sexta-feira, 1 de agosto de 2014

O CÂNCER SOCIALISTA

Os biólogos definem este [o câncer] como uma proliferação anárquica de células que vão devorando os órgãos, que depois se destroem a si mesmas e conduzem o vivo para a morte. E, como o câncer representa o auge da desordem biológica, o socialismo representa o auge da desordem social.
Expliquemo-nos. O socialismo inclina para o câncer na medida em que implica um desequilíbrio no exercício do poder político nas relações entre este poder (o Estado) e o conjunto dos elementos da nação: indivíduos, famílias, empresas, coletividades locais etc.
A existência do Estado é uma necessidade para toda a sociedade civilizada. Sua tarefa essencial consiste em harmonizar as liberdades dos cidadãos; quer dizer, em arbitrar mediante leis justas (seguidas de coerção no caso de sua inobservância: a força deve permanecer na lei...), os intercâmbios e conflitos entre os indivíduos e grupos...
(...)
Quando a raposa anda livremente pelo galinheiro, a liberdade das aves, dentro de sua espécie, e o poder de voltear de um extremo ao outro do cercado não significam nada perto da agilidade e a avidez do carnívoro.
Nesse sentido, o socialismo surge como uma reação contra os excessos do liberalismo do século anterior. Mas esta reação contra os danos causados pela liberdade foi sendo impulsionada gradualmente até o estrangulamento da própria liberdade.
O Estado, sob o pretexto de justiça, igualdade, assistência, foi se infiltrando pouco a pouco nas entranhas do aparato social; monopolizou os créditos, paralisou o trabalho com os impostos e a poupança com a inflação, atacou a propriedade privada, única defesa da liberdade, procurou a segurança de cada um com o preço da escravidão de todos. Em resumo; erigindo-se em espoliador e distribuidor universal, monstro de duas caras, na qual se combinam o Minotauro e a vaca leiteira, reduz a nação a um amontoado de indivíduos sem laços entre eles e sem nenhuma defesa diante de si.
É a definição pura do câncer. O diagnóstico de Salleron é severo e seu prognóstico pessimista. Para ele este processo cancerígeno parece difícil endereçar pelas duas razões seguintes:
1) Porque os líderes do socialismo, ligados à sua ideologia, estão condenados à fuga para frente, quer dizer, à uma radicalização crescente de seu método de governo que desemboca no comunismo, termo fatal da utopia igualitária.
2) Porque grande parte dos cidadãos digeriram, com o leite, o veneno socialista e se acostumaram a esperar tudo do Estado e, com isso, perderam o sentido do risco e das responsabilidades, que é inseparável do amor à liberdade, tal como o bovino, para quem a segurança do estábulo e a escassez do feno lhe faria esquecer o jugo.
Onde está, pois, o remédio? “Ver claro, é ver escuro”, dizia Valéry. Mas, talvez Salleron leve o pessimismo muito longe.
Há câncer, isto é certo, mas este câncer não diz respeito a todo organismo social; está no Estado mais que na nação, no país legal mais que no real, e creio que este é ainda capaz de ter uma reação saudável. E, mais ainda, porque a evidencia dos absurdos e dos males que provoca o socialismo salta aos olhos claramente cada vez mais.
Mas uma mudança da equipe de governo não basta se não é apoiado por uma reação vital das células sem câncer. Somos nós que devemos nos agarrar aos últimos farrapos da liberdade e assumir toda a responsabilidade. Em outros termos, salvaguardar e estender estas ilhotas de saúde social que o totalitarismo do Estado se afana em eliminar como relíquias do passado e que, na realidade, são sementes para o futuro. Será necessário ocorrer uma avalanche de catástrofes econômicas e políticas? O ignoramos. O que, sem embargo, sabemos é que o processo de descentralização – ou de descancerização – passa pela consciência e pela conduta daqueles que recusam a perspectiva de deixar-se devorar pelo câncer.
O socialismo – e o comunismo para o que inevitavelmente caminha se não nega seus próprios princípios – se opõem às leis mais elementares e mais comprovadas pela experiência, da natureza humana e da saúde das sociedades. Logo, já é uma promessa de vitoria combater tendo a natureza por aliada. O fim deste combate é a saúde da sociedade, que o triunfo do socialismo asfixiaria em um colapso próximo da morte.


___ Gustave THIBON. Louis Salleron nos fala do câncer socialista. Artigo sobre um livro de Louis Salleron (1905-1989), publicado na revista Itineraires, n. 277, de novembro de 1983.

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