quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

ALEGREMO-NOS

“Nosso Salvador, bem amados, hoje nasceu: alegremo-nos. Não há lugar para a tristeza quando nasce a vida; a qual, vencido o temor da morte, põe em todos a alegria da eternidade prometida. Não há ninguém que não tenha nessa alegria uma parte”. 
________________________
Sermão do Papa São Leão, extraído do livro O Anúncio feito a Maria, de Paul Claudel, traduzido e prefaciado por Dom Marcos Barbosa.

SOCIEDADE E RELIGAÇÃO

“A Cidade é como um navio de homens, a bordo do qual, esses homens enfrentam a fúria dos elementos e alcançam seu termo ou destino, mas que também podem naufragar. Quando um barco é bem pilotado e reina a bordo a ordem e a hierarquia, tudo nele, até mesmo os defeitos da tripulação, aproveita para o bem (pensemos na rudeza dos marinheiros, que pode ser necessária em momentos de perigo). Quando, em troca, a direção do navio é débil e vacilante; quando se duvida da rota empreendida ou surge o temor do motim interno, tudo nele conspira para o mal, até mesmo as virtudes dos bons, a quem o próprio pânico na defesa dos seus converte em feras. E de tal maneira a vida privada e a pública são interdependentes que a corrupção da cidade corrompe ao homem, e em tanto maior medida quanto maior é a qualidade de sua alma, porque a ‘corrupção do melhor é o pior’. Semelhante à terra de má qualidade que prejudica, antes de tudo, as boas plantas fazendo-as degenerar ou morrer ao passo que permite a vida das ervas ruins, assim a sociedade – terra do homem – acarreta com sua corrupção a degeneração moral dos melhores”.

_________________
Rafael GAMBRA. Sociedad y religación: la Ciudad como habitáculo humano. Revista Verbo, n. 91-92, p. 11.

A NAÇÃO

“A nação é o passado, o presente, e o futuro. Assemelha-se a uma árvore, que não pode dar fruto se não recebe a seiva que lhe vem das raízes. Essa seiva, no caso das nações, é a tradição, elemento por excelência caracterizador de cada uma delas. Povos sem tradição tornam-se arvores secas, figueiras estéreis. A tradição nos dá o elemento essencial de uma nação por ser esta uma comunidade de herdeiros, recebendo e devendo transmitir o legado dos antepassados. Transmitir ou entregar na expressão latina ‘tradere’. Donde tradição, uma entrega constante. Tradição não é conservação estática, mas dinamismo do movimento, do progresso, da vida. Tradição que, por isso mesmo, vem do passado e tem os olhos voltados para o futuro. E que no dizer do grande historiador chileno Jaime Eyzaguirre, ‘não é uma nostalgia, mas uma esperança’”.
____________________________
José Pedro GALVÃO DE SOUSA. O transnacionalismo hispano, uma doutrina para as américas, revista Verbo, n. 157, Madri, p. 859.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

MANHAS E ARTIMANHAS DA IMPIEDADE

“Ele (o inimigo sutil e misterioso da Igreja) se encontra em todo lugar e no meio de todos: sabe ser violento e astuto. Nestes últimos séculos cuidou de realizar a desagregação intelectual, moral, social e da unidade do organismo misterioso de Cristo. Ele quis a natureza sem a graça; a razão sem a fé; a liberdade sem a autoridade; às vezes, a autoridade sem a liberdade. É um ‘inimigo’ que se tornou cada vez mais concreto, com uma ausência de escrúpulos que todavia surpreende: Cristo sim, a Igreja não! Depois: Deus sim, Cristo não! Finalmente o gripo ímpio: Deus morreu, é até: Deus jamais existiu”


Pio XII. Alocução à União dos Homens da Ação Católica Italiana, 12/10/1952, “Discorsi e Radiomessagi", vol. XIV, p. 359.

sábado, 19 de novembro de 2016

DECORO TEATRAL DAS DEMORACIAS

“O que existe no puro decoro teatral das democracias são as minorias dirigentes que conquistam o Estado vacante e aí ocupam os postos de comando, seja diretamente, seja por pessoas interpostas. Ora, estas minorias que detêm as alavancas do Estado democrático não podem agir senão procedendo como se a democracia existisse. Elas na podem governar os cidadãos senão enganando-os e persuadindo-os de que eles detêm todos os poderes, quando na verdade eles estão privados do poder essencial de decisão e de direção detidos por eles teoricamente e que determina todos os outros. Em nenhum período da história o cidadão esteve mais desprovido de poder real do que na democracia moderna. E, entretanto, tudo se passa como se ele fosse real”.
_______________

Marcel de Corte. Comunicação apresentada ao 2. Congresso do Ofício Internacional das Obras de Formação Cívica e de Ação Cultural segundo o Direito Natural e Cristão (Lausanne, 1965).

