segunda-feira, 31 de março de 2014

INSTITUCIONALIZAÇÃO DA DESORDEM REVOLUCIONÁRIA

O que aproxima entre si, não só o comunismo e o nacional-socialismo, mas também a democracia totalitária do nosso tempo, é exatamente o caráter de guerra civil institucionalizada segunda a lúcida análise de Domenico Fisichella, que definiu o totalitarismo, enquanto sistema global, como “um regime de institucionalização da desordem revolucionária e da guerra civil”. Já se vislumbra a passagem da guerra civil “moderna”, ideologicamente motivada, para a guerra civil “pós-moderna”: uma explosão de violência sem sentido que coincide o paroxismo da anarquia e do caos. A queda do muro de Berlim e o fim do sistema bipolar podem ser vistos como a certidão de nascimento deste novo gênero de conflito, definido como “guerra molecular” pelo sociólogo alemão Hans Magnus Enzensberger. As metástases da “guerra civil molecular”, escreve Enzensberger, “são parte integrante da vida quotidiana das grandes cidades, isto não só em lima ou Janesburgo, Bombaim e Rio de Janeiro, mas também Paris e Berlim, Detroit e Birmingham, Milão e Hamburgo”. Os protagonistas não são unicamente terroristas, mafiosos, skinheads, traficantes de droga e esquadrões da morte, mas também simples cidadãos que, de repente, se transformam em delinquentes hooligan, piromanos e serial killer. Segundo Enzensberger, para além de todas as diferenças, existe um denominador comum: o culto da destruição pela destruição, devido á absoluta falta de princípios. A nova guerra civil dentro das grandes metrópoles não encontra, com efeito, qualquer justificação ideológica ou moral: é fruto do niilismo contemporâneo. Na perspectiva dos “teóricos do caos”, o fundamento e o vínculo mais profundo da sociedade não consistem no princípio aristotélico da amizade, mas no princípio hobbesiano e schimittiano da inimizade e do conflito... O niilismo pós-moderno é o fundamento desta conflitualidade permanente e a vazia de significado.

Roberto DE MATTEI. A soberania necessária: reflexões sobre e a crise do Estado moderno, Porto: livraria Civilização, 2002, pp.165-167.

domingo, 30 de março de 2014

AUTORIDADE E OBEDIÊNCIA

O exercício da autoridade deve ser santificador desde o pai de família até o governante político, porque em todos os graus, deve ser exercida segundo o Modelo de todo governante que é Cristo, Rei de Reis. Não se veja exagero em minhas palavras, porque é o mínimo que Deus pede ao sujeito da autoridade. Tampouco deixemos nos impressionar pelos muitos exemplos de corrupção e anti-testemunho dos sujeitos indignos da potestade; na verdade, a auto-suficiência mundana do governante se apropria indevidamente, usurpa e rouba a autoridade como se fosse absolutamente sua: é o pecado essencial do totalitarismo, porque se apropria da potestade divina, inverte o seu sentido e a desorienta colocando-a ao serviço de si mesmo. Pecado verdadeiramente satânico porque é imitação fiel da atitude do “deus deste mundo” que quer que toda autoridade provenha apenas do homem e, no fundo, de si mesmo. É a reiteração do pecado original, porque se o homem é como Deus (Gen., 3,5) então toda autoridade se torna definitivamente secular. Os atuais planos e realizações conducentes a uma “nova (na verdade velha) ordem do mudo”, são satânicos. Devemos proclamar e reiterar. Por outro lado, o acontecimento da morte salvadora de Cristo, livrou o homem do despotismo do pecado; por isso, assim como a autoridade temporal exercida despoticamente contra o homem oprime o retira a sua liberdade, o exercício cristão da autoridade (que implica ordem, disciplina, sacrifício) abre o âmbito da verdadeira liberdade. O exercício da autoridade (por um sujeito cristão) não só não é tolhido com a liberdade, senão que é a fonte viva e a expansão da liberdade. Quando São Paulo diz que somos “chamados a liberdade” (Gal 5, 1), é verdade que se referente à libertação do pecado por Cristo, mas esta libertação inclui a todo sujeito de autoridade, desde o pai de família até o governante, que coloca a potestade ao serviço da verdadeira libertação do homem. Do que se segue a sacralidade a necessidade de obediência. O Modelo é Cristo, o Obediente ao Pai; na verdade, a obediência de Cristo é a mesma libertação ou salvação do homem. Ele nos ensina não somente a obediência ao Pai senão que, com ela e por ela, nos ensina também a obediência à toda autoridade participada legítima: em nome de Cristo, devemos, pois, obedecer aos pais, aos mestres, ao superior, ao governante; mas também em seu Nome sabemos que, quando exercem a autoridade contra a lei de Deus, temos o dever de “obedecer a Deus antes que aos homens” (Atos 5,29), ainda que essa “desobediência” obediência implique a glória do martírio. 
Alberto CATURELLI. La autoridad y La obediencia. Revista Verbo, ns. 341-342, pp. 70-71.

APÓS OS SOFISMAS, VEM AS REVOLUÇÕES... APÓS OS SOFISTAS, OS VERDUGOS.

