Artigo “¡Reconquistar! ¿Cómo?”, do R.P. Xavier BEAUVAIS, divulgado na
Revista Iesus Christus nº 78 do Distrito da América do Sul da
Fraternidade Sacerdotal São Pio X [e publicado no Brasil pelo MJCB – Movimento
da Juventude Católica do Brasil].
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Porque “o zelo para a reconquista é primeiro uma
obra sobrenatural, temos que apoiar-nos primeiro sobre os meios sobrenaturais” (1),
estes mesmos que forjam toda vida cristã, vida que não é outra que uma ascensão
permanente e ininterrupta à santidade, pois o essencial é a visão de Deus, o
desenvolvimento pleno da graça santificante.
A reconquista
passa então pelos meios ordinários dispostos pela Providência, principalmente a
vida sacramental.
A
reconquista passa pela prática dos
mandamentos de Deus: ou seja, “ver
tudo e fazer tudo sob esse ângulo, sob o ângulo das virtudes, o que nos trará
um impulso novo, uma perfeição nova: a virtude de justiça para Deus, pelo
serviço de Deus e da Igreja, pela adoração, o sacrifício; na temperança, a
humildade, a fortaleza, tudo isto coroado pelas virtudes teologais” (2).
Se queremos
reconstruir a cristandade, devemos absolutamente voltar a encontrar esse
fervor, essa santidade que foi a origem de dita cristandade.
A Cristandade é
merecida quando os cristãos combatem. Levemos então esta vida cristã profunda
com tudo o que isso implica – de orações,
de virtudes e de sacrifícios – para permanecer fiéis.
A crise da Igreja
não admite outro remédio que a santidade dos fiéis. Temos que fazer de nossos
corações templos sustentados por quatro colunas: a fé, os sacramentos, a oração, os mandamentos. Templos onde deve
reinar a Virgem Maria.
Nosso combate pede
todas as forças sobrenaturais que são necessárias para lutar contra aquele que
quer destruir-nos.
Devemos ser
conscientes deste combate dramático, apocalíptico, no qual vivemos, e não
minimizá-lo.
“O que é um tradicionalista?”, perguntava Dom Lefebvre em um sermão que
pronunciou em São Nicolas do Chardonnet, em Paris, no ano de 1987:
“É aquele que crê, que tem a fé e que quer que esta
fé seja íntegra. Também é aquele que se esforça com todo o seu coração, com
toda a sua alma, por observar a Lei de Deus e os preceitos do Evangelho para
ser conformes à vontade de Deus”.
“Se esforça então por evitar o pecado, que
considera como o mal de sua alma. Mas sabe que é débil, que tem necessidade de
todos os socorros que o Bom Deus transmitiu por intermédio de sua Igreja: os
sacramentos, e em particular o Santo Sacrifício da Missa e a devoção à
Santíssima Virgem”.
“Mudar os homens seria uma obra muito decepcionante
se não fosse acompanhada primeiro com um trabalho essencial no fundo de nossas
almas”(3). O essencial de nossa vida
cristã permanecerá sempre no amor de Deus, e esse amor deve ser tudo para nosso
coração, será a luz de nossa inteligência.
Trata-se de amar a
Deus acima de tudo, simplesmente, e este amor é terrivelmente exigente.
Quando se descuida
da verdade evangélica, quando se abandona a virtude e a vida cristã à qual o
Divino Redentor chama todos os homens; então, tudo cai por terra, tudo vacila,
e cedo ou tarde tudo perece miseravelmente.
O batismo nos
alistou em uma milícia: a milícia de Jesus Cristo.
A crisma nos
deu as armas necessárias para o combate.
A confissão reparará
nossas almas ao mesmo tempo que nos dará ”fortaleza e vigilância para
discernir as tentações e combatê-las”(4).
Reconquistar
nossas almas pela confissão!
“Os pecados que
chamamos leves, não os tenha por inofensivos, diz Santo Agostinho; se os
tem por inofensivos quando os pesa, treme quando os conta. Qual é nossa
esperança? Primeiro a confissão, depois, a dileção”.
Uma boa confissão
é uma vida nova que começa.
Confessar-se é
esvaziar seu coração de todo outro amor que não seja o de Deus.
Tenham em suas
consciências a inquietude de Deus. Vejam esses corações, sujos com torpezas,
atos sórdidos, faltas leprosas que deixam boiar no olhar luzes que não enganam.
