terça-feira, 31 de outubro de 2017

É IMPOSSÍVEL CONSTRUIR UMA SOCIEDADE COM ELEMENTOS IGUAIS

“A essência de toda sociedade é a de agrupar seres desiguais em vista a seus fins comuns, como testemunha a mais fundamental das sociedades humanas baseada na diversidade de sexos e destinada a propagar a vida, condição indispensável para bem viver. É, pois, estritamente impossível construir uma sociedade com elementos iguais”.
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MARCEL DE CORTE. De la justice (1973).

sábado, 28 de outubro de 2017

O SENTIDO DA MORTE...

"Parece que em nossos dias se perde cada vez mais o sentido da morte... Já o advertiu Bernanos: ‘pesa sobre nós a ameaça de morrer como imbecis’. A morte imbecil a que se refere Bernanos é uma morte não humana ou carente de sentido. Quando o fato da morte se trivializa, como ocorre hoje, se esvazia também parte do sentido da vida. O sentido da morte depende do sentido da vida e vice-versa. Morre como imbecil quem vive como tal. É como a morte de um animal. Quando a vida de uma pessoa se apresenta como mera sobrevivência, a morte não interrompe nenhum projeto vital”.
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Leonardo Polo. La muerte de los imbéciles. Istmo, nº 165.   México (VIII-1986) pp. 18-19.
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A DESORDEM TOTAL...

"Uma desordem total invadiu o nosso século. A característica principal da forma moderna da desordem é a inversão dos valores do convívio humano... Na família, os filhos estão surdos para o timbre da voz paterna. Os pais estupefatos temem os filhos. Temem principalmente perdê-los. Com cabisbaixa fraqueza cedem às suas imposições, para não perderem aqueles que de há muito perderam. Congrega-os o lar apenas por laços de um certo instinto gregário e os interesses monetários dos filhos. Mas o filho já é um estranho na casa. Na escola, a professora condicionada por uma pedagogia que nega a tendência da criança para o mal (tendência que é um claro indício do pecado original) e o valor educativo das punições, docilmente cede a todos os caprichos infantis. Nos ginásios, os adolescentes agrupados na promiscuidade da co-educação, iniciam-se nas “viagens do fumo” e dos tóxicos, preparam-se para o amor nas “inocentes” práticas sexuais, sob os olhares estimulantes e compreensivos dos orientadores educacionais. Nas universidades, os representantes do mais tolo mito do século, o mito do JOVEM, elaboram os programas, impõem e depõem os mestres e dirigentes... que os orientam conforme a moral permissiva e a linha subversiva".
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Gustavo CORÇÃO. Editorial da Revista Permanência, no. 57, Julho de 1973.

