"Preparar,
pelo trabalho, a volta para casa, entre todas as coisas do mundo, é a que tem
mais densidade de ventura. Pode o mundo moderno aviltar o trabalho, fazendo do homem uma pura máquina para o serviço de uma
babilônia; pode semear obstáculos sem fim entre a mesa do funcionário e aquela
soleira de porta onde ele tira do bolso uma chave encantada e toma posse de um
reino; podem os pregadores anunciar um regime ideal, em que a casa é um
prolongamento da repartição, uma máquina de morar cujos objetos pertencem a
todos (o que equivale a dizer que não pertencem a ninguém), e onde o próprio
gato receberá um nome oficial; podem socializar, burocratizar, centralizar; e
minar os alicerces da família; e arrebatar as crianças para as chocadeiras
técnicas onde se ensina que foi um dentista ou um bacharel que fizeram o mundo;
debalde farão tudo isso com o auxílio de todos os demônios: o homem não esquece
o paraíso que perdeu. Não esquece que seu primeiro pai foi um rico proprietário
rural, que dava ele mesmo os nomes aos bichos e usava fartamente, e sem pena,
os frutos de sua terra."
_______Gustavo Corção. in. "Três alqueires e uma vaca".
(Enviado por Kathren Silveira Batista)
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