A diminuição da fé, que produz a diminuição da verdade, não leva consigo, forçosamente, a diminuição, mas ao extravio da inteligência humana. Por isso, todos temos visto passar diante de nossos olhos esses séculos de altíssima cultura, que tem deixado empós si um sulco, menos luminoso que inflamado, na prolongação dos tempos. Ponde, contudo, neles os vossos olhos: olhai-os bem – uma vez e outra vez – e vereis que seus resplendores são incêndios que não iluminam, mas apenas relampagueiam. Qualquer um diria que sua iluminação procede antes que das puríssimas regiões onde se engendra aquela luz aprazível, dilatada suavemente nas abobadas do céu, com soberano pincel, por um pintor soberano. E o mesmo que se diz das idades pode dizer-se dos homens: negando-lhes ou concedendo-lhes a fé, nega-lhes Deus ou lhes tira a verdade; nem lhes dá nem lhes tira a inteligência. A (inteligência) dos incrédulos pode ser altíssima, e a dos crentes humilde: a primeira, porém, não é grande senão à maneira de um abismo; ao passo que a segunda é santa, à maneira de um tabernáculo; na primeira, habita o erro, na segunda a verdade. No abismo está, com o erro, a morte; no tabernáculo, com a verdade, a vida. Por essa razão, para aquelas sociedades que abandonaram o culto austero da verdade pela idolatria do engenho, na há esperança alguma. Após os sofismas, vem as revoluções, e após os sofistas, os verdugos.

Juan DONOSO CORTES (1809-1853). Ensayo sobre el Catolicismo, el Liberalismo y el Socialismo, Livro primeiro, Cap. I, p. 03. 

ANTES CAIR NAS MÃOS DE DEUS, DO QUE NAS DOS HOMENS - E HOMENS SEM FÉ...

“Quando o rei Davi provocou a ira de Deus, com o pecado da vaidade, fazendo o recenseamento de seu povo, para medir seu poder, teve de optar por um de três castigos, que Deus, através do profeta de Gad, lhe mandou que escolhesse: “três anos de fome em teu reino; três meses de fuga diante de teu inimigo, ou três dias de epidemia em teu reino”. Davi escolheu o último – três dias de epidemia, dizendo: “lancemo-nos nas mãos de Deus, porque são grandes as suas misericórdias, antes que cair nas mãos dos homens. Mandou, pois, o Senhor uma peste a Israel, desde aquela manhã até o tempo fixado, e morreram do povo setenta mil pessoas” (II Samuel, 24-1-15). A história de sessenta anos de domínio comunista sobre a metade do mundo, subjugando vinte e uma nações, já com mais de oitenta milhões de mártires, aniquilados nas mais abjetas condições, morrendo outros, “como moscas”, nos campos de concentração, que abrigam trinta milhões de pessoas, como denunciou Victor Kravchenko, em seu livro “Escolhi a Liberdade”, ou no “Arquipélago Gulag”, descrito por Alexander Soljenítsin, que ali cumpriu pena de oito anos, ditada ao juiz pelo Partido Comunista – essa história vem demonstrar a sabedoria e a prudência de David na escolha do castigo: antes cair nas mãos de Deus, porque são grandes as suas misericórdias, do que nas dos homens – e homens sem fé...”
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Ítalo GALLI (1913-2012). Discurso de posse no Tribunal de Justiça de São Paulo. In. “Direitos da Moral”, São Paulo, 1992, p. 45.
Desembargador Ítalo GALLI (1913-2012)

sábado, 29 de março de 2014

O FILOSOFO MODERNO E A REVOLUÇÃO

A classe intelectual por inteira, tal como é hoje, serve a Revolução. As exceções são individuais.. pouco numerosa e não sujeita às etiquetas eventualmente liberais, centristas, moderadas ou contemporâneas. O que conta é o ser e não o parecer, a substância e não os acidentes visíveis; o peso real, a autêntica densidade. A filosofia de Descartes, que era homem de ordem e de razão, prepara a Revolução. A anarquia aparente de um São Francisco de Assis, a contraria radicalmente. O filosofo moderno, enquanto tal, é um malfeitor público. “O maior de todos os criminosos – dizia Chesterton – é o filosofo moderno, livre de toda lei”. Livre da lei natural, ou do Decálogo, o filosofo moderno subverte toda possibilidade de educação e destrói, em pensamento e através do pensamento, as condições da vida. Tudo isto estava relegado à teoria, à retórica, virtual, implícita, inconsciente e apenas perceptível ao gênio de um Chesterton ou de um Péguy, de um Blanc de Saint-Bonnet ou de um Claudel. O peso real, o verdadeiro alcance de um pensamento, não o compreende muitas vezes os professores que o fracionam em fórmulas feitas, em series de palavras entrelaçadas umas nas outras, em capítulos de manual: esta espécie de moeda não deixa de ser uma moeda falsa, que afasta a verdadeira, que desintegra o pensamento, que degrada as almas. Chega um dia – o nosso – em que a filosofia moderna, naturalmente, atinge o seu último estágio de amadurecimento, de apodrecimento, e em que ao fim, consciente do que trazia em si, a ouvimos anunciar claramente o que era, sem saber muito bem, desde sempre. Eis aqui o que um filósofo moderno escreveu em 1966, em um numero de revista dedicado a um tal Jean Paul Sartre: “Fazer-se ouvir não é atrair a simpatia. É semear o terror. A filosofia de amanhã será terrorista. De forma alguma filosofia do terrorismo, senão filosofia terrorista, ligada a uma prática política do terrorismo”. Essa é toda a filosofia moderna que estava ligada substancialmente a pratica do terrorismo por ela iluminado. Semelhante declaração não espantaria em nada um Charles de Koninck e tampouco espantará um Gilson. O desiderato principal e último da filosofia moderna não está em um erro da inteligência, senão em uma revolta da vontade, é um non serviam universalmente destruidor. De Descartes - que certamente teria se horrorizado -, de Descartes a Kant, de Kant a Hegel, de Hegel ao coquetel molotov, a consequência é valida. Eu não vim vos dizer: “Eu” já havia dito... Sei que não inventei nada. Venho vos dizer: tudo está em Péguy. Principalmente. E em Chesterton. E em Charles de Koninck... e em uns vinte mais.  Cem vezes anunciado, desmontado, demonstrado. Com quarenta, cinquenta, sessenta anos de antecipação. A comédia que representa a Revolução tem suas paginas escritas ponto por ponto, há muito tempo, com todas as notas explicativas de rodapé. Já é hora de finalmente compreendê-la. Já é hora.