sábado, 21 de outubro de 2017

O PENSAMENTO UTOPISTA

“Nos damos o direito de descrever o pensamento utopista como a crença em um início imaculado e em uma perfeição alcançável. Quando se analisa a mentalidade utopista deve-se destacar que todos os avanços que ela efetua partindo desde o hipotético, ou postulado estado de perfeição primitiva até o de perfeição restaurada, encontram-se sempre acompanhados de doses exageradas de pessimismo e de otimismo que se apresentam mescladas em proporções que nos parecem chocantes. É muito comum que uma concepção tão pessimista do universo como a que se apresenta no materialismo radical, e segundo o qual todas as coisas foram criadas ao acaso e de tal modo que o próprio ser humano não é mais que uma agregação fortuita de átomos, leva a um otimismo irracional sobre a possibilidade de estabelecer uma comunidade feliz. Na realidade, nesse caso o pessimismo e o otimismo não se contradizem mutuamente já que cada um possui seu rol delimitado: o utopista pode muito bem permanecer sendo pessimista sobre a natureza humana individual enquanto conserva seu otimismo sobre a natureza social do homem, tal como se apresenta incorporada na comunidade, e de seu poder para vencer a contumácia do indivíduo. É certo que vencer a resistência individual implica o emprego da força, mas o utopista assegura que isto se justifica quando as metas são a bondade e a perfeição. Ademais, até é admissível estabelecer um governo especial daqueles que foram eleitos como depositários da doutrina da sociedade perfeita; tais eleitos têm o direito supremo de obrigar a cada indivíduo a abandonar seu egoísmo e a adornar-se com a roupagem de candidato à perfeição.
Esta condição de candidatura pode durar indefinidamente. A noção mesmo de governo dos eleitos, quer dizer, de teocracia, implica uma ameaça perene por parte das potencias do mal não corrigido ou, no melhor dos casos, pelos vestígios persistentes daquele. Por isso a teocracia não ceder nunca, pois enquanto exista o perigo – e a simples ausência de entusiasmo pelas leis teocráticas se interpreta como sinal de perigo – as forças repressivas não devem afrouxar sua tensão. Aos que manipulam tais forças há que mostrar-lhes que seus sujeitos, os candidatos à perfeição, vivem em estado de entusiasmo permanente.
Naturalmente, dado que sempre se apresentarão coisas que façam perigar essa teocracia, os designados para administrar insistirão em demonstrações regulares e entusiastas de adesão. Por exemplo, sob os regimes comunistas não é permitido ao indivíduo permanecer simplesmente em silêncio: deve falar, escrever, aprovar e proclamar, tudo isto com um entusiasmo mais sonoro que o de seu vizinho.
Pessimismo em relação ao indivíduo, otimismo em relação à coletividade e entusiasmo exaltado.
(...)
Se afirmou que tais construções utopistas configuram um jogo realizado com elementos tirados da realidade, mas ordenados de maneira diferente.  Sem embargo, e como fez notar Raymond Ruyer em L’Utopie et les Utopies, o elemento que mais salta à vista na literatura utopista é a crítica social e política, o desgosto ante a comunidade atual, com seus regimes políticos e seus obstáculos à felicidade. Ademais, como já afirmado, estes utopistas não mostram nenhum desejo de efetuar simples reformas, pois sua crítica vai muito além de uma mera proposta de simples mudanças: com efeito, são os fundamentos mesmos do estado da humanidade o que esses pensadores quiseram demolir para em seu lugar colocar outros novos. Nesse sentido, ditos estudiosos merecem o qualificativo de ‘radicais’, já que sua reconstrução da sociedade e do homem exige uma renovação total das elucubrações acerca de Deus e da Criação.
Como pensador, o utopista é simultaneamente irracional e lógico. Uma vez edificada sua república imaginária (e algumas vezes se trata inclusive de um mundo fantástico com suas próprias leis físicas distintas das do nosso), uma vez realizado esse grande salto para dentro de um sistema distinto de ideias, procede com uma lógica estrita, sem deixar nada abandonado à própria sorte. Suas criaturas humanas se comportam ou se as faz comportar como autômatos, e a organização de suas vidas, no curso das quais executam com precisão cronométrica as tarefas assinaladas por uma autoridade central, não muda jamais. Precisamente em razão de que o pensador estabeleceu seu sistema próprio fundamental de ideias, o povo estruturado pela mente do utopista já não se encontra mais na dependência de sua natureza humana e de toda a rica gama de variações que ela pode brindar: o utopista se permitiu manejar seus dramatis personae com muito maior liberalidade que o corrente em um novelista ou em um dramaturgo. Suas criaturas, cortado o cordão umbilical que as ligava à mãe terra e à Humanidade ordinária, se convertem então em marionetes, semelhantes a esses homens sem alma que em alguns contos fantásticos se denomina como zombies, carentes de toda dimensão histórica, despojados de toda liberdade e de toda possibilidade de escolher”.
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Thomas MOLNAR. El utopismo: la herejía perene. Buenos Aires: EUDEBA, 1970, PP. 16-17.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

SIMPLICIDADE DA ALMA

“Uma alma que transige com seu eu, que se preocupa com sua sensibilidade, que se entretém em pensamentos inúteis, que se deixa dominar por seus desejos, é uma alma que dispersa suas forças e não está orientada totalmente para Deus. Sua lira não vibra uníssona e o divino Mestre, ao tocá-la, não pode extrair dela harmonias divinas. Tem ainda demasiadas tendências humanas. É uma dissonância. A alma que ainda reserva algo para si em seu reino interior, que não tem suas potencias dispostas em Deus, não pode ser um perfeito Louvor de glória. Não está capacitada para cantar eternamente o Canticum Magnum de que fala São João, porque a unidade não reina nela. Em vez de prosseguir com simplicidade seu hino de louvor através de todas as coisas, tem que reunir constantemente as cordas de seu instrumento dispersas por todas as partes. Que necessária é a bela unidade interior para a alma que quer viver na terra a vida dos Bem-aventurados, quer dizer, dos seres simples, dos espíritos! Me parece que o Divino Mestre se referia a ela quando falava a Maria Madalena do unum necessarium (Lc. 10, 41)".

