A
Cidade Católica é sacramental, eterna, transcendente, de uma beleza precisa;
nela tudo se harmoniza: a unidade e a totalidade, o permanente e o contingente,
o passado, o presente e o futuro. E assim, em termos cristãos, carece de
sentido falar de progresso e menos de progresso indefinido. Porque o progresso
não pode consistir senão na perfeição do encontro do homem com Deus em Cristo,
em um conhecimento cada vez mais próximo e amoroso, sem saltos dialéticos, sem
surpresas, sem armadilhas.
Na
Cidade Católica tudo tem seu fundamento em Cristo. Por exemplo, a dignidade do
homem deriva de sua condição de filho de Deus e se efetiva pelo amor ao
próximo. A verdadeira liberdade feminina toma seu arquétipo e sua força da
Virgem, Mãe e Corredentora. A educação se ordena segundo a Verdade e a política
segundo o Bem Comum.
Em
troca, tudo se torna confuso e, sobretudo contraditório na Cidade do Homem.
Assim, o Livre Exame substitui a Autoridade da Verdade e o principio da duvida
fundamenta esse pluralismo relativista ou agnóstico, ao que desafortunadamente
parece haver-se aberto a própria Igreja e a Cátedra de Pedro, outrora sede da
Verdade e da unidade na verdade. O mesmo ocorre no plano da filosofia. O homem
cristão, herdeiro de Platão e de Aristóteles, integrou a razão natural com a fé
sobrenatural, síntese que é corroída a partir de Descartes; essa ruptura
tornou, primeiro, desnecessária a teologia e depois impossível a metafísica. E
aqui se volta ao núcleo da inteligência modernista, a negação da entidade do ser,
pelo que “nada é o que é”.
No
plano do direito, o cristianismo também integra a justiça natural com a
caridade sobrenatural. Esse belo edifício composto pela justiça distributiva e
comutativa, cuja expressão é o Contrato, se realça, se completa e se extrema
pela Caridade. Nada pode substituir o amor, generosidade, a capacidade de
sacrifício.
O
amor está na base da Pátria e da Família. Mas a Revolução francesa alterou esta
ordem e destruiu estes pressupostos. Dessacralizou a sociedade, secularizou o poder,
impulsionou a soberania popular sobre a de Deus e os direitos do homem contra
os do Criador.
Por
sua vez, a generosidade – manifestação do amor – foi violentamente substituída
pelo egoísmo individualista, cuja raiz psicológica é o prazer desordenado, sua
explicação biológica é o darwinismo e sua expressão socioeconômica, o
capitalismo.
A
Pátria. Que é a Pátria? É aquela porção espiritual que faz do homem um ser com
raízes no passado, um filho de algo, um herdeiro – como disse Maurras, o homem
é, antes de tudo, um herdeiro -. A Pátria não é um fato voluntário nem seu ser
deriva da convenção nem seus caracteres do consentimento ou do capricho dos
homens. É um fato da natureza, da história e do espírito. É um fato político,
geográfico, emocional, cultural e econômico. A Pátria não se escolhe, se
recebe; não se a cria, dá-se continuidade a ela; não é inventada, é-se
admitida. Como a família, o sangue e o nome. É uma ordem onde, longe de ser anula, a liberdade do homem se eleva e, por assim dizer, se enriquece, se
dignifica e se significa.
Portanto,
a Pátria não é uma reunião de indivíduos agregados, não é um conglomerado de
vontades isoladas, é, ao contrário, um corpo orgânico que ‘tem a missão de
resistir às tormentas do Tempo’, para citar novamente Maurras.
O
amor pela pátria é ou supõe o amor ao passado. Porque o elemento vivo da pátria
é a Tradição, aquilo que foi, que se fez e que se transmite. E nesse ato de
entrega e de recepção, nessa transmissão, é em que consiste a concepção
dinâmica da Pátria.
Mas,
também, a Pátria é uma essência fixa, como disse Genta. “As pátrias são eternas”, como dizia Barres e repetia Maurras.
Este
amor ao passado envolve um ato de piedade.
Sempre
o cristianismo está recorrendo com seu sangue fecundizante os sentimentos do homem
ocidental. E é um dever “de piedade para
com o passado” nos voltar para Espanha, a Mãe, a que nos incorpora ao
Império das Duas Romas e nos faz universais. Tudo Dela recebemos, desde a
Verdade que nos redime e nos liberta até as instituições que nos ordenam e o
idioma que nos vincula.
A
dispersão desta herança produziu a dispersão do ser nacional, o ser da Pátria.
Por isso a solução não é tanto política nem tão só moral senão espiritual, que
quer dizer total e principista. Voltar a uma terra de senhores, “cavaleiros gaúchos como aqueles manchegos [da
região espanhola de La Macha]”.
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VÍCTOR EDUARDO ORDOÑEZ
Buenos Aires, 20 de octubre de 1975
*Estudo preliminar ao livro “A guerra contrarevolucionária: La Doctrina Política Antisubversiva”,
de Jordan Bruno Genta.
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