Jean MADIRAN (1920-2013). Después de la Revolución de mayo. Revista Verbo n. 67-68. Originalmente em Itineraires n.124, 1968.

HUMANISMO DA SANTIDADE

Neste contexto se situa a atualidade de Santo Agostinho. Frente aos humanismos atual ou virtualmente ateus do presente sua lição consiste em mostrar que o único humanismo capaz de assegurar o cultivo e a promoção integrais dos homens é o ‘humanismo da santidade’. O humanismo em que o homem perdendo sua alma enquanto objeto de um amor desordenado de si mesmo, a salva no amor a Deus sobre todas as coisas, inclusive sobre si mesmo. Em uma linha de humanismo autêntico, o grande doutor da vida espiritual, São Francisco de Sales, resumiu nestas poucas linhas os perfis desse humanismo da santidade: ‘O homem é a perfeição do universo, o espirito é a perfeição do homem, o amor é a perfeição do espirito, a caridade é a perfeição do amor, e é por isso que o amor de Deus é fim, a perfeição e a excelência do universo”. 
Guido SOAJE RAMOS (1918-2005). La moral agostiniana. Ethos: Revista de Filosofía Práctica, Buenos Aires: 2011, p. 38. 

A VERDADEIRA CIDADE

“(...) a verdadeira Cidade é aquela aonde os homens tem suas casas e aonde Deus tem sua casa. Uma Cidade sem igrejas, no meio das fábricas, é uma Cidade desumana. O papel da política é assegurar uma Cidade na qual seja possível que o homem se realiza plenamente na plenitude da vida material, fraternal e espiritual”.  
Jean DANIELOU. Religión y política, Barcelona: Pomaire, 1966, p. 27.

A PERVERSÃO DA INTELIGÊNCIA

“(...) a corrupção dos costumes é um mal curável, mas a perversão da inteligência é humanamente sem remédio porque suprime a raiz de todo bem que é o conhecimento da Verdade”.
Louis JUGNET (1913-1973). Vérité et Libéralisme, citado no prefácio de seu livro “Psicoanálisis y marxismo”.

NICOLÁS GÓMEZ DÁVILA: UM AUTÊNTICO REACIONÁRIO

"Depender apenas da vontade de Deus é nossa verdadeira autonomia" (p. 113).

"Não quero serenidade estoicamente conquistada, senão serenidade cristãmente recebida" (p. 99).

“Já não existe classe alta, nem povo; há apenas plebe pobre e plebe rica" (p. 53).

"O esquerdista se imagina generoso porque suas metas são nebulosas" (p. 77).

"Todo indivíduo com ideais é um assassino potencial" (p. 321).

"Não há nada no mundo que o entusiasmo do imbecil não consiga degradar" (p. 220).

"Participar em iniciativas coletivas permite saciar a fome sentindo-se desinteressado" (p. 130).

"A presença política da multidão culmina sempre em um Apocalipse infernal" (p. 85).

"Uma multidão homogênea não exige liberdade. A sociedade hierarquizada não é meramente a única aonde o homem pode ser livre, senão também a única aonde urge sê-lo" (p. 72).

“O reacionário não é o sonhador nostálgico de passados abolidos, senão o caçador de sombras sagradas sobre doutrinas eternas” (p. 159).

"Aqueles que justificam sua abjeção pretendendo-se vítimas das circunstâncias são socialistas doutrinários. O socialismo é a filosofia da culpabilidade alheia" (p. 77).

