quinta-feira, 22 de outubro de 2015

APELO DE MÉDICA CAÍ COMO UMA BOMBA NO SÍNODO DA FAMÍLIA.

 Fides Press -   21/10/2015


“A missão da Igreja é a de salvar as almas. O mal, neste mundo, provém do pecado, e não da desigualdade de renda nem das mudanças climáticas”.

A doutora Anca-Maria Cernea, uma médica do Center for Diagnosis and Treatment – Victor Babes (Centro de Diagnóstico e Tratamento – Victor Babes) e Presidente da Associação dos Médicos Católicos de Bucareste (Romênia), apresentou ao sínodo, aos 16 de outubro, o seguinte apelo ao Papa Francisco e aos padres sinodais:


Santidade, Padres sinodais, irmãos e irmãs,
Eu represento a Associação dos Médicos Católicos de Bucareste.
Pertenço à Igreja Grego-Católica Romena.
Meu pai era um líder político cristão que foi preso pelos comunistas por 17 anos. Meus pais estavam noivos, prestes a se casar, mas o casamento deles ocorreu 17 anos depois.
Minha mãe esperou por meu pai por todos esses anos, mesmo sem saber se ainda estava vivo. Foram heroicamente fiéis a Deus e ao compromisso deles.
O exemplo deles mostra que, com a Graça de Deus, se pode superar terríveis dificuldades sociais e a pobreza material.
Nós, como médicos católicos, em defesa da vida e da família, podemos ver que, antes de tudo, se trata realmente de uma batalha espiritual.
A pobreza material e o consumismo não são as causas principais da crise da família.
A causa principal da revolução sexual e cultural é ideológica.
Nossa Senhora de Fátima disse que a Rússia espalharia os seus erros pelo mundo.
Isso aconteceu primeiro com a violência: o marxismo clássico matou dezenas de milhões de pessoas.
Agora acontece, sobretudo, com o marxismo cultural. Há uma continuidade entre a revolução sexual de Lenin, passando por Gramsci e a Escola de Frankfurt, até à hodierna defesa ideológica dos “direitos” dos gays.
O marxismo clássico pretendia redesenhar a sociedade, através da violenta apropriação dos bens.
Agora, a revolução vai ainda mais a fundo: pretende redefinir a família, a identidade sexual e a natureza humana.
Essa ideologia se autodenomina “progressista”. Mas nada mais é do que a oferta da antiga serpente ao homemno sentido de assumir o controle, de substituir Deus, de organizar a Salvação aqui, neste mundo.
É um erro de natureza religiosa: é o gnosticismo.
É tarefa dos pastores reconhecê-lo, e alertar o rebanho contra este perigo.
“Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo” (Mt 6,33).
A missão da Igreja é a de salvar as almasO mal, neste mundo, provém do pecado, e não da desigualdade de renda nem das “mudanças climáticas”.
A solução é a Evangelização, a conversão.
Não pode ser (a solução) um sempre crescente controle do governo. Não pode ser nem mesmo um governo mundial. São exatamente estes, hoje, os principais atores que impõem o marxismo cultural nas nossas nações,através do controle da população, a “saúde reprodutiva”, os “direitos” dos homossexuais, a educação de gênero etc.
O que o mundo precisa, hoje mais do que nunca, não é a limitação da liberdade, mas a verdadeira liberdade: a libertação do pecado. A Salvação.
A nossa Igreja foi suprimida pela ocupação soviética [refere-se à história da Romênia, em particular, mas quem quiser ler mais do que isso, não está errado! NdT]. Mas nenhum dos nossos doze bispos traiu a comunhão com o Santo Padre. A nossa Igreja tem sobrevivido graças à determinação e ao exemplo dos nossos bispos, os quais têm resistido ao cárcere e ao terror.
Os nossos bispos pediram à comunidade para não seguir o mundo, para não cooperar com os comunistas.
Agora precisamos que Roma diga ao mundo:
 “Arrependei-vos de vossos pecados e convertei-vos, porque o Reino de Deus está próximo”.
Não só nós, os leigos católicos, mas também muitos cristãos ortodoxos, rezamos com ansiedade por este sínodo, pois, como se diz, se a Igreja Católica cede ao espírito do mundo, então é muito difícil também para todos os outros cristãos resistir.

