quarta-feira, 7 de outubro de 2015

QUANDO EU MORRER.

Senhor, eu chego a ti, porque trabalhei em teu nome. Para ti, as sementeiras.
Construí este círio. Pertence-te acendê-lo.
Construí este templo. Cabe-te habitar o seu silêncio.
A presa não é para mim. Eu limitei-me a construir o laço.
Tome essa atitude para ser animado por ela. Construí um homem segundo as tuas divinas linhas de força, para que ele caminhe. Pertence-te usar do veículo, se vires nisso a tua glória.
Assim, do alto das muralhas, lancei um profundo suspiro. Adeus, meu povo – pensava eu. Esvaziei-me do meu amor e vou dormir. No entanto, sou tão invencível como a semente. EU não disse todos os aspectos do meu rosto. Mas criar não é enunciar. Consegui exprimir-me inteiramente, se emiti um som que é aquele e não outro. Se amei uma atitude, que é aquele e não outra. Se introduzi na massa um fermento que é tal fermento e não outro. Daqui para o futuro, todos vós nascentes de mim. Se se vos deparar um ato a escolher entre outros, haveis de encontrar o invisível declive que vos fará desenvolver a minha árvore, e vos realizardes assim de acordo comigo.
Vós vos sentireis livres, e eu morto. Com essa liberdade que o rio tem de se dirigir para o mar ou a pedra abandonada de descer.
Criai ramos. Criai flores e frutos. Hão de vos pesar na vindima.
Ó meu povo amado, se eu te aumentei a herança, sê fiel de geração em geração.
Enquanto a sentinela dava os cem passos, eu rezava e meditava.
O meu império destaca-me sentinelas que vigilam. Vi assim a atear esse fogo que, n a sentinela, se torna chama de vigilância.
Que belo é o meu soldado quando olha.
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Antoine de SAINT-EXUPÉRY. Cidadela, trad. Ruy Belo, São Paulo-Lisboa: Quadrante-Aster, CXXX p. 203-204.

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