"O político necessita convencer o povo de que todos os problemas são sociais para poder escravizá-lo" (p. 118)  
Nicolás GÓMEZ DÁVILA (1913-1994). Sucesivos escolios a un texto implícito, Madrid: 2002.



sexta-feira, 28 de março de 2014

CRISTIANISMO DEGENERADO

O cristianismo dessobrenaturalizado é o mais poderoso fator de destruição da natureza do homem e da sociedade. Conforme o célebre verso de Péguy relativo ao primado do dinheiro no mundo moderno, se pode afirmar que, em razão de um cristianismo degenerado, laico, humanizado ou hominizado, o Estado se apoderou do lugar que Deus ocupava. O gênio de Nietzsche viu com olhos de águia: “A democracia é o cristianismo naturalizado”, é a projeção na natureza social do homem de um elemento de dissociação que a destrói e que conseqüentemente destrói o próprio cristianismo. A graça, sempre pessoal, ao já não encontrar natureza humana aonde implantar-se, cai em um lugar pedregoso, conforme a parábola evangélica.
Marcel de CORTE. De La sociedad a la termitera pasando por la “disociedad”.

O HOMEM MODERNO

Dizíamos que este homem moderno desarraigado é fruto do grande processo revolucionário do mundo moderno. Não em vão aquelas duas revoluções a que acabamos de aludir [a francesa e a russa], e que tiveram a Europa por cenário, tentaram dissociá-lo de todas as suas re-ligações: de sua família, de sua profissão, de sua terra, de sua pátria, imaginando a sociedade política como um absoluto, diagramado por pensadores de gabinete, desenhado sobre uma mesa de escritório. A primeira revolução simbolizou concretamente dito projeto na famosa Lei Chapelier, que desligava o homem das corporações artesanais, para entregá-lo à segunda revolução que o obrigou a adaptar-se ao molde estatal. O homem ficou cada vez mais só e inerme ante um Estado cada vez mais onipotente, sem raízes nas famílias, nas associações intermediárias, na pátria, em Deus. 
Alfredo SÁENZ. El hombre moderno, descripción fenomenológica, Buenos Aires: Editorial Gladius, p. 08. 

DEMÊNCIA PROGRESSISTA

O progressismo, deixando a tradição, a síntese tomista, os velhos argumentos da escolástica, busca uma nova cimentação da fé religiosa, um diálogo ecumêmico, com o mundo materialista e ateu, uma transação decorosa entre a verdade e o erro, entre a religião de Cristo e seus mortais inimigos: religião na negação da religião, teísmo e espiritualismo no ateísmo e materialismo, liberdade na escravidão, paz em meio à guerra. Essa a incoexistência pacífica, religiosa, social, política, econômica e moral, que o progressismo sonha, busca e trata de realizar em sua demência. 
J. Saenz ARRIAGA. El antisemitismo y el Concilio Ecumenico, Buenos Aires: Nueva Orden, 1964, p. 52.

quinta-feira, 27 de março de 2014

A CORRUPÇÃO INSTITUCIONALIZADA

A corrupção desenfreada, despudorada, debochada não chega a inviabilizar a nação pelo que rouba, pelo que sonega, pelo que frauda, mas pela desmoralização, pela permissividade, pela impunidade e pelo clima de degradação moral e cívica que gera, contaminando o Estado e a própria sociedade. Ocasiona não mais a existência de bons empreendimentos de interesse público, mas negócios que trazem vantagens, boas comissões e benefícios para homens de governo ímprobos e funcionários públicos cínicos e petulantes. Aliás, esse comportamento também já contamina as pessoas comuns e a iniciativa privada. Há “uma cultura” da propina, favorecimento, facilidade, agrado, envolvendo sempre uma “comissão” pecuniária ou uma vantagem ilícita. A corrupção institucionalizou-se: vai desde o “flanelinha” ilegal da esquina até os mais altos executivos e governantes. Assim ela exaure o tesouro do país e dos particulares e desmantela a estrutura física e moral da sociedade e do Estado nacionais. Com isso e por isso, os desmandos somados à incompetência político-administrativa, com toda a certeza, estão a nos levar para um trágico desfecho. 
Sérgio A. AVELAR COUTINHO. Cenas da Nova Ordem Mundial, Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 2010, p. 195.


A PIOR DAS CORRUPÇÕES

A corrupção estava em todas as partes e a pior das corrupções. Porque tinha origem nas altas esferas governamentais e penetrava e se infiltrava, por assim dizer, em todas as classes sociais; esta funesta corrupção que tudo desorienta e aniquila, que lacera todos os corações, que danifica todos os caracteres, que gangrena todas as inteligências; essa corrupção funesta que deixa o homens sem nenhuma noção do justo, do honesto, do lícito e que, fazendo do interesse pessoal e do gozo material o único objetivo da vida, arrasta os povos como cadáveres ao pé de todas as ambições e de todas as tiranias.

Leandro NICÉFERO ALÉM (1842-1896)Citado na Declaração do Instituto de Filosofia Pratica (Buenos Aires), intitulada: “La Argentina em el Albañal” (04 de julho de 2011).

