“O que faz o encanto do deserto –
exclama o Pequeno Príncipe – é que ele esconde, nalgum lugar, um poço”. O
deserto da cidade esconde o meu amigo e o meu amigo se esconde... E essa
presença invisível faz-me lembrar a de outro, - o melhor, o maior, o mais fiel
dos amigos – que em cada cidade nos aguarda.... Ele nos espera, realmente, em
cada cidade.
Sem dúvida podia usar, para
esperar-nos, as pessoas dos homens – pois Ele um dia se fez homem. Sem dúvida
nos espera na pessoa do padre, na pessoa do pobre, na pessoa do pequenino. Mas
quis esperar-nos Ele próprio, na sua própria pessoa – no pequeno pedaço de pão
que uma estrela ilumina. Não podeis ver-lhe a face, não o podeis escutar – mas está
realmente na penumbra, corpo, alma e divindade. Parai, entrai, colocai a seus
pés o vosso tesouro. Colocai aos seus pés o vosso coração, colocai aos seus pés
o vosso dia.
Se o vosso coração está ferido, o dele
mais ainda – e o seu último dia na terra teve o peso de uma cruz! Não te sintas
sozinho, isolado, perdido na cidade: o teu amigo nalgum lugar te espera. E a
sua paciência é grande: “Eu estarei convosco, disse ele, até o fim dos séculos”.
Nenhuma cidade é para nós estranha. Em
cada um – nos espera, caro ouvinte, o maior, o melhor, o mais fiel dos amigos.
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Dom Marcos BARBOSA. Um amigo me
espera, A Ordem, 1953, pp. 66-67.
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