BELEZA

“A alma humana carece de concreta beleza mais que de pão”.
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D. H. Lawerence. No ensaio “Nottingham and the Mining Countryside”.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

A CASA...

"Só pode ser na casa. Na casa de família. Na casa que se fecha, não para isolar-se da cidade, mas para abrigar da chuva e do vento a boa sementeira da amizade... Disse que a casa é um segredo. De fato o é. Ou deve ser. Deve ser uma interioridade. Uma intimidade. Uma intimidade de afeições e uma intimidade de aflições. Um mundo de recato. Uma história escondida. Mas dentro desse segredo que abriga uma família há um outro segredo que se esconde da família. Naquela gruta de pedra há uma concha fechada e dentro dessa concha um segredo maior, escondido na intimidade e no segredo da casa. Os esposos se escondem. Escondem-se da casa, dentro da casa. Fecham-se dentro do que já é fechado. Abrigam-se no interior do que já é abrigado. E assim é que, nesse último reduto, nesse último porto, nesse abrigo, nessa concha, preparam não só o amor e a justiça, mas também o fruto dessa justiça e desse amor."
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Gustavo Corção. A casa, artigo publicado em O Globo, 03/01/1976.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

O CENTRALISMO E O MONOPÓLIO DA EDUCAÇÃO

Centralização significa a absorção de toda a atividade dos corpos intermediários e mesmo dos indivíduos pelo Estado. Esta absorção cresce desde a famosa francesada de 1789 até hoje, de modo que é possível dizer que hoje todos os Estados são tiranias. O maior ladrão de qualquer Estado é o Governo. O publicista Bertrand de Jouvenel, em seu denso tratado O Poder, compreende que essa absorção é inevitável no Estado, que o crescer é essencial ao Estado. Deveria ter acrescentado a condicionante: a menos que outro não o impeça. Com efeito, a função natural dos poderes parciais e relativos (Família, Município, Grêmio, Dinheiro, Universidade, Exército) é limitar o poder, em si açambarcador, do Poder Central.
Hoje em dia o Estado faz de tudo, menos, às vezes, o que deveria fazer. De sapateiro a construtor de casas, o Estado se mete em tudo... Você não pode publicar um livro sem ter o Fisco em cima. O Fisco sangra toda a atividade produtiva e inclusive monopoliza a maior parte das atividades produtivas.
Mas onde o Estado se mostra mais zeloso e por isso mesmo mais danoso é no Monopólio do Ensino. O Estado é o mestre de part Dieu – que digo? -, é o Mestre dos Mestres, o Mestríssimo. Direta ou indiretamente é o que transmite a - chamemo-la assim – Educação, diretamente nas escolas ‘publicas’, indiretamente nas escolas mal chamadas ‘privadas’.
Esta aberração de o “Político” se meter a reger ou a fazer o que lhe toca, sem aptidão, nós copiamos da Terceira República francesa e esta copiou de Juliano, o Apostata, com o fim de perseguir a Religião. Napoleão também o fez, mas com fim diverso. É o dogma mais acariciado do futuro Estado socialista e é o credo do Anticristo. Os pais têm o dever e o direito de educar seus filhos, a Igreja tem a missão de ensinar a religião. O Estado é político e não educador, a não ser para subjugar a educação à política, e nesse caso, à infidelidade.
“Greve dos trabalhadores da Educação”. Este enunciado grotesco é a criada respondona que se tornou como que a divisa do Estado Ensinante. Está acontecendo aqui o se passou na França, a saber: o Estado Anticlerical fundou a Escola Normal Superior, que devia forjar todos os mestres superiores, e reservou para si o poder de habilitar os mestres comuns. Queria fazer dos ensinantes os “soldados da República”, como se expressou Jules Ferry, ou seja, aqueles que inocularam nas crianças indefesas o laicismo e o anticlericalismo.
Com efeito, como resultado lógico ocorreu que os mestres se fizeram comunistas, e começaram a dar dor de cabeça à ‘República laica, una e indivisível’, com greve atrás de greve começando por pedir ‘aumentos de salário’...
Quando o dano ou o escândalo se torna intolerável, o Governo cede e aumenta os salários e os trabalhadores da Educação se reintegram ao trabalho de educar, depois de haver dado o mau exemplo de deseducar. ‘Os soldados da República’.
Aqui neste país, o monopólio da educação é responsável pela decadência da educação; e a decadência da educação é responsável, em grande parte, pela decadência da República.
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Leonardo CASTELLANI. Prólogo al libro Nociones de comunismo para católicos , de Enrique Elizalde, In. Seis Ensyos y Tres Cartas, Buenos Aires: Ediciones Dictio, Buenos Aires, 1973, p. 142-144.