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

COMISERAÇÃO PARA COM OS CRIMINOSOS

“(...) A subversão da ordem, ou a desordem organizada e planificada atingiu a tais extremos, que os Estados modernos, como frutos agora maduros do positivismo e do materialismo, se servem do poder da coação psíquica, não para reprimir o crime e sim para sufocar o justo impulso da natureza humana ao uso da liberdade natural. Embora tal aspecto da realidade não seja visado pela concisa explanação de Herrera Figueroa, vem espontaneamente ao espírito a observação de que, nos Estados atuais, por um lado cresce a comiseração para com o criminoso e por outro aumenta a opressão sobre os justos. Isto é o resultado ainda bem vivo das escolas materialistas do século XIX, segundo as quais o criminoso pessoalmente é um irresponsável, vítima de taras hereditárias, ou do meio, ou da conformação física. Psicólogos, criminólogos, sociólogos pouco se interessam pela vítima do crime. Mas todos, como carpideiras filantrópicas, se curvam sobre o destino do criminoso; tratam de reajustar, de readaptar, de inserir novamente o criminoso no seio da sociedade; mas pouco se interessam pela viuvez e a orfandade em que um vulgar assassino possa ter projetado uma família. Por que tanto interesse pelo criminoso e tanto desinteresse pela vítima? (...)
Se se trata de instaurar uma criminologia existencial, isto é, que traga suas forças das raízes da vida, é preciso restabelecer o conceito da pena como castigo puro e simples. A existência da liberdade implica a responsabilidade do criminoso. Penso que a criminologia abandonou já as tolices de Lombroso e as baboseiras da psico-análise que contribuíram para justificar e absolver todos os crimes. Já é hora de não pensar mais nos termos do marxismo, segundo o qual o crime tem uma explicação econômica; como se o crime fosse produto do capitalismo e como se, nalgum paraíso comunista, o crime pudesse ser abolido. Durante muito tempo se abusou do senso comum com a teoria de que a sociedade é responsável pela conduta dos criminosos; então, a vítima indefesa, o honesto pai de família, o transeunte assaltado e assassinado, são responsáveis e culpados do ato do facínora? (...)”.
_________________

Heraldo BARBUY [resenha da obra Psicología y Criminología, de Miguel Herrera Figueroa, in “Revista Brasileira de Filosofia”, vol. VII, n. 26, São Paulo, Instituto Brasileiro de Filosofia, abril-junho de 1957, pp. 260-264. Os trechos aqui citados se encontram às páginas 263 e 264].

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

ORAÇÃO DA FAMÍLIA

Por Dom Marcos Barbosa*

Bem debaixo, Senhor, da Tua asa,
Coloca a nossa casa.

Nossa mesa abençoa, e o leito, e o linho,
Guarda o nosso caminho.

Brote em torno o jardim frutos e flores,
Nossa boca, louvores.

Conserva pura a fonte de cristal,
Longe o pecado e o mal.

Repele o incêndio, a peste, a inundação,
Reine a paz e a união.

Bem haja na janela o azul do dia,
Na parede, Maria.

Encontre a noite quieta a luz acesa,
Quente sopa na mesa.

Batam à porta o pobre e o viajor,
E tu mesmo, Senhor.

Tranquilo seja o sono sob a cruz
Que a outro nos conduz.

____________


*in. Revista A Ordem, Rio de Janeiro, Vol. LIV - Dezembro de 1955 - N.6, p. 44.

LÉON BLOY FALA SOBRE A COMUNHÃO DOS SANTOS

"O menor dos nossos atos ecoa em profundidades infinitas e faz estremecer todos os vivos e todos os mortos, de modo que cada um dentre os milhões de seres humanos está, realmente, só diante de Deus. Tal é o abismo de nossas almas, tal é o seu mistério. Nossa liberdade é solidária ao equilíbrio do mundo e isto é necessário compreender para abarcar sem espanto o mistério da Reversibilidade, designação filosófica do grande dogma da Comunhão dos Santos. Todo homem que produz um ato livre, projeta a sua personalidade no infinito. Se dá de má vontade um níquel a um pobre, esse níquel fura a mão do pobre, cai, atravessa a terra, rompe os sóis, alcança o firmamento e ameaça o universo. Se comente um ato impuro, obscurece talvez milhares de corações que não conhece, que correspondem misteriosamente a ele e que têm necessidade de que esse homem seja puro, como um viajante que morre de sede tem necessidade do copo d'água de que fala o Evangelho. Um ato caridoso, um movimento de piedade verdadeira, canta em seu favor os louvores divinos, desde Adão até o fim dos séculos, cura os doentes, consola os desesperados, apazigua as tempestades, resgata os cativos, converte os infiéis, protege o gênero humano". 
______________