Dr.ª Anca-Maria Cernea
– Fonte: lifesitenews.com


terça-feira, 20 de outubro de 2015

A GLORIA DE DEUS PESA, ESMAGA.

O sacerdote de Deus, o homem consagrado pelo Bispo que é o próprio Cristo, também recebe o paramento. O ouro, a seda, a púrpura entram no seu vestuário para o espanto do mundo que só vê nisso a "pompa" da Igreja, o alarde dos recursos financeiros da cúria. O sacerdote veste o ouro e a seda, veste a Glória por cima do hábito da penitência, realizando uma consumação terrível como aquela da cruz.
O reino de Deus se encontra com o Reino de Deus, a prontidão escatológica passa no ato de Glória, vive a presença do Rei. Repete-se a experiência da cruz na pessoa do sacerdote mas aqui, lembrando a crucificação de Pedro, o que nos ombros consagrados não é a penitência, é a Glória. O paramento crucifica. A Glória de Deus pesa, esmaga. Contam que Pio XI, nas grandes solenidades sentia a tal ponto a enorme carga da Glória do Senhor que aparecia com uma palidez cadavérica. Um imenso e acabrunhante "non sum dignus" apertava-lhe o coração piedoso.
 Mas no burguês não. Nele o manto não pesa. Não o deve a ninguém, comprou e pagou. Vestiu-se. Consagrou-se. Cada um deles é um universo fechado, um Deus. 
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Gustavo CORÇÃO. Rostos, roupas e paramentos, A Ordem, Julho de 1942.