As quedas finais,
as que liquidaram tudo: a decência, o pudor, o respeito por si mesmo, por seu
corpo, por sua palavra, e Deus com todo o resto, não são mais que o resultado
de centenas de pequenas renúncias prévias.
“Carregados com paixões, com debilidades e com
faltas, um se cansa, outro cede, e se diz que não chegará nunca a tirar de cima
esse odor de barro e de pecado que nos acompanha”(5).
Como? Não
renunciaremos! Que maior misericórdia que o sacramento da penitência!
“Em cada queda nos
levantaremos”, e de joelhos, diante de Jesus Cristo na pessoa do sacerdote,
nosso pai, confessaremos humildemente nossas faltas, ”decididos” com
a força desse sacramento ”a ser tão mais vigilantes quanto mais débeis nos
sintamos”(6).
A comunhão nos
fará avançar porque fortalece. Se não são fortes, de quem é a culpa? Os
senhores dispõem de toda a força que da tal sacramento já que lhes da Aquele
mesmo que é a Fortaleza.
O grande meio de
entrar no caminho da perfeição, da santidade é entregar-se a Deus.
Nosso Senhor anda
conosco, nos nutre desse sacramento graças ao sacerdotes da Fraternidade São
Pio X e os poucos outros, fiéis à Tradição, conservando e aumentando em nós a
vida da graça, pois toda alma cristã deve crescer.
Esta santidade
extrai-se de sua fonte, da Missa católica, a Missa tridentina, pois somente ela
é certamente missionária, apostólica, tão somente ela contém tudo o que pode
fazer voltar Deus às almas, e ninguém estranhará ao ver florescer esplêndidas
vocações sacerdotais e religiosas nos lares ardentes onde o pai e a mãe acodem
a extrair da Missa e da comunhão diária ou quase diária as forças necessárias
para renovar seu fervor e sua generosidade.
É dessa Missa que
extrairão as graças de fidelidade, de conversão e de salvação. Tenham fé nas
graças da Missa. Que espetáculo miserável se dá na maioria de nossos Priorados
ao ver a Missa diária inclusive às vezes sem nenhum fiel.
Que a oração tenha
seu lugar capital na reconquista. Antes da ação, a oração; durante a ação, a
oração, e depois da ação também a oração, pois nossa ação deve proceder de um
coração transformado no coração de Jesus Cristo e de Maria. É inútil sonhar com
uma elite sem a oração. Toda ação, ainda que política, deve ser o fruto de
nossa vida interior; senão, está destinada ao fracasso, tal como comprovamos na
política há séculos.
Armemo-nos de
nosso terço como de um estilingue, assim como recomendava São Luís Maria a seus
missionários:
“arderemos como fogos
lutaremos como cachorros.
Esclareceremos as trevas como verdadeiros sóis,
esmagaremos em todo lugar onde formos
a cabeça da serpente”.
Mais uma vez, não
se formam elites sem a oração; dela extraímos nossa convicção de católicos.
Aqueles que
conheceram a guerra – dizia Dom Lefebvre – recordar-se-ão de que a gente se
punha a rezar quando as bombas começavam a cair. Neste momento, hoje, caem
outras bombas, e quantos dos nossos vacilam e morrem sob estas bombas!
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Como reconquistar?
Pela defesa da Verdade
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Isto é ser
confessor da fé. É impossível calar-nos, debilitar a Lei de Deus para adaptá-la
ao gosto das vontades humanas.
Se queremos
defender a verdade, comecemos por localizar-nos na verdade e na humildade.
Um católico
orgulhoso de sua fé não pode aceitar a condição de cachorro mudo, pois um
cachorro que não late perdeu sua função própria.
Como afirmava
Gustavo Corção, “saibamos latir e
saibamos também morder. Tenhamos esse bom olfato para sentir de longe o lobo e
o leão que rodeiam o seio da Igreja, buscando a quem devorar.
“Tratemos de farejar de longe o mal hálito dos
mercenários que dialogam com o lobo, enquanto este devora tranquilamente as
ovelhas.
“Tenhamos o mesmo bom ouvido do cachorro do
gramofone, cuja alegria reside no reconhecimento da voz de seu mestre”.
Aos verdadeiros
cristãos, aos filhos da luz lhes corresponde reagir contra o liberalismo,
submetendo à verdade a inteligência e todos os atos de nossa vida privada e
pública.