O PODER PÚBLICO COMO UM EMPECILHO E UM TRAMBOLHO

Nesses oásis, revivendo o tempo das bandeiras, tudo se deve à iniciativa privada. Foi o particular que desbravou a mata, que ergueu as plantações, que estendeu pela terra virgem os trilhos dos caminhos de ferro, que fundou cidades, abriu fabricas, organizou companhias e importou o conforto da vida material. O poder público, pacientemente, esperou os frutos da riqueza semeada. E logo em seguida criou o imposto, como os governadores do século XVIII e a metrópole estúpida, na loucura do ouro, criaram os quintos, os dízimos, dízimas, a capitação e a derrama. Nesse afã, porém, a administração publica faliu, não podendo acompanhar o movimento progressista, ora lento, ora impetuoso. E assoberbado, num afobamento tonto, ficou atrás: é quase um empecilho e um trambolho. No resto do país a coisa se agrava: os homens, de incapazes, tornaram-se desonestos e pela cumplicidade dos apaniguamentos eleitorais, aceitaram com pequena relutância o consórcio das funções administrativas com os interesses mercantis. A fragilidade humana fez o resto, que é a vergonha da nação. Na desordem da incompetência, do peculato, da tirania, da cobiça, perderam-se as normas mais comesinhas na direção dos negócios públicos. 
Paulo PRADO. Retrato do Brasil: ensaio sobre a tristeza brasileira, 4 ed, Rio de Janeiro: F. Briguiet & CIA, 1931, pp. 206-207.



A COISA NOSSA

“A Coisa Nossa é uma coterie, ou se se quiser, no sentido da gíria brasileira, uma patota, isto é, grupo ou bando que, até se poderia dizer, faz patotadas (...) vivem de e pelo aparelho do Estado. Não diria que são corruptos ou cínicos, quando aceitam favores deste ou daquele a quem um dia favorecerão... Eles têm esses favores que são cumulados como coisa natural: é parte inerente da função receber presentes!”

Oliveiros S. FERREIRA. A Teoria da Coisa Nossa.

O BRASIL É UMA VASTA COMILANÇA

A República, porém, trazendo tona dos poderes públicos, a bôrra do Brasil, transformou completamente os nossos costumes administrativos e todos os "arrivistas" se fizeram políticos para enriquecer... A República no Brasil é o regime da corrução. Todas as opiniões devem, por esta ou aquela paga, ser estabelecidas pelos poderosos do dia. Ninguém admite que se divirja deles e, para que não haja divergências, há a "verba secreta", os reservados deste ou daquele Ministério e os empreguinhos que os medíocres não sabem conquistar por si e com independência. A gente do Brasil, entretanto, pensa que a existência nossa deve ser a submissão aos Acácios e Pachecos, para obter ajudas de custo e sinecuras. Vem disto a nossa esterilidade mental, a nossa falta de originalidade intelectual, a pobreza da nossa paisagem moral e a desgraça que se nota no geral da nossa população. Ninguém quer discutir; ninguém quer agitar idéias; ninguém quer dar a emoção íntima que tem da vida e das coisas. Todos querem "comer"... Esse aspecto da nossa terra para quem analisa o seu estado atual, com toda a independência de espírito, nasceulhe depois da República. Foi o novo regime que lhe deu tão nojenta feição para os seus homens públicos de todos os matizes. Parecia que o Império reprimia tanta sordidez nas nossas almas.
Lima BARRETO. A política republicana. A.B.C., 19‑10‑1918. 


A VIGARICE REPUBLICANA

“Dom Pedro II que tinha por avós não sei quantos reis e imperadores, tinha três ridículas casas, no Rio de Janeiro, que eram da Coroa ou da Nação; e uma em Petrópolis, que era dele. Um nosso Presidente qualquer, bacharel qualquer ou filho de um coronel qualquer, tem quatro ou mais palácios suntuosos, recebe vencimentos anualmente quase tanto quanto a antiga dotação imperial; o Estado paga a sua famulagem, enquanto a dele, o Imperador pagava e, por muito favor, custeia unicamente o seu feijão com carne seca, prato de luxo que ele [o Estado] não dispensa porque é hoje iguaria de potestade”.

Lima BARRETO (1881-1922). citado por Francisco Alves Barbosa em “A vida de Lima Barreto”.

VIVER MAIS DE LEVE...


O mundo se perderá se os homens quiserem avidamente salvá-lo e se deixarem prender no visgo temporal; o mundo se salvará na medida em que os homens aprenderem a viver mais de leve, vivendo como quem não faz muito empenho, possuindo como se nada tivessem. 
Gustavo CORÇÃO. O padre e a menina, 01/08/1968, “A Tempo e Contratempo”.


quarta-feira, 26 de março de 2014

O AMOR QUE NÃO SE ELEVA, MORRE.

O amor que não se eleva, morre. As alegrias e os êxtases, a não ser que rejuvenescidas pelo sacrifício, transformam-se em simples amizades. A mediocridade é o castigo de todos aqueles que se recusam a juntar ao seu amor o sacrifício, preparando-o assim para horizontes mais amplos, para cumes mais elevados. 
Fulton J. SHEEN. O Primeiro Amor do Mundo, p. 205.

