quinta-feira, 3 de abril de 2014

A IMPRENSA "GORDA" E A INVASÃO DOS SOFISTAS

A Imprensa. Quando o filho do povo sai do ensino primário-Gratuíto-Laico-Obrigatório, terminou sua instrução? Recém irá começar. A escolinha lhe deu apenas o órgão da instrução intelectual: saber ler e escrever. Todas as demais idiotices com que nossos grandes pedagogos se afanam em empanturrar-lhes terminaram logo após a criança operária ou colona ter ultrapassado o suporte escolar; porque não assimilaram tais bobagens de forma biológica, senão que tragaram de forma livresca. E eu sei por experiência, eu sou um filho da Laica! – gritou meu tio exaltando-se bruscamente como se alguém o contradissesse...

Pois bem, quem se encarrega dessa informação - e fique constado que não falo da educação total senão apenas da intelectual – que começa ao sair o argentino-povo do primário? A Imprensa, sem sombra de dúvida, incluindo dentro desse termo também as revistas, as novelas, os espetáculos, as diversões, e popularíssima delas, o Cinema. Se a verdadeira Universidade de hoje é a biblioteca e a Natura, a verdadeira Escola de hoje é o diário e o espetáculo: e diários e espetáculos estão hoje “industrializados”, entregues ao mercado e subjugados à lei do lucro. Diga-me que te diverte e te direi quem te domina; outrora aos argentinos divertia Cervantes, agora nos diverte do Cine Ianque. Eu não quero te falar dos pasquins, que são outro dos “Crimes nacionais”, mas da “imprensa séria”! A nossa imprensa séria (chamada comumente “grande” quando só é “gorda”) apesar da boa vontade de alguma dela, não educa ao país; o deseduca, o entorpece, o esvazia, o faz pensar no que não tem importância, perder o senso comum que lhe resta....

Tampouco isto tem conserto fora do domínio político; pois sua origem está no Mito político novecentista da LIBERDADE de IMPRENSA. A liberdade de Imprensa, corrupção de uma santa verdade que poderia ser chamada “primazia do pensamento”, é na prática hodierna simplesmente a “licença ao sofista”, a liberdade do forte (intelectualmente) aproveitar-se do débil, a licença para o adulto bater na criança. Escravidão do pensar.
  
R.P Leonardo CASTELLANI. “Primero Política”, em Las ideas de mi tío el Cura, pp. 137-138.

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