Citado por F. Peixoto Filho. “Léon Bloy ainda desconhecido”, in. Revista A Ordem, Rio de Janeiro, Vol. LIV - Dezembro de 1955 - N.6, p. 56.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

A NOITE COM DEUS

Jorge de Lima*

Que canseira tremenda neste fim de tarde! Nem vontade de nenhum alimento nem de nenhuma distração a não ser o desejo de ficar a noite, toda esta longa noite convosco, Cristo Rei! A noite vem e os homens vão dormir mais uma vez e as noites serão cada vez menos, até a noite da Eternidade. A caminho da morte as noites vão, vão, vão! O silencio foi feito para a noite e a vigília na noite põe o homem mais próximo de Deus. Há pássaros que vivem de noite, há frutos que amaduram de noite, há flores que só dão de noite, há cantos que só se ouvem de noite. Cristo Rei que encheis o silencio e o espaço da noite e que estais comigo em todas as horas da noite e fechais os olhos dos que vão dormir e que vão morrer durante esta noite, Cristo Rei ficai comigo dentro de minha noite. Os que vão sem destino e sem poiso na escuridão e os que vão pelos cais, pelas ruas desertas, os que caem na sombra, os doentes sem cura precisam vos encontrar nesta noite longa, Cristo Rei, precisam vos encontrar nos seus leitos de morte, nas suas vielas, nas suas quedas da noite. A noite mansa desce como uma fronte cansada. Cristo Rei amparai a minha fronte cansada dos pesadelos da vida, das angustias da hora, da inquietação dos dias dos homens! Cristo Rei iluminai a escuridão de meu espírito, enchei totalmente o espaço imenso que a iniquidade do mundo põe no cérebro de todos os seres inquietos dentro da noite longa. Não terei medo junto de meu Rei! Há lobos lá fora! Cristo Rei não me abandoneis dentro da noite longa.
___________________

*In. Revista A Ordem, n. 83, 1937, p. 88.

DEUS ESTÁ EM NÓS

Deus está em nós. O homem que procura a Deus não se sente mais isolado; o vácuo de sua vida é povoado pela presença do divino hóspede. Sofrerá aparentemente como os outros homens; porém, sabe que a "graça" indentificando-o com Cristo, há de realizar nele os mistérios do Crucificado, e vê na própria dor um elemento essencial da sua perfeição. Sofre para se parecer com Cristo. Sofre para destruir em si os laços que o prendem ainda a quem não é Deus. Caminha mais alegre; alguém o ajuda a carregar sua Cruz; tem por companheiro um amigo fiel.
E quando este homem se afastar da agitação exterior para se recolher em si mesmo, não encontrará apenas um "eu" vazio de tanto correr atrás de vulgaridades, um "blasé" feito para cousas que não consegue realizar, encontrará o mestre interior: seu Deus.
Quem medita sobre o mistério da Graça, que em nós é a participação da própria vida divina; quem reflete como a Fé e a Caridade conseguem penetrar as mais elevadas de nossas faculdades; transformar em divinas as nossas aspirações humanas; dar ideias divinas a nossa inteligência; fazer que o homem dominado pela Fé, pense naquilo mesmo em que Deus pensa, julgue as cousas como Deus as julga, veja como Deus vê; quem considera a Liturgia, os Sacramentos e sobretudo a Missa, envolvendo a alma toda e até o corpo numa atmosfera sacral, compreende que realmente é a vida que Jesus trouxe ao mundo.
Somente Cristo dá um sentido à Vida. Só Ele preenche as energias profundas de nossa alma. Só Ele povoa um coração. As almas de Fé sentem, como que experimentalmente, que sem Cristo tudo é noite, tudo é morte; que o mal pior é viver à margem do ideal e não sujeitar ao Mestre todas as fibras do seu ser.
________________________ 

Frei Sebastien TAUZIN O.P. “A alma de nosso tempo”, in. Revista A Ordem, Rio de Janeiro, n.88, Março de 1938, p. 234.