HÁ VITÓRIAS QUE SÃO COMEÇOS DE MAIORES DERROTAS

“Há vitórias que são começos de maiores derrotas! Basta atentar-se que a França consentiu, incautamente, que sua população global de 1935/38 desmoronasse de quase três pessoas por hora. Desnatalidade – é o abismo social das nações. Precisamos combater, cerradamente, na escola, no lar, na sociedade, este preconceito errôneo e funesto de que viver é gozar. Acima do prazer, está o código dever; acima do gozo, está a dignidade da honra; acima das sensações prazerosas, estão os imperativos da consciência reta; fora do hedonismo, estão o dever conjugal, o direito dos filhos, o interesse nacional. Lutemos contra mais este entorpecente social, que é o inimigo da família e da pátria”.

Marechal PETAIN, citado por Frei Mansueto em sua obra Pio XII, Petrópolis: vozes, p. 245.


O HOMEM CONTRA O REAL

“O homem de hoje trabalha sobre números, sobre esquemas e planos abstratos muito mais que sobre a realidade existente e diferenciada. Em nome de teorias igualitárias ou de uniformismos legais, o homem atual esqueceu ou destruiu realidades e ambientes milenares; devastou diferenças, hierárquias e costumes que constituiam o âmbito da vida e da autentica liberdade dos povos. Exemplos destes conceitos hoje todo poderosos e de validade universal são a Democracia, a igualidade, a Evolução, o Progresso, o Aggionarmento, o Humanismo. E como anti-conceitos absolutos a resistência, as classes, as diferenças, a discriminação, o paternalismo, a aristocracia”.
Rafael GAMBRA CIUDAD. Método racional, Verbo (Madri), número 53 (1967), pp. 223-226.

O SILÊNCIO DE DEUS

Em um século em que reina o conformismo do absurdo e da desordem, em que o ídolo da revolução permanente se converteu no centro de atração para os rebanhos de escravos teledirigidos, não há nada mais novo nem mais insólito que pregar o retorno às fontes e defender a natureza e a tradição. “Nunca como hoje o gênio de uma época se aplicou à destruição minuciosa de sua própria Cidade humana (de seus valores e de seu sentido) até o extremo paradoxo de que o conformismo ambiental se expressa hoje pela atividade revolucionária, e que a posição insustentável, heroica, chegou a ser a conservação e a fidelidade” (cfr. Cap. I, p. 25). A “Cidade dos homens” que defende Rafael GAMBRA era constituída por um conjunto de laços vivos e vividos que, através dos diferentes níveis da criação, mantinham o homem unido à sua origem e o orientava para seu fim. A casa, a pátria, o templo, o protegiam contra o isolamento no espaço; os costumes, os ritos, as tradições, ao fazer gravitar as horas em torno de um eixo imóvel, o elevavam acima do poder destrutor do tempo. Hoje presenciamos a agonia desta “Cidade dos homens”. O liberalismo, ao isolar os indivíduos, e o estatismo, ao reagrupá-los em vastos conjuntos artificiais e anônimos, transformaram a sociedade em um imenso deserto aonde as areias sem rumo são arrebatadas nos torvelinhos do vento da história. E o homem, vítima deste fenômeno de erosão, já não tem morada no espaço (se encontra, ao mesmo tempo, na prisão e no deserto), nem ponto de referência em um tempo pelo que corre cada vez mais depressa sem saber para aonde vai. As Cidades de outrora, ao enlaçar o homem com as realidades visíveis e invisíveis, o ajudavam a elevar-se sobre si mesmo. Hoje em dia, o ideal que lhe é proposto não é vertical, senão horizontal: está na corrida mesmo, na “fuga para frente”, e não no crescimento espiritual. Em lugar de tentar produzir um arquétipo eterno, o homem deve se deixar arrastar por um movimento perpétuo e sempre acelerado. (...) As antigas formas da sociedade, ao impregnar de sagrado quase todas as manifestações da vida temporal, penetravam o eterno no tempo e Deus se fazia presente na história. Mas esta aliança do social e do divino desmorona quando o homem não reconhece outro deus que ele mesmo, nem outra pátria que o mundo temporal transformado e desfigurado por suas mãos. E se aproxima a grandes passos a hora em que a idolatria do porvir lhe ocultará a eternidade.Esta será, sem dúvida, para os últimos fieis, a suprema prova da fé. A pureza, o heroísmo dessa fé serão medidas pela resistência do pneuma divino, interior e livre (spiritus fiat ubi vult) em relação ao vento servil da história. Ante o silêncio de Deus, os crentes de amanhã terão talvez que escolher entre a realidade invisível de uma eternidade em aparência sem provir e a miragem brilhante de um porvir sem eternidade. BÉRULLE definia o homem como “um nada capaz de Deus”. Mas eis que esse homem se transforma cada vez mais em um falso deus, incapaz do Deus verdadeiro. Chegaremos até o termo desta subversão e haverá que desaparecer da Cidade dos homens? Rafael GAMBRA se compraz em repetir as palavras demasiado lucidas de TAINE: “nenhum homem sensato pode já esperar”. Mas não esqueçamos (cito novamente Françoise CHAUVIN) que a “lucidez é a pior das cegueiras se não vê nada mais além daquilo que se vê”. O cristão, imitando o apóstolo São Paulo, está obrigado a esperar contra toda esperança (contra spem in spe), porque Cristo venceu o mundo e está vitória abarca a totalidade do tempo e do espaço. E, por incertas que sejam as probabilidades de êxito, nossa missão aqui embaixo consiste em restaurar pacientemente, em nós e em nosso redor, as condições para uma restauração da Cidade dos homens; quer dizer, em preparar um porvir à eternidade.Com este chamado termina este belo livro. Nosso desejo mais fervoroso é que seja escutado, no segredo das almas, como um eco do silêncio de Deus. 
Gustave THIBON. Prólogo do livro "El silencio de Dios" (Ciudadela, 2007), do ilustre pensador espanhol Rafael GAMBRA CIUDAD  (julho de 1920 – janeiro de 2004).