Mas se guardamos a
Verdade, se rejeitamos as ideologias modernas, é para mantermo-nos em uma
passividade farisaica?
As almas morrem de
fome e de sede. Cabe a nós fazê-las conhecer a Verdade religiosa que por si só
pode satisfazer as almas, mas primeiro devemos conhecê-la nós mesmos.
Na Tradição
Católica há uma só doutrina, um pensamento capaz de esclarecer todos os campos
da inteligência e do pensamento, capaz de dar-lhes a verdadeira liberdade aos
homens, a da vida interior.
Convém que
formemo-nos urgentemente na doutrina contra-revolucionária ao invés de
resmungar esterilmente contra um mundo que já não anda mais.
Mais uma vez, são
sejamos cachorros mudos.
Atrever-se a
proclamar a Verdade, atrever-se a proclamar o reinado social de Nosso Senhor
Jesus Cristo, isto soa mal diante dos ouvidos do mundo laico, do mundo
eclesiástico de hoje. Não é, como se diz: “politicamente
correto”; vamos passar por atrasados, surdos, sujos… o que nos importa?
Temos que ganhar
os corações por meio da chama da caridade, sim, mas sem esquecermos de esclarecer
as inteligências com a luz da verdade.
Há que dizer a
verdade com amor, tal como nos é dita. Sim, mas falar com amor não quer dizer
falar sem força. O Amor é uma força diante da qual nenhuma força pode resistir:
a tudo vence, tudo o atrai.
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Como reconquistar?
Por nosso zelo
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Nosso ardor
missionário, “nosso zelo pela
reconquista descansa sobre três coisas que encontramos nos grandes apóstolos”
(7):
– O zelo pela
glória de Deus, ou o que é o mesmo, “buscar
a glória de Deus em todas as coisas, ou seja, viver na humildade” (8).
Deus faz tudo para
sua glória.
Quanto a nós,
devemos trabalhar para sua glória, e não para nossa pequena pessoa. Quem somos?
pequenos instrumentos nas mãos de Deus!
– O zelo pela
nossa santificação. “O amor de Deus
deve ser a alma de nossa vida cristã, o motor de nosso zelo” (9).
Como já dissemos,
este zelo é nutrido com a oração, é cultivado por meio dos sacramentos, e a
condição para que dê frutos é permanecer unidos a Deus, pois senão, cairemos na
esterilidade.
– O zelo pelo
dever de estado. “O que vêem os
homens são os frutos que derivam de nossa vida interior: uma vida familiar
edificante, uma vida profissional virtuosa (…) A retidão de vida deixará
sempre um testemunho”(10).
Deus é quem anima
nosso zelo, quando nos diz:
“Tenham confiança, Eu venci o mundo”.
Com tudo isto,
nosso zelo apostólico dará frutos.
Comprometamo-nos
no apostolado com o coração ardente de amor a Deus, sem medir nossas penas.
Que nosso exemplo
sem orgulho disfarçado e sem falsa modéstia, brilhe diante dos olhos dos
homens; assim atrairemos mais facilmente os corações a nós mesmos, para assim
ganhá-los para Nosso Senhor Jesus Cristo, pois trata-se disto: ganhar as almas
tristemente sentadas na sombra da morte.
A opinião
aburguesada dos católicos bem instalados não nos interessa; o que nos importa é
o bem da família, de nossa Igreja que é a salvação de todos, daqueles que
merecem e desmerecem, daqueles que querem e daqueles que não querem se salvar.
Basta com aqueles
que veem nossa Igreja se perder e nossa pátria sem encontrar mais remédios que
falar sobre a necessidade de remediar tal situação. Atuemos! Senão, vamos cair
em uma espécie de romanticismo que alguém definia como um suicídio cotidiano
diante de um espelho.
“Quando desaparecem os santos, aparecem os afeminados.
Quando desaparecem as conquistas, chegam as contas da administração. Quando
desaparecem os guerreiros, aparecem os políticos. Quando desaparecem os
fundadores, aparecem os preceptores” (11).
Então, a
reconquista por meio do apostolado é para reaprender a conhecer Jesus Cristo, a
quem tudo devemos.
A todos aqueles
que perderam seu caminho, a todos aqueles que erram, que morrem, saibamos
nutri-los de Jesus Cristo, de nossa doutrina.