terça-feira, 13 de setembro de 2016

O REINO DA MENTIRA E DA DUPLICIDADE


A duplicidade é universal; ela nos cega, nos sufoca, nos desgarra, nos apodrece e dissolve todos os nossos pontos de apoio. Nossa época e nosso espírito, estão de tal modo gangrenados de mentira que contaminam até as instituições e os homens que desejariam ficar indenes e os leva a recorrer, na falta de coisa melhor, à mentira para lutar contra a mentira. Mentira na filosofia política que pretende sub-repticiamente substituir o espírito pela matéria, a qualidade pela quantidade, o Criador pela criatura, a razão por uma cega aritmética. Mentira da linguagem política e especialmente do calão parlamentar, tornado anfibológico e quase hermético e do qual nenhuma só palavra, notava Péguy, conservou sua significação natural. Mentira nas instituições políticas construídas “
en porte à faux” sobre fundamentos instáveis e ruinosos. Mentira em particular na Soberania do Povo, que desfigura a autoridade, de que faz uma escrava e o comando de que faz um despojo. Mentira na justiça que se torna a serva dócil da iniquidade triunfante, sem se preocupar nem mesmo com a evidência, prostituindo-se aos poderosos do dia e pretendendo impassivelmente converter a culpabilidade em inocência, a inocência em culpabilidade. Mentira na polícia que perverte a moralidade pública, que tem a missão de defender. Mentira na repressão e na vingança que se escondem sob a máscara da legalidade e na sombra dos cárceres. Mentira na interpretação do Bem Comum e do Interesse Geral, que já não são invocados senão para servir interesses de partidos, ou que se reduz a uma concepção sórdida, baixamente utilitária, que se confunde voluntariamente com o bem estar, as comodidades materiais e as satisfações dadas aos instintos gozadores das multidões. Mentira da lei, que já não é a ordem racional, imposta pelo bem de todos, mas a simples expressão, disfarçada em direito formal, da vontade do mais forte e entregue assim a uma perpétua instabilidade, a uma permanente injustiça. Mentira na liberdade, onde já não se quer ver o que ela é, isto é, uma lenta e penosa conquista e a faculdade sublime de ser causa, mas um dom gratuito e congenital e que se transforma em tributária do mal, em dissolvente da autoridade, em negação da responsabilidade. Mentira na Igualdade, em nome da qual se tende estupidamente dar a todos os homens, direitos, estatutos e satisfações uniformes. Mentira na Fraternidade, que se orgulha de tornar inútil a Caridade e nada mais faz do que renovar incessantemente o drama de Caim e Abel. Mentira na Moral, privada de sua base e de seu fim e tornada puramente fictícia. Mentira no hino universal entoado à apoteose da Pessoa Humana, cuja dignidade nunca foi tão desconhecida. Mentira na educação, que não passa d’um entulho, sem nenhuma ação formadora e deixa portanto de merecer o nome que se lhe atribui. Mentira no crédito que o Estado confunde abertamente com a espoliação e o roubo. Mentira na moeda, cujo valor real está num desequilíbrio cada vez mais completo com o valor aparente e tende irresistivelmente para o zero. Mentira, direi eu, até nas orações que certos políticos, que se pretendem religiosos, dirigem publicamente aos Céus pela salvação de um Estado que é a negação e a violação dos direitos divinos, pois, segundo a grande palavra de Bossuet, Deus se ri das suplicas que se elevam até Ele para desviar as desgraças publicas, quando não nos opomos ao que se faz para atraí-las. Mentira, para coroar o todo, no comportamento dos melhores que julgam, sob o pretexto de evitar um mal maior, dever pactuar com o falso, arvorar opiniões que não são as suas e dizer-se o que não são. Mentira, sim! Até na verdade, à qual se incorpora sistematicamente uma parte de erro, mentira no erro o qual se incorpora sistematicamente uma parte de verdade, alienando assim o espírito dos homens, de tal modo que aos olhos de grande número elas se tornam praticamente indiscerníveis, intercambiáveis. Perversão e confusão, tornadas tais que, mais cínico do que Pôncio Pilatos, um parlamentar francês, sem suscitar reprovação alguma, pode proclamar: ‘Mais vale unir-se ao erro do que dividir-se na verdade’.
 ________________________________ 

Marcel de la BIGNE DE VILLENEUVE. Satan en la Ciudad, Buenos Aires: Nuevo Orden.


terça-feira, 6 de setembro de 2016

O SÉTIMO MANDAMENTO E A CONDENAÇÃO DO COMUNISMO

“O sétimo Mandamento consagra o direito de propriedade. A propriedade privada é legitima em face da lei natural e da lei divina positiva. Por isso, neste Mandamento está condenado o comunismo como sistema econômico (além de o ser pela sua ideologia materialista), pois ele transfere a propriedade dos particulares para o Estado. Por esse motivo, os Papas Leão XIII e Pio XI, respectivamente nas Encíclicas Rerum novarum e Quadragesimo anno, fizeram ver que um católico não pode ser socialista (o que foi reiterado noutros documentos dos mesmos Pontífices)”.
______________________________

José Pedro GALVÃO DE SOUSA. Breve Catecismo Expositivo: para Conhecer e Viver as Verdades da Fé, Belo Horizonte: Edições Cristo Rei, 2013, p. 70.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

