domingo, 31 de agosto de 2014

OS GUARANIS E A DOUTRINA BOLCHEVISTA

Lisongeando os guaranis sob a falsa afirmativa de que lhes roubaram a felicidade; convencendo-os de que foram donos de uma civilização que os europeus destruíram com o auxílio do padre; minando o sentimento religioso da ração para edificar a sociedade à base da matéria e do ateísmo, a bandeira do verbo moscovita é a restauração do comunismo, sob o fundamento de que este foi a primeira forma de governo do povo paraguaio.
Mas aqui devemos opor à mistificação e à falsidade a palavra serena da justiça. É que há um abismo entre aquilo que se chamou comunismo cristão em Paraguai e o comunismo da Rússia bolchevista. O espiritualismo não se pode confundir com materialismo.
Comunista no primeiro sentido é o homem vivendo na terra, mas voltado para o céu. O comunista filiado às ideias de Marx é mero aparato de utilidade terrestre, homem exclusivamente voltado para a matéria. O comunismo da Rússia Vermelha é a palavra de Nietzsche, exortando o homem a conservar-se fiel à terra, sem lembra-se do Além. Em Paraguai os jesuítas fizeram comunismo vinculando o natural ao sobrenatural, as coisas da terra às do Alto. Ao guarani apontaram sempre o caminho que conduz até Deus.
(...)
Não conhecemos erro mais grosseiro, portanto, que esse de pretender-se desdobrar entre os descendentes guaranis o lábaro das doutrinas bolchevistas, sobre o fundamento de que isso consulta às suas tradições comunistas.


___ José de MELO E SILVA. Fronteiras guaranis: a trajetória da nação cuja cultura dominou a fronteira Brasil-Paraguai, 2. ed., Campo Grande: Instituto Histórico e Geográfico do Mato Grosso do Sul, 2003 (1. Ed., 1939),  p. 61-62. 


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