AS GRANDES OBRAS DE ARTE

“As grandes obras de arte nos proporciona o chamado deleite estético que pode chegar a uma espécie de êxtase; então nos dá um vislumbre ou uma nostalgia da outra vida, nos diz Baudelaire, o maior poeta francês. Mas pouco disso há aqui, porque a educação pública que nos é dada não cria em nós a faculdade de perceber a beleza artística, mas sim ao contrário, a destrói; e por isso somos o país do tango”.
Padre Leonardo CASTELLANI. “Domingueras prédicas”.

A DESPOETIZAÇÃO DA VIDA E DO MUNDO

 “O processo lento de afastamento de Deus que vem de séculos atrás, se faz vertiginoso no curso deste século... Mas não creio que se tenha falado... sobre este processo de dessacralização da vida e do mundo, de um processo que chamaria de despoetização da vida e do mundo, um processo de prosificação universal. Séculos atrás a vida podia ser mais rude, menos confortável, mas acaso era mais poética, ou ao mesmo tempo mais mística e mais poética. A relação do homem com a terra, com a natureza, com a história, com universo era sentida não só como misteriosa, senão como poética, quer dizer, criadora, sensivelmente atrativa”. 

Adolfo de OBIETA (1912-2002). Despoetización del Mundo.

O DIREITO COMO PRIVILÉGIO

“Se se admite que os conceitos de princípio de autoridade e autonomia individual se opõem e excluem, e que qualquer lei moral e princípio são limitativos ou negativos da liberdade e toda recompensa honestamente obtida, assim como também a inteligência, geram discriminações intoleráveis e devem ser perseguidas como inimigos públicos; se se aceita o igualitarismo absoluto, resulta que todos têm direito à tudo sem a obrigação de prestar contas a quem quer que seja do exercício de tais possíveis e impossíveis direitos. Resulta, do mesmo modo, que já não existe nada a que – ainda que violentamente – não se possa aspirar a ter direito. Se reclama, sobretudo, o direito de ter direitos, cada vez mais direitos, frente ao dever de ser o mais reto possível”. 
Michele Federico SCIACCA (1908-1975). El derecho como privilegio: igualitarismo y sociedade injusta. Revista Verbo, n. 134-136, 1975, p. 617. Último artigo do professor M. Federico Sciacca, publicado originalmente no jornal La Nación, de Buenos Aires, em fevereiro de 1975.

O HUMANISMO E A FALSA NOÇÃO DE DIREITOS DO HOMEM

“É o humanismo o responsável pela nossa falsa noção sobre os direitos do homem, desses direitos do homem que, na verdade, medimos mal. Eu respeito, de minha parte, espiritualmente, a dignidade infinita da pessoa humana e de cada indivíduo igualmente. Mas quando se trata de deduzir dali direitos fantásticos da pessoa humana – seja como na época liberal, direito ilimitado de propriedade, seja como hoje direitos utópicos de cada um à cultura, à saúde e ao conforto -, tudo o que se tem chamado de direitos subjetivos do homem, então isso me parece que é extrapolar e que é transportar para o direito uma linguagem que lhe é impropria. Cada de um de nós não tem direito – em sentido estrito – senão a partes de bens estritamente limitados” 
Michel VILLEY (1914-1988). Los Fundadores de la Escuela Moderna del Derecho Natural; Buenos Aires; Ediciones Ghersi; colección “Pequeña Biblioteca del Filosofía del Derecho”.

LIBERDADE NEGATIVA E ANARQUIA

"Não é suficiente o reconhecimento universal da subjetividade jurídica se não se sabe o que ou quem é o homem, e pior ainda, se se afirma que sua natureza é unicamente a liberdade do querer, deveria-se concluir (contraditoriamente) que a anarquia é um direito” 
Danilo CASTELLANO. Racionalismo y derechos humanos. Marcial Pons, 2004.

A NECESSIDADE DA ORDEM JURÍDICA

"Sem a ordem jurídica não é possível instaurar a Sociedade, e sem esta é impossível constituir o Bem Comum, e sem este, por sua vez, o Homem carece das condições normais para o seu cabal e hierárquico desenvolvimento e a conseguinte consecução de seu Fim ou Bem divino no tempo e na eternidade". 
Octavio NICOLÁS DERISI (1907-2002). Los fundamentos morales del Derecho e del Estado. In. Primeiras Jornadas Brasileiras de Direito Natural, São Paulo: Saraiva, 1980, p. 70.

