terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O COMUNISMO E A REVOLUÇÃO ANTI-CRISTÃ

Prólogo da segunda edição

Este ensaio teve maior acolhida do público do que seu autor imaginara.
Nele se dizem algumas verdades, senão novas, substanciais que me pareceu conveniente apontar nesta nova edição.
Por isso, foi suprimido o que podia haver de circunstancial para dar ênfase, em troca, a conceitos, embora hoje olvidados, não menos necessários e urgentes da problemática religiosa.
São estes os conceitos de Realeza de Cristo e o de Civilização Cristã. Se devemos crer, com efeito, para certos autores não se sabe hoje o que é a civilização cristã nem o sabem “todos os Papas de nosso século” (O sacerdote dominicano Avril e o jesuíta de Soras, citados pela revista francesa Itinéraires, junho de 1963, página 153.).
No entanto, é o conceito de Realeza de Cristo o qual nos pode esclarecer suficientemente o de civilização cristã e é este, ou de seu equivalente Cidade Católica, o que, como ponto de referência, pode dar-nos ampla certeza do que na realidade o comunismo se propõe destruir totalmente, para logo, desta forma reduzir a Igreja ao silencio mais absoluto.
Ao suprimir conceitos tão substanciais, se é suprimido, por conseguinte, o reto conhecimento do comunismo e de sua propagação e se retira as bases para uma luta eficaz contra este mal, o primeiro de nosso tempo.
A Carta Magna da Igreja sobre o comunismo ateu, a Divini Redemptoris de Pio XI, em troca, centraliza sobre o ponto da Civilização Cristã e de sua exclusão pelo comunismo toda a medida de erro, de malicia e de perigo de que este está cheio.
Por isso, na primeira página de dito documento, depois de destacar que a promessa e a vinda do Redentor preencheu as ânsias de tão longa expectação da humanidade e “inaugurou uma nova civilização universal cristã, imensamente superior a que até então à custa dos maiores esforços e trabalhos atingiram alguns povos mais privilegiados”, acrescenta este parágrafo sugestivo: “Este perigo tão ameaçador, já o haveis compreendido, Veneráveis Irmãos, é o comunismo bolchevique e ateu, que se propõe como fim peculiar revolucionar radicalmente a ordem social e subverter os próprios fundamentos da civilização cristã”.
Porque entre muitos católicos se suprime ou se debilita o reto sentido do que seja a civilização católica ou a Cidade Católica, se é suprimido também ou se debilita paralelamente o combate que se há de empreender contra este mal e perigo do comunismo e se dá lugar a uma como que aceitação do mesmo, quando não a um verdadeiro reconhecimento e aprovação.
Tal o erro do progressismo que em formas mais ou menos francas ou atenuadas invade hoje e envenena a mentalidade e a ação de muitos católicos. Esperamos em breve dedicar a este tema um pequeno ensaio, não obstante, não quiséramos deixar de assinalar aqui seu erro e seu perigo. (“En torno al Progresismo Cristiano”, Librería Huemul, Buenos Aires, 1964, e reeditado como “Un Progresismo vergonzante”, Cruz y Fierro Editores, Buenos Aires, 1967).
Ao alterar o conceito de civilização cristã e em consequência o de comunismo, muitos católicos encontram-se obrigados a alterar o significado da teologia da história, desvinculando esta do dogma fundamental na matéria que é o da Realeza de Cristo. Porque a história, a história da realidade temporal dos povos, de sua realidade pública e também política, deve significar o alto e supremo domínio que Deus colocou nas mãos de Cristo. É certo que poderão os povos rebelar-se contra a pacífica dominação de Cristo. Mas ainda assim, para sua ruína, os povos não poderão deixar ter significado à Cristo. Porque a história tem uma direta dependência de Cristo, já que toda ela deve significar como um sacramento o reino de Deus com um sacramento. E somente significa positivamente quando se converte em história cristã, em Cidade Católica. Por esquecer isso, a teologia da história se converteu hoje em uma teologia nominalista que nega a substancia mesmo com que deveria estar constituída; é, a saber, desta significação positiva que há de brindar a realidade publica dos povos.
Por isso, alteração do conceito de civilização cristã, diminuição do combate contra o comunismo, progressismo e uma má teologia da história andam hoje juntos em muitos católicos e ainda em teólogos que consideram expertos em teologia da história. Tudo isto nos dá induz há acrescentar um novo capitulo a este primitivo ensaio que leva precisamente por título “Da Realeza de Cristo na história à Civilização Cristã”. Desta forma se tornará mais consistente a coerência de temas que não podem ser separados.

R. P JULIO MEINVIELLE

Epifania do Senhor, 1964.

Padre Julio Meinvielle (1905-1973)

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