terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A LIÇÃO DE DOM QUIXOTE

  Acaso quando [Dom Quixote] chama as moças da comarca de “altas donzelas” e elas não podem conter o riso, não é a observação profunda e piedosa do cavaleiro cristão que reconhece nas infelizes criaturas, a dignidade da mulher, a inocência perdida na impudicícia e na humilhação de todas as horas? E quando reflete com os acolhedores pastores sobre a “ditosa idade e séculos ditosos, aqueles que os antigos chamavam de dourados”, quando “não havia a fraude, nem engano, nem a malicia mesclando-se com a verdade e a franqueza”, e os pastores lhe escutavam ‘maravilhados e atônitos’, não é em razão de sentirem-se arrebatados pela magia do verbo criador até a nostalgia do tempo do esplendor original da criatura humana?  Dom Quixote, senhor de piedade e de sapiência, levanta com as mãos graciosas e varonis das ponderadas palavras e das discretas e bem ajustas razões, os caídos, os humilhados, os necessitados, a humanidade derrotada e claudicante, até a altura de sua nobilíssima condição e dignidade de ‘ser’, até a excelência da imagem e semelhança de Deus”.


Jordán B. GENTA. Rehabilitacion de la Inteligencia. Buenos Aires: Universidad Libre Argentina, 1946, p. 41-42.

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