A CIDADE MODERNA

Por suas características, a cidade moderna modelou uma sociedade urbana composta exclusivamente de indivíduos isolados. Os esquemas centralistas, a abolição da vida paroquial, dos bairros e vizinhanças com personalidade própria, foram suficientes para debilitar a cultura urbana, pois não há cultura baseada em indivíduos isolados. A excessiva acessibilidade, paradoxalmente, criou mais solidão. Os contatos pessoais, casuais, na rua, vão desaparecendo. O anonimato vai cobrindo áreas inteiras em razão das densidades desumanas que fazem com que ninguém se conheça entre si. Daí resulta a ausência de solidariedade e, logo, a insegurança e a ausência total de um mínimo de controle social que, antes, colaborava em grande medida com as forças da ordem e hoje delas se afasta.
É que a sociedade urbana perdeu as virtudes da comunidade; é, na realidade, o seu oposto. Trata-se de uma aglomeração que acredita na capacidade de organizar-se voluntariamente, por contratos, e que em vez de buscar fundamentos comuns se jacta de sustentar um pluralismo como fim. De onde o reflexo material – a aparência arquitetônica – seja tão deplorável, pois salvo que algum regulamento o proíba, a tendência espontânea é o destoar, o desarmonizar, criar o caos.
A comunidade era – e é em alguns contados casos infensos à voragem da macrourbanização – a associação fundada em ideais comuns, em determinadas pautas de comportamento social herdadas, não questionadas racionalistamente, onde os deveres imperavam sobre os direitos, pois ninguém se sentia como nascido fora do seio dessa comunidade.
Mas a técnica descontrolada, com sua força material avassaladora, persuadiu a muitos de que é portadora de uma nova ordem social. Pior ainda, de que essa nova ordem é diferente – se assim convém – da natureza humana e até mesmo a ela contrária. Por isso, se chega a proclamar que o homem contemporâneo deve adequar-se não tanto à outra ordem, pois esta é cambiante, senão à mudança em si, a mudar indefinidamente: acostumar-se a ser ninguém.
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Patricio H. RANDLE. Tendencia a la desconstruccion de la ciudad contemporânea, in Revista Verbo, Ns. 301-302, Madri: Speiro, p. 105-106.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

UMA CRIANÇA É UM SANTO EM FLOR

“No pensamento de Deus, uma criança é um santo em flor. Querendo ou não, sois colaboradores de Deus. Vós o fostes na obra admirável da 'criação' dos vossos filos. Deveis sê-lo também na obra de sua 'educação', que não é menos bela. Educar vem de duas palavras latinas: ex ducere, tirar de, fazer brotar de. É extrair de uma criança, tanto quanto possível, com a sua colaboração cada vez mais consciente, à medida que cresce, um homem, um cristão, um santo é, noutros termos, fazer resplandecer, com a graça do Senhor, a efígie do Cristo no seu rosto de homem”.
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Pe. G. COURTOIS. A Arte de Educar as Crianças hoje, Rio de Janeiro Agir, 1964, p. 13.