quinta-feira, 8 de outubro de 2015

A MONARQUIA DO LAR

E na casa se vive, sob as monarquias do pai e da mãe, as aristocracias dos maiores ou mais capazes, as repúblicas dos iguais, e, como não, também suas perversões, as tiranias de monarcas mal entendidos e egoístas, as plutocracias que decorrem desse egoísmo e as democracias que ocultam afãs anárquicos através de outras perversões. Aprende-se então que a coisa mais excelente pode ser pervertida e originar muitos males, como o berço que foi empregado para esmagar a cabeça de uma criança. Aprende-se então que as estruturas nem são boas nem são más em si mesmas, mas que podem ser prejudiciais ou benéficas segundo o uso que delas se faça. Aprende-se, pois, a saber que a sociedade é segundo sejam seus componentes, e, normalmente, nem totalmente má nem totalmente boa. Aprende-se assim o realismo.
Por outro lado, aprende-se que cada homem e cada coisa tem simultaneamente uma qualificação - ou zona - publica e outra privada; que há uma intimidade inviolável de cada pessoa, mas ao mesmo tempo que nela há algo que é de todos, e este fato se repete em cada grupo social. A criança aprende que dispensa e os móveis da casa são públicos para os membros família e para os que com ela habitam, mas são privados em relação aos que não são da casa; do mesmo modo logo encontrará em uma cooperativa, em um clube, em um município etc, o mesmo fenômeno de ser público para uns, privado para outros, segundo a lei natural das comunidades. E a ideia das comunidades nasce assim como a de círculos dentro dos quais existe o público que é privado para o exterior.
Mas, ao mesmo tempo, o camponês sabe que pertence a diversos grupos simultaneamente, como filho de uma casa, como vizinho de um povo, por ofício, por afeições que o impelirão a fazer parte de um coro ou de um grupo teatral, mediante o qual cada pessoa manifesta e solidifica socialmente as diversas facetas que formam a personalidade individual dentro de personalidades coletivas diversas.
Ao mesmo tempo, no campo, as casas estão relacionadas entre si por laços de sangue, amizade, negócio, vizinhança, e sobretudo pelos membros comuns entre duas comunidades. Assim os povos são verdadeiras famílias de famílias nas quais sobretudo o sangue e a amizade travam entre si as unidades sociais das casas. Não são simples amontoados de areia, ou quantidades de água que adotam a forma da vasilha, não são gomos de bola desligados entre si e que só o envoltório do couro mantém reunidas; são elementos fortemente trabalhados dentro de cada casa e que formam elementos de distintas ordens, sempre ligados intimamente ao modo em que os órgãos do corpo estão intimamente reunidos entre si.
Não são membros postiços que mudam ao nosso capricho, são o que são porque assim são. E a sociedade não é uma organização racionalmente constituída a priori pelo governo, mas um grande corpo de múltiplos órgãos que desenvolveram-se a partir de um embrião, naturalmente, com a colaboração da razão prática dos membros que a integram; e, por isso, a sociedade não é massa, nem é ortopédica, mas fundamental e naturalmente orgânica, coisas que no campo esta à flor da pele.
E do mesmo modo que aprende-se com um animal não pode ser selado nem ser levado a lavrar enquanto não tenha crescido e logo aprendido a fazê-lo, também a criança camponesa conhece que as limitações vão sendo suprimidas à medida que ele adquire fortaleza e capacidade para exercer o que lhe era proibido: manejo de ferramentas, decisões, responsabilidades que lhe vão sendo confiadas à medida que suas capacidades se desenvolvam. As liberdades não são uma ideia abstrata; se fazem muito concretas no social, e cada nova liberdade adquirida dilata os limites da liberdade, mas nunca os suprime, de modo que, ainda quando adulto, o camponês reconhece naturalmente a necessidade de submeter-se a certos limites sociais da liberdade. A liberdade selvagem, ilimitada, na tem aqui sentido algum, pois todas as liberdades muito bem conhecidas são concretas e, por si mesmo, o concreto é limitado, ao mesmo tempo que ordenado.
Outro aspecto da liberdade lhe vem de longe com as vagas lembranças de antigas servidões hoje aparentemente extintas. É o aspecto politico no qual liberdade é capacidade de pactuais ou contratar. O servo não tinha esta liberdade e nisso estava sua servidão; sem embargo, um homem livre podia servir a outro sem perder sua liberdade enquanto ele tivesse a capacidade de pactuar seu serviço. Os antigos senhores foram substituídos modernamente por um único, mas total senhor, que se materializa na Administração do Estado, contra o qual não cabe recurso nem pacto. Isto só foi totalmente realizado nos países em que o Estado de Hegel é uma realidade total, mas ainda em todos os demais, inclusive na Espanha, a tentação de ampliar o poder que tem, leva a administração a implantar este caráter indiscutível de mando, sem possibilidade de pacto em muitos pontos de sua atuação. Este conceito de liberdade politica como capacidade de pactuar é de origem tipicamente rural, desde a Idade Média, já que na Catalunha feudo significou verdadeiramente pacto (foedus, foederis).
E, acima destas liberdades, no terreno interno e pessoal que é inviolável, o camponês sabe que tem uma liberdade interior fortemente relacionada com sua capacidade de amar e de odiar. Nela, cada homem pode optar pelo bem e pelo mal, pode orar ou blasfemar como – segundo bem disse Martín Descalzo – um lavrador só blasfema por estar tão perto da ação do Criador na natureza.
Nestes conceitos, poucas vezes formulados, mas que todos dão por solidificados, os direitos são sempre também deveres. Direito de regar é dever de regar, e sem o segundo o primeiro carece de sentido. Igualmente os direitos do herdeiro catalão era uma coleção de deveres. Direito-dever são a mesma coisa e que tem relação com os conceitos anteriores de liberdade, de modo que, na vida normal, os camponeses falam pouco deles, mas usam de regras muito rígidas em relação a eles. Isso não quer dizer que a influencia da televisão e do cinema não lhes façam também falar de liberdade e escravidão, em formas parecidas com que dizem os homens da cidade...

