sábado, 15 de abril de 2017

O DESCUIDO COM OS PEQUENOS...

Não deixeis ainda de chorar sobre os berços, desejando sempre promover singelas festinhas sobre o túmulo da criança que morre em nossos dias. Custa-me demais suportar o abandono crudelíssimo da criança, sem experimentar revoltas tremendas nos meu coração. 
Ela vai a escola, mas naquele luxuoso estabelecimento não há um indicio de Religião; não falam em Deus os seus livros; ocupam-se de tudo os seus mestres, exceto de religião. 
A criança entoa hinos à bandeira, faz ginástica, canta as glórias dos patrícios que se distinguiram pelo saber e pelo valor militar; mas não a ginástica da alma – o exercício da virtude –, não canta um hino ao estandarte da pátria celestial – a Cruz -, não glorifica aos heróis do bem – os Santos -, não louva ao autor supremo de todas as cousas – Deus.
Começou a aula.
Esta de posse de sua carteirinha de estudos: ao lado um colega procura dissipá-la a todo transe... na frente um outro prende a sua atenção... além, companheiros cínicos.
Nos recreios aconselhados para descanso do espírito, brinca bastante, faz queixas dos colegas, e estes queixam-se dela também.
Volta de novo ao estudo e, depois de pequeno esforço é chamada a dar lição. Expõe o que aprende, recebe explicações da mestra e regressa pressurosa à casa. Pela rua à fora recebe mil insinuações para o mal, conversas indecentes, vistas livres, insultos a velhinhos que passam, altercações grosseiras entre pessoas sem educação, deboche e até blasfêmias. Falam-lhe sobre fitas de cinema, senas de círculos, crimes sensacionais, escândalos dados, prisões efetuadas, valentias e suicídios.
Ouve falar de tudo menos da verdade, do bem, da virtude, de Deus. Ei-la ao pé da escada do rico palacete que habita, sobe aos pulos de alegria, chega ao refeitório de repente... pergunta pela mãe; não está, saiu a passeio, não voltará tão cedo. A criança tem alguma fome, pede pão e goiabada e a governanta mau humorada, não lhe atende.
Muda-lhe as roupas sem um carinho, injuriando-o algumas vezes, outras vezes lhe dá – piparotes. Nova série de maus exemplos nos remansos do lar doméstico: conversas de namoros, narrativas de fatos escabrosos, figuras asquerosas, e mil outros escândalos que penetram pelas portas a dentro dos lares, onde não há vigilância moral, onde não se teme a Deus e não se pensa no Céu. Batem 5 horas, quando vem entrando a sua mãe brigando contra a engomadeira, contra a modista e até contra a professora de seu filho, para o qual ainda não teve hoje um beijo, uma caricia, uma demonstração de verdadeiro amor. Volta-se arrebatada para ele e beija-o secamente, parecendo fazer esforço supremo...
Não terminou esta cena dolorosa, quando entra o pai chamando ao filho – diabinho mimoso, safadinho do meu coração, homem de futuro e tantas outras expressões próprias de almas sem formação. À noite a criança vai para o leito, sem uma Ave-Maria, como se levanta pela manhã.
Os berços de tais famílias merecem lágrimas, somente lágrimas...
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Padre Tabosa. Lágrimas ainda?, Publicado na Revista A Cruz.

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