CONCEPÇÃO SACRAL DA VIDA RURAL

“A vida rural teve muito a ver com a vida religiosa dos lavradores. A Igreja cuidou que as principais festas do ano litúrgico coincidissem sempre que possível com o ciclo das estações e as fainas do campo correspondentes, realizando-se assim uma interessantíssima comunhão entre a vida espiritual e o acontecer cósmico. O sino da paróquia ou do convento conferia à existência camponesa um ritmo não só cronológico, mas também sacral. Pouco antes da aurora tocava a laudes e encerrava a jornada na hora das vésperas. Deste modo, a oração matutina e a prece vespertina marcavam o trabalho, conferindo-lhe uma significação transcendente. Os dias de festa eram numerosos, muito mais que em nosso tempo. Tanto aos domingos como nos dias festivos os camponeses assistiam à Santa Missa e com frequência aos ofícios das Horas canônicas. Participavam também das procissões, presenciavam nos átrios representações teatrais dos mistérios sagrados, ouviam sermões e homilias, aprendiam o catecismo. Tudo isso somado às visitas domiciliares dos sacerdotes, constituía uma espécie de cátedra ininterrupta para sua educação nos princípios da fé da moral. Toda a existência do camponês pulsava ao ritmo estabelecido pela Igreja. Desde o nascimento até a morte, passando pelo matrimônio e as enfermidades, os momentos fundamentais de sua vida eram sublimados pelo alento sobrenatural da liturgia”.
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Alfredo SÁENZ S.J. La Cristiandad y su Cosmovisión, P. 151-152.

AS COISAS SUPREMAS...

“...as coisas supremas florescem apenas do outro lado do túmulo. Mas elas começam aqui embaixo, e a frágil semente delas está em nossos corações, e nada floresce no Céu que não tenha antes germinado na terra”.
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Gustave THIBON. A escada de Jacob, Porto: Editorial Aster, Coleção Éfeso.

VIVEMOS FORA DE NOSSA INTERIORIDADE

“Nós vivemos fora de nossa interioridade: não interiorizamos nossa vida prática, exteriorizamos nossa consciência; não recuperamos o mundo dentro de nós, nos perdemos e dispersamos a nós mesmos no mundo. Refletimos a superfície das coisas em lugar de refletir sobre as coisas a profundidade de nosso espírito”.
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Michele Federico SCIACCA. Fenomenología del hombre contemporáneo, Buenos Aires: Asoc. Dante Alighieri, 1957, p. 10.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

JARDIM CELESTIAL

“No jardim celestial, Deus deseja não só belas rosas e orquídeas exóticas, mas também humildes violetas e pequenas margaridas. Todas estas flores contribuem para Sua glória”.
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PAUL DE JAEGHER, S. J. A Virtude do Amor, São Paulo: Flamboyant, 1962, p. 24.

A VERDADEIRA VIDA É A VIDA ETERNA

Recordemos outra vez a lição que nos dão os santos; para eles, a verdadeira vida era a vida eterna e a vida presente não era mais que uma sombra. Para eles, a vida eterna era um livro imenso, de que a presente vida era o prefácio, a introdução. Para eles a vida eterna era a pátria verdadeira, e a vida na terra, um vale de lágrimas. Alegravam-se também eles com os raios do sol;  escutavam e deliciavam-se com o trinado das avezinhas; lutavam para cumprir o seu dever. Para o cumprirem tão heroicamente como o faziam, tiravam forças do pensamento da vida eterna, tinham nostalgia do céu. A nostalgia do céu compele a praticarmos verdadeiros heroísmos. Esta nostalgia faz-nos esquecer as lágrimas e juntar as mãos na oração, para vencermos os ímpetos da cólera, perdoando aos inimigos. Só assim podemos nós sorrir no meio dos sofrimentos; sabemos que todas as nossas lágrimas caem nas mãos de Deus. Estejamos certos que, por maiores que sejam as tribulações, por mais sombrio que se nos mostre o céu, a luz da vida eterna penetra através da mais escura cerração.
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Mons. TIHAMER TOTH. Jesus Cristo Rei, Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1956, p. 67-67.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