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Santa Elisabete da Trindade. Últimos Ejercicios, día segundo.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

A MAÇONARIA

Leão XIII, no final de sua Encíclica [Humanum Genus, 1884], revela o modo como estas seitas clandestinas se insinuam no coração dos príncipes, ganhando sua confiança com o falso pretexto de proteger sua autoridade contra o despotismo da Igreja; na realidade, com o fim de inteirar-se de tudo, como o prova a experiência, já que depois – acrescenta o Papa – estes homens astutos lisonjeiam as massas fazendo brilhar ante seus olhos uma prosperidade da qual, segundo dizem, os Príncipes e a Igreja são os únicos e irredutíveis inimigos. Em resumo: precipitam as nações no abismo de todos os males, nas agitações da revolução e na ruína universal, de que não tiram proveito senão os mais astutos.
Este objetivo real da descristianização se mascarava antes com outro que só era aparente. A seita se apresentou ao mundo como sociedade filantrópica e filosófica. Mas, logrado alguns triunfos, arrancou a máscara. Se gloria de todas as revoluções sociais que sacudiram a Europa, e especialmente da francesa; de todas as leis contra o clero e as Ordens religiosas; da laicização das escolas; da retirada dos Crucifixos dos hospitais e dos tribunais; da lei do divórcio, e tudo quanto descristianiza a família e debilita a autoridade do pai, para substituí-la por um Governo ateu. Pratica o adágio: dividir para vencer. Separar da Igreja os reis e os Estados; debilitar os Estados, separando-os uns dos outros para melhor dominá-los com um oculto poder internacional; preparar conflitos de classe separando os proprietários dos empregados; debilitar e destruir o amor à pátria; na família separar o esposo da esposa, tornando legal e facilitando cada vez mais o divórcio; separar, por fim, os filhos de seus progenitores para fazer deles a presa das escolas chamadas neutras, na verdade ímpias, e do Estado ateu.
A Maçonaria pretende também, contribuir com o progresso da civilização rechaçando toda revelação divina, toda autoridade religiosa: os mistérios e os milagres devem ser desterrados do programa cientifico. O pecado original, os Sacramentos, a graça, a oração, os deveres para com Deus são absolutamente desprezados, assim como toda distinção entre o bem e o mal. O bem se reduz ao útil, toda obrigação moral desaparece, as penas de além terra desaparecem. A autoridade não vem de Deus, mas do povo soberano.
Reina na Maçonaria particular ódio contra Cristo.
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Reginald GARRIGOU-LAGRANGE O.P. La vida eterna y la profundidad del alma, Madrid: Ediciones Rialp, 1952.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

IDOLATRIA MODERNA

Todas as coisas criadas são intermediários, sinais, aparências. Mas algumas, dentre elas, são intermediários em segundo grau, sinais de sinais, aparências de aparências. Assim sucede com o dinheiro, as honrarias, os títulos, os prazeres artificiais, etc. E são precisamente estes fantasmas o objeto preferido da idolatria moderna, são estes bens ultra-relativos os que mais captam o nosso desejo de absoluto. Já se não adora o sol, as plantas ou os animais (que pelo menos têm o mérito de serem intermediários necessários entre o homem e o seu fim supremo), mas sim uma etiqueta política, uma condecoração, uma nota de papel.
Como o culto antigo de Cybelis, o de Cypris, ou mesmo o de Príape, que correspondiam às profundas realidades naturais, se revelam sãos e vivos em comparação com o culto actual dos mais vãos elementos da nossa existência! A idolatria moderna rege-se pela lei do menor coeficiente de realidade. E ainda quando se abate sobre coisas necessárias e naturais, as despoja da sua realidade, da sua substância, fá-las sobras e joguetes. Assim, a idolatria do amor sexual não adora, na mulher, a esposa ou a mãe tal como Deus a quis; substitui-a, segundo incida sobre o corpo ou sobre a alma, quer por um instrumento de prazer estéril, isto é, um ser degradado, quer por um produto de sonhos impossíveis, isto é, um ser imaginário. A idolatria antiga (pelo menos na sua fase inicial) elevava para Deus as coisas da natureza, enquanto que a idolatria moderna as degrada até ao nada.
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Gustave Thibon. O pão de cada dia. 
Colecção Éfeso, Lisboa: Editorial Aster.