NEGAÇÃO DO PECADO ORIGINAL: DOGMA FUNDAMENTAL DA REVOLUÇÃO

“A negação do pecado original é um dos dogmas fundamentais da Revolução. Supor que o homem não tenha caído no pecado original significa negar, e nega-se efetivamente, que o homem tenha sido redimido. Supor que o homem não foi redimido significa negar, e nega-se efetivamente, o mistério da Redenção e da Encarnação, o dogma da personalidade exterior do Verbo e o próprio Verbo. Supor a integridade natural da vontade humana, de um lado, e não reconhecer, de outro, a existência de outro mal e de outro pecado além do pecado filosófico, significa negar, e nega-se efetivamente, a ação santificante de Deus sobre o homem e, com ela, o dogma da personalidade do Espírito Santo. De todas estas negações deriva a negação do dogma soberano da Santíssima Trindade, pedra angular da nossa fé e fundamento de todos os dogmas católicos”.
_______________________

Juan DONOSO CORTÉS. Lettera al cadinal Fornari, 19 de junho de 1852. Saggio sul cattolicesimo, il liberalismo e il socialismo, trad. It., Milão, 1972,  p. 51.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

CONTEMPLAÇÃO DA ESSÊNCIA DIVINA

"Em sua providente e insondável Sabedoria, o Criador nos chama à vida e nos coloca, a cada um dos homens, em um ponto determinado do espaço e do tempo; liga nossas existências com laços e vínculos de sangue, de amizade, de estudos, de militância, de religião, com os quais entrelaça nossas relações de convivência e nutre a personalidade própria de cada um. Nosso viver é, assim, conviver. E isto, que assim o é na ordem natural, acentua-se e, superlativamente, enriquece-se dentro da economia sobrenatural do Corpo Místico – a que pertencem os cristãos - que transforma aquela coexistência em autentica e indestrutível fraternidade em Cristo, Nosso Rei e Senhor, que, longe de esgotar-se neste mundo transitório, se abre à eterna contemplação da essência divina".
_______________________________

Editorial da revista Prudentia Iuris (da Faculdade de Direito e Ciências Políticas da Universidade Católica Argentina Santa Maria), 1982, n° 07, de Buenos Aires. 

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

RAINHA DOS CORAÇÕES

“Maria é a Rainha do céu e da terra, pela graça, como Jesus é o Rei por natureza e conquista. Ora, como o reino de Jesus Cristo compreende principalmente o coração ou o interior do homem, conforme a palavra: ‘O Reino de Deus está no meio de vós’ (Lc 17, 21), o reino da Santíssima Virgem está principalmente no interior do homem, isto é, em sua alma, e é principalmente nas almas que ela é mais glorificada com seu Filho, do que em todas as criaturas visíveis, e podemos chamá-la com os santos a Rainha dos corações”.
_______________________________

S. Luís Maria Grignion de Montfort. Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, Petrópolis: Vozes, 1961, p. 32.

domingo, 28 de agosto de 2016

NEM LIBERTAÇÃO POLÍTICA, NEM PROMOÇÃO SOCIAL

“A Igreja é Jesus Cristo. E Jesus Cristo não veio trazer nem a libertação política nem a promoção social. Salvando-nos do pecado e fazendo-nos participar de sua vida divina, Ele fundou ‘um reino que não é deste mundo’. Ele deu à Sua Igreja a missão de prolongar até o fim dos tempos a Sua presença e a Sua ação; não lhe confiou nenhum poder direto na ordem temporal”.
__________________

Monsenhor Puech, Bispo de Carcassonne, in. Boletim Diocesano de 3/4/1970.

PRECE

(15/11/1895 – 17/07/1918)

De S. A. I. a Gran-Duquesa Olga, assassinada em Iekaterinenbourg, a 17 de julho de 1918.  Oração escrita em Tobolsk. Transmitida pela Condessa Hendrikoff, assassinada depois pelos bolchevistas. Traduzida pelo ex-ministro russo Botkine, assassinado com o Tzar.

Inspira-nos, Senhor, paciência;
Nestes dias sombrios e atormentados,
Devemos suportar a populaça,
E as torturas de nossos algozes.

Dá-nos, Deus Justo, a força
De perdoar as infâmias,
De ir, como tu, resignados,
Para a cruz pesada e cruenta.

E, na fúria da tormenta,
Roubados, vituperados pelo inimigo,
Ajuda-nos, Jesus Salvador,
A suportar tudo: injúrias e desprezo.

Deus, Todo Poderoso do universo,
Faze com que a prece nos dê forças
E acalme a nossa alma dolorida,
Na hora da angústia e do terror.

