segunda-feira, 27 de junho de 2016

A CRIANÇA TEM UMA DESTINAÇÃO ETERNA

“(...) Constantemente surgem, na vida diária, ocasiões de orientar para o sobrenatural. Os sinos tocam? É hora da missa ou de um batismo, de um casamento ou de um enterro? Oportunidades todas para comentários significativos. Um sacerdote visita a casa? Explica-se a missão desse “homem de Deus”. Há um luto na família? É o momento de se abordar a noção da vida futura. A visita aos doentes e aos pobres sugere conversas que levam ao aprendizado das obras de misericórdia.
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A oração à mesa feita pelo pai de família, a oração da noite em conjunto (...) A bondade inalterável do pai é a prefiguração do amor de Deus pelos seus filhos. O hábito de pedir desculpas pelo mal feito prepara para o arrependimento e a confissão. A intimidade das refeições é o símbolo da eucaristia.
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Os pais deveriam, por esse motivo, surgir sempre, na mente que vai amadurecendo, como símbolos dos valores mais elevados. A religião, no jovem deveria estar ligada às lembranças do respeito e do amor filiais. Com esse escudo ele resiste mais facilmente às dúvidas tão frequentes no fim da adolescência.
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A criança é mística; é um prazer para seus olhos fixar símbolos do sobrenatural como admirar as maravilhas da Criação Divina. (...) Outro meio formativo por excelência é a história. A história é a vida da criança. Todas as mães, todos os pais deveriam cultivar a arte de contar histórias e possuir um repertório rico de feitos adequados à mente infantil. As histórias mais interessantes são as da vida de Cristo, diz Gesell. O presépio de Belem, os três reis magos, os pastores, o extermínio dos inocentes, a pesca milagrosa são episódios sempre reclamados e sempre ouvidos sem fastio.
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Certa mãe ensinava aos filhos a ver nos raios e nos trovões os fogos de artifício do Pai eterno. Os meninos se alegravam com as tempestades! Também não se recusavam a entrar no quarto escuro porque lá estava o Anjo a noite toda de asas abertas, montando guarda, segundo rezavam os ensinamentos maternos. Cada anjo tinha um nome, era invocado pessoalmente, e era uma presença efetiva.
(...)
O hábito da oração deve ser adquirido cedo. Oração pessoal com o vocabulário da idade. Oração que traduz louvor, agradecimento, tristeza pelos erros cometidos. Pedido de ajuda para melhor comportamento. O incentivo espiritual para a aquisição de hábitos de sinceridade e de cooperação, de respeito à propriedade alheia, de trabalho e de serviço, de bondade e de obediência, auxilia poderosamente (...) A liturgia, sempre fascinante, pode ser explicada gradativamente.
A base da educação moral e religiosa da criança é o exemplo dos pais, a influência do “caráter sobre o caráter, da pessoa sobre a pessoa.” O conselho não tem eficácia se não for vivido. As técnicas pedagógicas, por mais perfeitas, só darão resultado se informadas de alto teor de espírito cristão e traduzidas em atos no cotidiano.
Orar juntos acentua, de maneira indireta, a maior das responsabilidades dos pais e dos filhos; a de fazer servir e amar a Deus. É fator decisivo de integração do grupo familial. Reforça a autoridade dos pais. Justifica o sacrifício. É motivação – única e eficaz – para as dramáticas sublimações que a vida moderna impõe. As festas da Igreja, o estudo dos padroeiros da família instalam tradições religiosas num plano superior às tradições familiais.
Dessa forma, ao lado do mundo das realidades humanas, vai se construindo o mundo das verdades eternas. São elas as únicas forças capazes de deter a dissolução moral que vem avançando sobre a nossa civilização materializada qual sombrio arauto da destruição. Ainda é tempo de deter o cataclisma. A recristianização da família, a orientação sobrenatural da tarefa dos educadores é a única solução para recuperar nosso mundo secularizado. Os jovens têm urgência de elaborar uma razão válida para viver. Sem um ideal superior como poderão fornecer esforço e superação, quando as tentações de prazer são tão avassaladoras? Os movimentos universais de redescoberta dos valores da vida de família são a resposta a essa exigência de recristianização. “Só há um problema”, diz Saint- Exupéry, “ é o espiritual.” Recorramos, pois, à pedagogia da consagração, ao hábito da sujeição amorosa à Vontade de Deus, para alimentar o anseio da perfeição para a qual fomos criados.”
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Maria JUNQUEIRA SCHMIDT. Educar para a responsabilidade, Rio de Janeiro: Agir Editora. (Enviado por Kathren Silveira Batista)

quarta-feira, 1 de junho de 2016

O MELHOR AMIGO

“O que faz o encanto do deserto – exclama o Pequeno Príncipe – é que ele esconde, nalgum lugar, um poço”. O deserto da cidade esconde o meu amigo e o meu amigo se esconde... E essa presença invisível faz-me lembrar a de outro, - o melhor, o maior, o mais fiel dos amigos – que em cada cidade nos aguarda.... Ele nos espera, realmente, em cada cidade.
Sem dúvida podia usar, para esperar-nos, as pessoas dos homens – pois Ele um dia se fez homem. Sem dúvida nos espera na pessoa do padre, na pessoa do pobre, na pessoa do pequenino. Mas quis esperar-nos Ele próprio, na sua própria pessoa – no pequeno pedaço de pão que uma estrela ilumina. Não podeis ver-lhe a face, não o podeis escutar – mas está realmente na penumbra, corpo, alma e divindade. Parai, entrai, colocai a seus pés o vosso tesouro. Colocai aos seus pés o vosso coração, colocai aos seus pés o vosso dia.
Se o vosso coração está ferido, o dele mais ainda – e o seu último dia na terra teve o peso de uma cruz! Não te sintas sozinho, isolado, perdido na cidade: o teu amigo nalgum lugar te espera. E a sua paciência é grande: “Eu estarei convosco, disse ele, até o fim dos séculos”.
Nenhuma cidade é para nós estranha. Em cada um – nos espera, caro ouvinte, o maior, o melhor, o mais fiel dos amigos.
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Dom Marcos BARBOSA. Um amigo me espera, A Ordem, 1953, pp. 66-67.