Temos uma missão:
reconquistar as almas, arrancando-as do pecado. Ganhem-nas! Mas para isto,
preserve-se das armadilhas que o demônio e o mundo não cessarão de pôr sob
nossos passos.
Missão grandiosa!
Há um grande erro
em querer opor a santificação pessoal à obra do apostolado da salvação das
almas. São duas atividades complementares, tão unidas, que me atrevo a dizer
que não se pode progredir em uma sem fazer a outra.
“Aquele que não tem zelo não ama”, dizia Santo Agostinho. De fato, o amor é
conquistador. É porque ama Deus acima de tudo que o sacerdote tem uma alma de
conquistador, e a um nível inferior, mas real, todos aqueles que contraíram
matrimonio sabem quão conquistador é o amor.
“Se a verdade que possuem permanecesse neles como
um objeto de contemplação em vista de uma alegria espiritual, não serviria para
a causa da paz. A verdade deve ser vivida, comunicada, aplicada em todos os
campos da vida” (12).
Que nossa
reconquista reflita a de Deus, que seja tão esclarecedora e vivificante, como
generosa e amante.
“A Igreja é militante, e então é uma luta contínua.
Esta luta faz do mundo um verdadeiro campo de batalha e de todo cristão um
soldado valente que combate sob o estandarte da cruz; com uma mão repele o
inimigo, com a outra eleva as paredes do templo e trabalha em santificar-se” (13).
Não existe um sem
o outro.
Deem uma mostra de
tenacidade no prosseguimento deste ideal: ganhar os homens para Deus.
Sejam testemunhas
de Jesus Cristo em todos os seus atos.
Um soldado não
deve ter medo de se cansar por seu chefe. Sem espírito missionário um homem se
amorna, se rebaixa e o espírito do mundo nos invade.
Evangelizar é
gritar por Jesus Cristo em meio do alvoroço carnavalesco onde cada um faz
publicidade e vende sua lamentável mercadoria no grande circo ecumênico de
hoje.
Fortes na sua vida
interior, poderão e deverão ser essa elite que dá o exemplo, que atrai as
massas, uma elite intelectual e espiritual.
Finalmente, não há
reconquista possível sem vocações.
Às centenas
deveriam se levantar os varões e as mulheres para entrar no serviço exclusivo
de Nosso Senhor.
Há uma grande
tarefa mais urgente, mais elevada que as mais formosas profissões, há uma vida
mais profunda que transmitir que aquela que transmitem os esposos católicos.
Mas não há
segredos, afirmava Dom Marcel Lefebvre:
“Em nossas escolas católicas é onde encontraremos
os futuros sacerdotes católicos. É claro. E como consequência, em suas famílias
católicas com numerosos filhos, ali nascerão as vocações e as futuras famílias
cristãs.”
É impossível
pensar em uma restauração da sociedade cristã sem a transmissão da sabedoria
cristã, sem a formação do espírito e do coração das crianças, que é a razão
essencial das escolas que começam a nascer no Distrito (La Reja – Viña del Mar
– Anisacate, com as Irmãs Dominicanas).
Há alguma milícia
que possa aceitar uma alma batizada mais formosa que a milícia sacerdotal?
“Que se volte ao espírito de vitória, de
sacrifício, de união com Nosso Senhor Jesus Cristo no altar, e as vocações
florescerão de novo, tornar-se-ão numerosas”, concluía Dom Lefebvre.
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Padre Xavier Beauvais
Antigo superior do Distrito da
América do Sul
[e atual diretor espiritual do
grupo francês de leigos Civitas]
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(1) R.P.
Alain Delagneau, na publicação ”Marchons Droit”.
(2) R.P.
François Pivert, no boletim ”Le combat de la foi”.
(3) León Degrelle,
de seu livro ”Almas ardendo”.
(4) R.P. Alain Delagneau, op. cit.
(5) León Degrelle, op. cit.
(6) León Degrelle, op. cit.
(7) R.P. Alain Delagneau, op. cit.
(8) R.P. Alain Delagneau, op. cit.
(9) R.P. Alain Delagneau, op. cit.
(10) R.P. Alain Delagneau, op. cit.
(11) Ignacio
Braulio Anzoátegui.
(12) Sua
Santidade Pio XII.
(13) Sua
Santidade Pio XI.