Diante da sepultura entreaberta,
Sentindo-lhe o hálito nos lábios,
Dá-nos a força sobre-humana
De perdoar e de rogar por eles.
________________
Leon de PONCIS. As Forças Secretas da Revolução: maçonaria-judaísmo, 2. ed., Porto Alegre: Globo, 1945, p. 05.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

JESUS, FONTE VIVA DE MISERICÓRDIA.

“Deus, que com uma só palavra poderíeis salvar milhares de mundos! Um único suspiro de Cristo satisfaria a Vossa justiça, mas Vós, ó Jesus, empreendestes uma tão terrível Paixão por nós, unicamente por amor. A justiça de Vosso Pai poderia conceder o perdão com um suspiro Vosso, e todas as Vossas humilhações são apenas obra da Vossa misericórdia e amor inconcebíveis. Vós, Senhor, saindo desta Terra, quisestes ficar conosco e deixastes a Vós mesmo no Sacramento do Altar e nos abristes a porta da Vossa Misericórdia. Não existe misericórdia que possa esgotar-Vos. Chamastes a todos a esse manancial de amor, a essa fonte de compaixão de Deus. Aí está o santuário da Vossa misericórdia, aí está o remédio para as nossas fraquezas. A Vós, Fonte Viva de misericórdia, recorrem todas as almas: umas, como servos sedentos do Vosso amor; outras, para lavar a ferida dos pecados; outras ainda, cansadas da vida, para haurir forças. Quando agonizáveis na cruz, nesse momento nos concedestes a vida eterna. Permitindo que Vos abrissem o Vosso Lado Santíssimo, Vós nos abristes a fonte inesgotável da Vossa misericórdia. Vós nos destes o que tínheis de mais caro, isto é, o Sangue e a Água do Vosso Coração. Eis a onipotência da Vossa misericórdia. Dela descem todas as graças para nós”.

______________
Santa Faustina. Diário, n. 1747.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

CULTURA DA INTEMPERANÇA

“O penoso remédio de uma cultura fornicaria, do desenfreio, “akolasía” como diz Aristóteles, é a “sofrosyne”, a temperança, segundo o mesmo filósofo explicava no livro III de sua Ética a Nicômaco vários séculos antes de Cristo. Para nós, cristãos, uma espécie concretíssima da temperança, que se chama castidade, regenera a intemperança do incontinente. Aquele grande pensador observava que há algo de infantil, pela irreflexão, no desenfreio, na intemperança, e, acrescentava ainda que “se dá em nós não enquanto homens, senão enquanto animais”. O propriamente humano é que a potencia sexual e sua atuação integrem-se harmoniosamente à riqueza da personalidade, e que esse exercício se desenrole na ordem familiar. É esta a consecução da virtude”.
____________________________________________
Mons. Héctor AGUER (Arcebispo de La Plata). La fornicación, Jornal “El Día”, de 23/08/2016.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

O SURTO DA SOCIALIZAÇÃO TOTALITÁRIA

“A filosofia liberal e a do Estado totalitário são duas modalidades do imanentismo moderno no pensamento político. Aí temos, respectivamente, o imanentismo da liberdade e a divinização do Estado, concebido como um absoluto, como a encarnação da ideia ética. A liberdade, para os liberais, deixa de ser ordenada a um fim pessoal transcendente; e concretamente, na perspectiva do totalitarismo, ela resulta da total subordinação dos indivíduos e dos grupos ao Estado, isto é, ao fim imanente deste.
No primeiro caso, a dimensão social da liberdade desaparece. No segundo caso, o homem é inteiramente socializado numa completa ‘estatização’ da vida.
Uma das razões dos fracassos a que se têm exposto as democracias modernas, está em que seus regimes constitucionais, estruturados segundo os princípios do liberalismo desvinculam o homem dos grupos orgânicos, cujo fortalecimento preserva as liberdades e cujo desaparecimento ou enfraquecimento as deixam sem defesa. Em face de tais regimes de uma liberdade meramente abstrata, Hegel percebeu que nesses grupos as liberdades concretamente são asseguradas, mas, fazendo do Estado a síntese absorvente de toda a sociedade, preparou o monismo totalitário.
O liberalismo desconhece o princípio de subsidiariedade, fundado na autonomia dos grupos intermediários: em relação aos quais o Estado deve exercer uma função supletiva, para atender às suas deficiências. Por falta desse enquadramento social, abandona as liberdades individuais umas em face das outras, deixando-as, assim, desprotegidas para enfrentar a concorrência. Dessa forma, na competição da struggle for life, a liberdade dos mais fracos parece ante a dos mais fortes.
Daí facilmente se passa ao totalitarismo, pois o Estado encontra caminho preparado para exercer uma liberdade onímoda na direção da vida social, suprimindo a falta dos grupos e anulando as liberdades individuais.
Foi o cristianismo que ensinou ao mundo antigo o verdadeiro sentido da dignidade da pessoa humana e da liberdade em sua ordenação para o fim transcendente e sobrenatural do homem. Sob sua influencia floresceram as comunidades autônomas e se formaram as monarquias limitadas, anteriores à centralização do Estado moderno. O liberalismo foi a negação dessa transcendência e a perda da dimensão social da liberdade, propiciando o surto da socialização totalitária”.
_______________________________

