Traçando,
então, o sinal da Cruz afasto de mim a garra diabólica da negação. Creio no
Espírito sobre todas as coisas criadas e incriadas, - creio no Verbo feito
Carne para nos remir e salvar. E o Espírito reinará com a vinda do Senhor
nascido para a sorte dura dos homens sobre as palhinhas miseráveis de Belém.
Como
na letra admirável do Salmo, os meus ossos humilhados estremecem de jubilo. Eu
creio!
Eu
creio! É um cântico de libertação o cântico que entoo, como Davi, diante da
Arca, à orla do ano que não que não tardará a romper, - à cabeceira do outro
que já resvala para a confusão primitiva das origens. E, solene, o relógio
entrou a falar do alto da catedral.
Na
comemoração dos vivos e dos mortos recolho-me à cadeia interminável da geração
de que provenho. Era uma vez... Era uma vez, uma vila clara, com muralhas
caídas, um lar honrado de lavradores, onde o arado alternava com a espada. Com
o suor sagrado dos velhos construtores de antigamente, essa família se
enraizava e durava. Foi árvore frondosa, bracejando devagar, mas bracejando com
vigor. Se lhe buscarem bem as ramadas, tanto as acharão devolvidas à terra, de
quem haviam surgido obscuras e sem nome, como estilizadas já, a tintas
heráldicas, nos armoriais luzidíssimos do Reino.
Pois
na jornada larga dos séculos, o lar que nos séculos se cimentava pela virtude e
pelo trabalho, viu apagar-se o lume tutelar e sumirem-se no vago as expressões
serenas dos avós.
Eu
me persigno confessando ao Deus de meus Pais, que é Pai de todos os Homens,
Criador de coisas criadas e incriadas. A névoa lá fora adelgaçou-se, como que
deixando transluzir uma poeira finíssima de luar. A escada de Jacob revela-se
na noite escura, para os que sabem elevar o pensamento bem alto. Encosto-me aos
seus degraus, e encontro com que embalar a minha amargura”.
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