O HOMEM É CAPAZ DE CONHECER AS VERDADES MORAIS E JURÍDICAS

“Se o homem fosse radicalmente incapaz de conhecer as verdades morais e jurídicas, para que perderíamos nosso tempo explicando isso que chamamos dever, direito, virtude, sacrifício, fim, autoridade etc.?”
José CORTS GRAU (1905-1995). Filosofia del Derecho, Madrid: ed. Nacional, 1948, p. 22-23.



terça-feira, 25 de março de 2014

UMA ÉPOCA DE DESFUNDAMENTAÇÃO

“A época contemporânea é uma época de desfundamentação. Isso se deve ‘à perda da realidade’. É uma época amorfa, incapaz de produzir um estilo e um tipo humano característicos. É também uma época ocasionalista caracterizada por produzir toda espécie de substituições inspiradas na boa nova da religião secular da modernidade herdada do humanismo. A substituição principal, que abre a porta para todas as demais, é a do princípio de transcendência pelo de imanência. Isto desfundamenta a anterior visão da realidade sem, no entanto, ter sido capaz de estabelecer uma nova fundamentação. Dai que seja também uma época niilista. O impulso veio, efetivamente, do humanismo, cuja fé na capacidade de conhecer e de fazer do homem, suscitou a esperança em conseguir, por fim, o estabelecimento da Cidade Perfeita. Seria uma Cidade do Homem constituída por homens novos nos quais a virtude da solidariedade, virtude do homem exterior, substitui a caridade, virtude do homem interior. Esta religião veio à luz na Revolução francesa, competindo desde então com o cristianismo: a fé no homem substitui a fé em Deus, a fé no homem novo substitui a fé em Cristo, e o Reino do Homem substitui o Reino de Deus. A moral desta religião do homem emancipado é o humanismo e sua igreja o Estado-Nação, um Estado Moral. Dizia Heinrich Heine: ‘wir wollen hier auf Erden schon das Himmelreich errichten’ (queremos alcançar já aqui na terra o Reino do Céu). Após a revolução, o humano é, miméticamente, o deus do homem (Feuerbach). O humano se diviniza como Eu romântico, sendo a humanidade o demiurgo revolucionário (C. Schmitt). Por trás disso está o mito do nostálgico estado de natureza rousseuniano”.


Dalmacio NEGRO PAVÓN. Política y facciones: la guerra de todos contra todos. Revista Verbo.


LIBERALISMO JURÍDICO-MORAL

“... consequência deste liberalismo jurídico-moral será o desconhecimento e abandono de preceitos fundamentais do Direito natural e a teoria que diz que muitas de suas normas [de Direito natural] são modificáveis e sujeitas à mudança conforme o tempo e as culturas, dado o positivismo jurídico que revestem seus teóricos, hostis à doutrina do Direito natural. Os Estados Modernos e seus governos, imbuídos desse amplo liberalismo, embora sem fazer maior alarde de sectarismo, apresentam em suas constituições (como a da Espanha) a soberania nacional como fonte primeira de todo o ordenamento legal e de seus direitos, sem reconhecimento algo do Criador e de sua lei imutável, de modo que facilmente admitem nelas violações flagrantes do Direito e da Lei moral (divorcio, aborto, contraceptivos, achincalhamento blasfemo do sagrado), como conquista da cultura moderna”.
 

Teófilo URDÁNOZ O.P. Contenido ideológico Del liberalismo. Revista Verbo, ns. 241-242, p. 214.

DO HUMANISMO AO BESTIALISMO

Um direito que não é estimulado e penetrado, ‘animado’ pelo direito natural, ou é ‘direito morto’ ou é ‘lei bestial’. Este direito bestial se baseia em um humanismo segundo o qual o homem não depende de Deus, senão da sociedade, sendo puramente membro de um rebanho. Mas de um tal humanismo para o bestialismo é um passo.


Frederick Daniel WILHELMSEN. El Derecho Natural em el mundo anglo-sajón del siglo XX, conferência proferida nas “Primeiras Jornadas Hispânicas de Direito Natural” e inserida nas Actas (El Derecho Natural hispánico, pp. 224-225).

SEM DIREITO NATURAL NÃO HÁ ESTADO DE DIREITO

Só os que conosco afirmam o direito natural clássico – fundado na experiência e no multissecular realismo metafísico, epistemológico e ético oriundo dos gregos e romanos, aprimorado na escolástica medieval, preservado pela escola espanhola do ‘século de ouro’ contra os erros protestantes e racionalistas – cuja permanente vigência e atualidade se patenteiam a cada época, a cada instante, a cada momento angustioso da vida dos povos; só os que o querem expurgado dos vícios modernos, das deturpações racionalistas e voluntaristas; só os que o sustentam em face das contestações e incongruências do positivismo jurídico; só os que nele fundamentam os direitos humanos, essencialmente vinculados aos deveres do homem, no seu caminhar pela vida qual peregrino em demanda da Eternidade; só os que preconizam o direito natural inserido na vivencia concreto do direito histórico de cada povo; só os que assim desfraldam a bandeira do direito natural, que é lábaro de justiça e pendão de verdade jurídica, só estes, e ninguém mais, podem legitimamente reivindicar o Estado de direito.

José Pedro GALVÃO DE SOUSA. Estado de Direito e Direito Natural. Primeiras Jornadas Brasileiras de Direito Natural, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1980, p. 35.