José Pedro GALVÃO DE SOUSA. A Liberdade em sua Dimensão Social, a Proposito da Distinção entre “Liberdade Abstrata” e “Liberdades Concretas”, in Filosofar Cristiano, Asociación Católica Interamericana de Filosofía, Revista Semestral, VIII-IX, n. 15-18, 1984-1985, p. 148-149.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

VIDA INTERIOR

“O homem foi redimido por Cristo. Com suas dores e com sua morte, o Senhor pagou a Deus a dívida de nossos pecados, alcançou-nos o perdão e, incorporando-nos a Ele – o Filho de Deus – fez-nos partícipes de sua Filiação divina.
Pela fé e pelo arrependimento, e através do batismo, o homem incorpora-se a Cristo, e com a graça santificante que procede d’Ele, como Cabeça da Igreja – seu Corpo Místico – começa a viver a vida de Deus.
Essa vida de Deus, porém, é absolutamente sobrenatural. Está instaurada na vida natural de nossa alma espiritual, mas é essencialmente superior a ele. O homem não pode merecê-la, nem vivê-la, apenas com suas forças. Por penetrante e culta que seja, sua inteligência, por si mesma, não pode chegar a conhecer as verdades sobrenaturais da Revelação; e, por vigorosa que seja, sua vontade não pode atuar sobrenaturalmente. Daí necessitar não somente da graça santificante, que transforma e eleva seu espírito de modo permanente à vida de filho de Deus, como também das graças ou auxílios atuais, com que deus lhe ilumina o intelecto e lhe conforta e anima a vontade. A palavra de Cristo é terminante: “Sine me nihil potestis facere” (“Sem Mim não podereis fazer nada”).
Sem estas graças com que Deus nos conforta e sustenta na vida sobrenatural, não poderíamos permanecer nem atuar nela, precisamente porque esta vida sobrenatural está essencialmente por cima de toda natureza criada e criável. Pertence a uma ordem divina, que o homem só pode alcançar e viver com a ação de Deus em sua alma. Ação de Deus que normalmente opera através dos meios sobrenaturais estabelecidos pelo próprio Cristo.
Se todo ser natural – também o ser do agir do homem e de todas as criaturas – sob o aspecto de ser (sub ratione entis) procede sempre de Deus como Causa primeira, o homem, precisamente porque não é o ser, mas participa dele contingencialmente, com muito mais razão depende imediatamente do Ser de Deus no ser e na vida sobrenaturais, que transcendem essencialmente toda a ordem humana e criada”.
_______________________________

Mons. Octavio NICOLÁS DERISI. Vida interior: base de toda a renovação, Revista Hora Presente, Ano III, Agosto de 1971, n. 10, p. 93-94.

sábado, 20 de agosto de 2016

O VALOR DA TRADIÇÃO

“Soçobram impérios por não terem guardado as suas tradições mais caras, os seus usos e costumes, que, ao longo do tempo, se foram mudando, em acidentes, enquanto deveriam conservar-se na sua essência. (...) Na ordem espiritual, como na temporal, a tradição vivifica as instituições e lhes transmite o sopro da vida. A tradição é dinâmica, não estática. (...) Nem tudo o que passou deve ser conservado. Mas a depuração, pelo tempo, do que beneficiou o povo, os valores que se lhe acrescentaram como patrimônio moral, histórico, espiritual, literário, artístico, na mais alta expressão dos vocábulos, essa é a tradição. Por mais paradoxal que seja a aproximação, só evolui o que se sustenta sobre bases tradicionais”.
_________________________

João de SCANTIMBURGO. Eça de Queiroz e a Tradição, São Paulo: Editora Siciliano, 1995, p. 25-26.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

O INTELECTUAL DE ESQUERDA

“O intelectual de esquerda é insensível ao trágico da situação contemporânea e ao destino da civilização num mundo que prescinde de Deus e que rejeita a Igreja. A desumanização de uma sociedade dominada pelo utilitarismo aparentemente não o afeta. A ameaça do totalitarismo comunista deixa-o indiferente ‘não porque esteja de má fé, ou porque lhe falte inteligência, como diz o dr. Etienne De Greeff, mas porque não se tornou homem bastante para pressentir esse desastre”.
____________________

Alfredo LAGE. A Recusa do Ser, Rio de Janeiro: Agir Editora, 1971.

