segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

A BUSCA INCESSANTE DA "NOVIDADE"

Uma das características fundamentais da época em que vivemos é a aficção desmedida às novidades, às inovações e às originalidades. As palavras “novo”, “moderno” e “revolucionário” são epítetos empregados com êxito nas propagandas desenvolvidas para tornar aceitáveis ideias originais ou extravagantes e para suscitar o consumo dos mais variados produtos comerciais. Agora estas palavras carregam uma carga emocional que atrai a juventude a parece seduzir bembém os menos jovens que para não ficarem para trás se deixam amiúdo arrastar docilmente pelo toverlinho da mudança irreflexiva. Até mesmo nas atividades humanas que pareciam mais estáveis, definitivas e refretárias às transformações, se introduziram os agentes do “inovacionismo” e assim se fala agora de uma “nova liturgia” e da “matemática moderna”, e colocamos em parelelo estas duas expressões, pois nos parece que, uma no sagrado e a outra no profano, representam dois dos mais aldazes avanços do espírito modernista em domínios que até agora se haviam considerado como formando parte da “sacta sanctorum” das tradições da humanidade. Por ora o reformismo triunfa em toda a linha e nos mais variados campos através de uma hábil propaganda que mescla sem discriminação os indubitáveis benefícios de muitas inovações com outras mudanças e originalidades muito mais discutíveis. Nos postos chave de muitas administrações se tem introduzido na maioria dos países elementos messiânicos, cuja boa fé não nos corresponde colocar em duvida, mas que se inspiram na ideia simplista de que toda mudança ou modernização é sinônimo de progreso eque este é tanto mais acusado e benéfico quando mais drástica é a ruptura com o passado que se qualifica, no mais das vezes, precipitadamente de rotineira e estática. Os ousados que se atravem a apor-se à semelhantes ações e inovações, as vezes comparáveis com a passagem de um rebanho de búfalos sobre um armazém de valiosas porcelanas, são qualificados com os epítetos infamantes de “imobilistas” e “reacionários”, de “conservadores” e “retrógrados”. Só são permitidas algumas discretas retificações no trajeto que seguem os búfalos, com a condição de não se olvidar de saldar-lhes amavelmente quando passam e fechar os olhos aos destroços que causam. 


Julio GARRIDO MARECA († 14-5-1982). Las matematicas y la realidad: consideraciones sobre la "matemática moderna" y la reforma de la enseñanza, Revista Verbo, Madri, p. 391-392.

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