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José Maria GIL MORENO DE MORA (1926-1979). Salvar el campo, salvar la patria. Verbo, n. 178, pp. 929-930.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

QUANDO EU MORRER.

Senhor, eu chego a ti, porque trabalhei em teu nome. Para ti, as sementeiras.
Construí este círio. Pertence-te acendê-lo.
Construí este templo. Cabe-te habitar o seu silêncio.
A presa não é para mim. Eu limitei-me a construir o laço.
Tome essa atitude para ser animado por ela. Construí um homem segundo as tuas divinas linhas de força, para que ele caminhe. Pertence-te usar do veículo, se vires nisso a tua glória.
Assim, do alto das muralhas, lancei um profundo suspiro. Adeus, meu povo – pensava eu. Esvaziei-me do meu amor e vou dormir. No entanto, sou tão invencível como a semente. EU não disse todos os aspectos do meu rosto. Mas criar não é enunciar. Consegui exprimir-me inteiramente, se emiti um som que é aquele e não outro. Se amei uma atitude, que é aquele e não outra. Se introduzi na massa um fermento que é tal fermento e não outro. Daqui para o futuro, todos vós nascentes de mim. Se se vos deparar um ato a escolher entre outros, haveis de encontrar o invisível declive que vos fará desenvolver a minha árvore, e vos realizardes assim de acordo comigo.
Vós vos sentireis livres, e eu morto. Com essa liberdade que o rio tem de se dirigir para o mar ou a pedra abandonada de descer.
Criai ramos. Criai flores e frutos. Hão de vos pesar na vindima.
Ó meu povo amado, se eu te aumentei a herança, sê fiel de geração em geração.
Enquanto a sentinela dava os cem passos, eu rezava e meditava.
O meu império destaca-me sentinelas que vigilam. Vi assim a atear esse fogo que, n a sentinela, se torna chama de vigilância.
Que belo é o meu soldado quando olha.
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Antoine de SAINT-EXUPÉRY. Cidadela, trad. Ruy Belo, São Paulo-Lisboa: Quadrante-Aster, CXXX p. 203-204.

sábado, 3 de outubro de 2015

AS CONSEQUÊNCIAS DA DESORDEM DO ENTENDIMENTO


“A diminuição da fé, que produz a diminuição da verdade, não leva consigo, forçosamente, a diminuição, mas o extravio da inteligência humana. Por isso, todos temos visto passar diante de nossos olhos esses séculos de altíssima cultura, que têm deixado empós si um sulco, menos luminoso que inflamado, na prolongação dos tempos. Ponde,contudo, neles os vossos olhos: olhai-os bem – uma vez e outra vez – e vereis que seus resplendores são incêndios que não iluminam, mas apenas relampagueiam. Qualquer um diria que sua iluminação procede da explosão súbita de matérias em si obscuras, mas inflamáveis, antes que das puríssimas regiões onde se engendra aquela luz aprazível, dilatada suavemente nas abóbodas do céu, com soberano pincel, por um pintor soberano (...)
A inteligência dos incrédulos pode ser altíssima, a dos crentes humilde: a primeira, porém, não é grande senão à maneira do abismo; ao passo que a segunda é santa, à maneira de um tabernáculo; na primeira, habita o erro, na segunda a verdade. No abismo está, com o erro, a morte; na segunda, com a verdade, a vida (...)
Por essa razão, para aquelas sociedades que abandonam o culto austero da verdade pela idolatria, não há esperança alguma. Após os sofismas, vêm as revoluções, e após os sofistas, os verdugos”.
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Juan DONOSO CORTÉS. Ensayo sobre el Catolicismo, el liberalismo y el Socialismo. Buenos Aires: Editorial Americalle, p. 25.