SOBRE A DEMOCRACIA...

“Uma democracia não se organiza, porque a ideia de organização em qualquer grau que seja, exclui, também em qualquer grau, a ideia de igualdade: organizar é diferenciar e é, em consequência, estabelecer graus e hierarquias” (287).

“... o termo natural de uma República democrática é o socialismo de Estado democrático, a obra fundamental da centralização e do funcionarismo”. (p. 368)
_________________

Charles MAURRAS. Encuesta sobre la monarquía, (tradução e notas de Fernando Bertrán), Madrid: Sociedad General Española de Librería, 1935.

O HOMEM MODERNO É PRISIONEIRO DO TERROR

“O mundo retrocedeu em caridade e convivência o que avançou em técnica; e o homem moderno vive tão prisioneiro do terror como o homem das cavernas. Daí que tanta gente trate de abafar o medo invisível que carregam dentro de si em um mar de diversões febris às quais chamam “cultura”; quanto mais ‘excitantes’, melhor”.
___________________________

Padre Leonardo CASTELLANI. Dinámica Social Nº 43, Marzo de 1954.
Pe. Leonardo Castellani
(Reconquista, província de Santa Fé 16/11/1899 – † Buenos Aires, 15/03/1981).

PAZ INTERIOR

“A vida cristã é um constante convite ao retorno do homem à vida interior. Somente em uma permanente busca dos valores perenes o indivíduo encontra a alegria da paz interior”.
_____________

Stan Popescu. Cultura y libertad

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

ORAÇÃO MATINAL

“Ao acordar, a vida recomeça. Tiremos ao nosso repouso alguns minutos, e não neguemos a Deus as primícias do novo dia, para não nos privarmos das graças da oração matinal. Os nossos afazeres vão colher-nos na sua engrenagem; convém por isso termos tempo para orientar o dia e consagrá-lo a Deus.
A oração da manhã é a oração de Cristo ao entrar no mundo: Eis que venho, ó Deus, para fazer a tua vontade (Hebr 10, 5-7). Também nós podemos dizer a Deus: ‘Senhor, venho receber as vossas ordens para este dia, a fim de estabelecer o vosso reinado na minha família, pelo meu carinho para com todos os meus. Fazei com que eu não me irrite com as minhas faltas de humor ou com o meu trabalho pessoal. Fazei com que o meu orgulho não me impeça de compreender as pessoas, e que não recorra à dureza quando tiver de repreender alguém.
Estou disposto a fazer a vossa vontade em todos os deveres do meu estado. Não permitais que transija com a injustiça, que ceda à mentira, que me abandone às leviandades perigosas. Desejo ouvir os meus irmãos com paciência, julgá-los sem amargura, orientá-los com serenidade, obedecer com entusiasmo, perdoar de sorriso nos lábios. Abençoai, Senhor, todos aqueles que hoje me prestarão serviços, ao mesmo tempo que me proponho servir os que tiverem necessidade de mim.
Senhor, eis-me aqui para encarnar entre os homens a verdade e a caridade do vosso Evangelho. Irei mostrar sem timidez nem ostentações, a todos aqueles que abordar, o que é um cristão. Fazei com que eu não dê a ninguém motivo de escândalo e que, pelo menos, faça alguém mais feliz”.
__________________

Georges CHEVROT. Em segredo, São Paulo: Quadrante, 1981, p. 35-36. 


terça-feira, 16 de agosto de 2016

AO HOMEM NÃO CABE SEPARAR O QUE DEUS UNIU

“O verdadeiro amor consiste no desprendimento de si mesmo e na entrega à pessoa amada, sem medir sacrifícios. O que é verdade tanto do amor conjugal como dos amores materno e paterno. Amor não se confunde com paixão animal, segundo pensam os que fazem do prazer a meta da vida.... Se o amor pode nascer da fogueira de uma paixão, ele acaba por converter-se numa comunhão de almas e de vidas, caso contrário não terá passado de expressão de um refinado egoísmo.
(...)
Sacrifício: de sacrum facere. Os sofrimentos em comum, na vida matrimonial, têm o sentido de uma oblação. O matrimônio realiza-se na sua plenitude e torna-se fonte de verdadeira felicidade quando os sacrifícios que exige são oferecidos a Deus, na comum convicção dos cônjuges de que ao homem não cabe separar o que Deus uniu”.
_______________________________

José Pedro GALVÃO DE SOUSA. O divórcio e a família do futuro. In. Hora Presente. Ano III – Maio/1971 - n. 9, p. 68-70.