O MUNDO MODERNO ANDA FRENÉTICO PELOS BENS MATERIAIS

Os bens espirituais, quanto mais se comunicam mais crescem; os materiais diminuem, e não há para todos. O mundo moderno anda frenético pelos bens materiais, abandonando o regulador da fé cristã, e perdeu o gosto e até o sentido dos bens e deveres espirituais. A Europa apostatou de sua missão histórica, e por isso sua casa se despedaça. Uma longa história de claudicações, que começa pelas claudicações espirituais da fé e da inteligência, preparou o gigantesco incêndio. Mas desse incêndio, o que há ainda de ouro puro sairá incólume e purificado.
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Padre Leonardo CASTELLANI. Cristo ¿vuelve o no vuelve?, Buenos Aires: Vortice, 2004, p. 222.

terça-feira, 15 de agosto de 2017

A GRANDE PENÚRIA ESPIRITUAL QUE NOS OPRIME...

A grande penúria espiritual que nos oprime é, com efeito, a carência de sacerdotes. Dar sacerdotes ao Brasil é dar injeções de vida às pobres almas brasileiras que por aí pululam ao desamparo e à mercê das investidas da heresia e da depravação. É levar o lume santo e salvador do Evangelho a esses rincões tão vazios de Deus! É abir às almas as perspectivas sublimes da vida e da luz eternas por que todas aspiram e que tantas desconhecem! É trabalhar por um Brasil melhor, porque mais orientado para a Fé que salva e para o verdadeiro Bem que redime! É, portanto, fazer obra de autêntico patriotismo, porque é integrar os nossos irmãos no patrimônio civilizador que recebemos no berço da nacionalidade e que mãos protervas e lábios satânicos contendem por arrebatar dos braços da Santa Igreja! É dar à Pátria filhos obedientes, blindados de energias indômitas para a luta em prol da causa de Deus que tantas vezes - e agora mais do que nunca - se confunde com a causa mesma da Pátria. É dar à nossa infância, a quem o Estado louvavelmente se tem incumbido de ministrar o leite das primeiras letras, o antidoto imunizante dos venenos que corroem as adolescências desarvoradas. É dar à vida o verdadeiro sentido que a dignifica, erguendo, sobre os fundamentos autenticamente humanos, o edifício cristão que os coroa e sublima, pela consciência exata e total do dever individual, doméstico e social. É preparando almas para Deus, preparar, pelo fato mesmo, filhos úteis, prestimosos e devotados para a grande Pátria que estremecemos.  
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Pe. Jorge SOARES C. M. In Revista Semana Católica, Bahia, 18-05-1942.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

PEDIR....

"Que compete às almas, diante de Deus, na terra, senão pedir? Dai-nos hoje, Senhor, o pão e o minuto bom e o espaço suficiente e o lírio do campo e a sã alegria; e, se a tristeza vier, venha com o vosso consolo, com a vossa resignação, em Cruz transformados, segundo vossa vontade".
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JORGE DE LIMA. In “A Ordem”, Vol. LXIII, Junho de 1960, n. 6, p. 3.

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

A REBELIÃO DAS MASSAS

“O complexo de ressentimento foi habilmente explorado pela propaganda socialista, que julgou, através da promessa de igualdade, poder libertar as massas, que contemplam angustiadas o contraste entre a sua miséria econômica e a riqueza dos poderosos. A igualdade, que os teóricos da Revolução Francesa põem ao lado da liberdade e da fraternidade como a trilogia do mais puro dos ideais, já hoje é fonte de ódio e de vingança. Produziu a rebelião das massas. E a rebelião das massas engendrou uma massa de rebeliões”.
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Alfredo BUZAID (1914-1991). A missão da Faculdade de Direito na conjuntura política atual (Estudo sobre os rumos da democracia no Brasil). Revista da Faculdade de Direito de São Paulo, v. 63, 1968, p. 87.

