Deste modo se ·torna realidade a ideia de um desconhecido artista
holandês que denominava a mulher rainha do universo. Contemplei durante muito
tempo, na célebre abadia de Melk, à beira do Danúbio, as pinturas da abóbada
que representam a fé, a esperança e a caridade. São três mulheres: a fé traz a
cruz e o cálice, a esperança a âncora de salvação, a caridade é uma mãe rodeada
de filhos - um ·deles abraça-a, o outro beija-a e o terceiro brinca a seu
lado... Todas as aspirações da mulher encontram na família a sua mais bela
plenitude.
Num congresso de mulheres, queixaram-se de que a história do mundo
estivesse escrita somente sob o ponto de vista do homem. Pode ser. No entanto,
não se deve esquecer que a vida da mulher está íntima e indissoluvelmente unida
à vida do homem, do filho, do próprio povo e de toda a cultura. A sua glória
não está em serem espíritos invulgares ou gênios; está em saberem dar gênios ao
mundo. E deram Watt, Stephenson, Edison, Carlos Magno, Napoleão... O primeiro
lugar de entre as grandes figuras da história do mundo está reservado à mãe.
O cetro do mundo pertence a quem pode dar a vida a um novo ser e,
por isso, podem as mulheres olhar com desdém para o grandioso edifício de São
Pedro de Roma ou qualquer outra construção tão impressionante como essa. Elas
trouxeram ao mundo algo de mais senhorial e mais belo: o templo para uma alma
imortal! A mulher trabalha no lar, mas o seu silencioso labor reflete-se em
todo um povo. Transmite todo o tesouro da cultura aos filhos e aos netos,
edifica o futuro e não só o futuro terreno; já que a sua ação penetra na
eternidade até ao coração de Deus.
Sem ela não há família, sem ela não há pátria.
Sem ela perder-se-iam as fontes mais ricas da energia da
humanidade; sem ela desapareceriam a bondade, o amor e a compaixão. É o humilde
cajado em que se apoia o homem, cansado de peregrinar pelos poeirentos caminhos
da vida. É o soldado desconhecido do contínuo dia a dia. A mão que embala uma
criança, guia o leme do mundo e tudo quanto no mundo vive e morre, teve a sua
origem numa mulher.
“O homem vem à vida através da mulher”, diz São Paulo, e, por
isso, nas obras dos homens sempre se vislumbra a imagem de uma mulher. O homem
pode encontrar-se numa situação elevada e brilhante, de destaque perante a
história, ou numa profunda obscuridade. A mulher, como imagem do valor
eternamente duradouro, vai criando no silêncio vidas novas, traça-lhes o
caminho e deita a semente num campo que nunca foi lavrado. Nos traços da mãe
está impressa a face do povo que há de vir. Uma moça, pouco depois de ser mãe,
dizia-me: “A passagem da mulher para mãe é mais importante que a passagem de
adolescente para mulher”. Na maternidade encontra a sua solução esse problema
premente e angustiante que tantas sombras projeta nos dias da juventude, o
problema da aparição do amor e da mútua harmonia dos amores. O matrimônio serve
para realizar essa harmonia e resolve o problema da mulher, porque é na
maternidade que ela consegue alcançar a sua felicidade em clima apropriado à
sua natureza. A vida da mulher é mais silenciosa e recolhida que a do homem,
mas do fogo do lar pode ela fazer fogo de um altar sagrado onde oferecer-se,
dia a dia, silenciosamente, até ao holocausto. Quando contemplo uma cruz
coroada de rosas, penso no meu íntimo: este é o símbolo da vida da mulher, a
cruz escondida entre as rosas! A vida e a vocação da mulher não são sempre
rosas, mas também não são sempre cruz. Lado a lado, caminham rosas e cruz. Em
resumo, viver para os outros, procurar por todos os meios a felicidade dos outros,
ainda que se desfaça em sangue o coração!
Uma frase de León Bloy, digna de ser meditada: “Quanto mais santa é uma mulher, tanto mais
é mulher”. E também tem valor permanente o pensamento de Schiller: “Honra a mulher! Ela tece rosas no caminho
da vida, tece o feliz vínculo do amor e, oculta sob o véu da graça, alimenta
vigilante, com mãos sagradas, o eterno fogo dos sentimentos nobres”.
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Cardeal
MINDSZENTY. A mãe, Lisboa: Editora
Aster, p. 20-21.