A IMAGEM DE DEUS ULTRAPASSA O MURO DO TEMPO

“O espírito humano nunca poderá penetrar a profundidade do mistério contido nessas palavras: “homem imagem de Deus”. Uma simples imagem dá a um individuo ou a um acontecimento uma duração relativa: o instante presente se perpetua no tempo, mas somente no tempo. Em troca a imagem de Deus ultrapassa o muro do tempo, fazendo-nos participes da eternidade do criador”.
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Guillermo Gueydan de Roussel. El hombre imagen de Dios, in. Filosofar Cristiano, ns. 15-18, 1984-1985, p. 226. 

quarta-feira, 5 de julho de 2017

PRETENSO HUMANISMO BIOLÓGICO

“Quais são os critérios para julgar e avaliar a ‘dignidade’ e a ‘aceitabilidade’ de uma vida? A saúde? O bem-estar social ou econômico? A aceitação pela própria família, pela sociedade ou pelo vivente mesmo? Quem decidirá a avaliação e a aplicação desses critérios? Quem tem poder para decidir a vida ou a morte? Se este “direito” ficar nas mãos do Estado, este poderá decidir sobre quem há de viver e quem não. Se considera exagerada esta possibilidade? Se dirá que é contraditório com um regime constitucional pluralista, e, portanto, inadmissível. Mas os fatos são evidentes e a proximidade de uma liberação da eutanásia assim como a da já efetuada liberação do aborto, permitem pensar que tudo pode acontecer. Estes acontecimentos nos fazem pensar no que, com razão, tão duramente se criticou e se repeliu do regime do Terceiro Reich: a seleção da raça. E se se imagina que a eliminação dos sujeitos “defeituosos” não voltará, o exemplo do aborto eugenésico dá margem para pensar o contrário. E se a esterilização é defendida aduzindo motivos de superpopulação, seria impensável o ser por motivos eugenésicos? Dai o perigo de uma “nova moral” baseada em um pretenso humanismo biológico submetido a um totalitarismo cientifico”.
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María del Carmen Fernández de la  CIGOÑA CANTERO. Bioética y tecnocracia”, Verbo, Madrid, ns. 315-316, 1993, p. 522-523.


DEGENERAÇÃO DO PODER

“NÃO EXISTE NENHUMA VONTADE individual nem coletiva, nem tampouco poder humano algum CAPAZ DE FAZER COM QUE O ATO DE MATAR OUTRA PESSOA ou a si mesma DEIXE DE SER MAL E NÃO DEVA SER EVITADO. Não existe, tampouco, qualquer poder ou vontade humana capaz de fazer, por seu simples querer e decisão, com que o ato de matar uma pessoa se transmude de mal em bom e de proibido em preceituado ou simplesmente permitido. Da mesma forma, nem a decisão de uma pessoa, nem o acordo de uma assembleia pode, pelo simples querer individual ou coletivo, anular ou transformar a bondade ou maldade objetivas dos atos, nem, por conseguinte, intervir ou modificar, de modo algum, o sentido do preceito ou proibição”.
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Ramón Maciá MANSO. “Las degeneraciones del poder frente ao aborto”, Verbo, Madri, ns. 215-1216, maio-junho de 1983, p. 524.

sábado, 10 de junho de 2017

A NOSSA TRIPLA FILIAÇÃO



“Todos nós, todos os homens, temos uma tripla filiação. Somos todos filhos de Deus: neguem ou afirmem, todos somos filhos de Deus, pois Deus existe, ainda que o rechacem. Mas também temos uma filiação histórica: somos filhos de uma terra, somos filhos de uma pátria, pertencemos a uma aldeia, a uma comarca, nascemos filiados a um território concreto e singular. E todos nós temos também uma filiação carnal: somos filhos de uma pátria pequena, de uma pátria doméstica que é a família, nossa casa. Bem dizia em Espanha José Primo de Rivera que ninguém nasce filiado a um partido político, mas todos nascem filiados a Deus, a Pátria e ao lar. Estas três filiações são irrenunciáveis, são irremovíveis. Nem Deus, nem a Pátria e nem a família são bens que se escolhem; pertencemos a eles e devemos servi-los com fidelidade inquebrantável até a morte. Desconhece-los, alterá-los, substituí-los por outros, é traição, o mais grave dos crimes”.
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Antonio CAPONNETTO. Conferência intitulada “La Educación y la Familia”.