“O homem foi redimido por Cristo.
Com suas dores e com sua morte, o Senhor pagou a Deus a dívida de nossos
pecados, alcançou-nos o perdão e, incorporando-nos a Ele – o Filho de Deus – fez-nos
partícipes de sua Filiação divina.
Pela fé e pelo arrependimento, e
através do batismo, o homem incorpora-se a Cristo, e com a graça santificante
que procede d’Ele, como Cabeça da Igreja – seu Corpo Místico – começa a viver a
vida de Deus.
Essa vida de Deus, porém, é
absolutamente sobrenatural. Está
instaurada na vida natural de nossa alma espiritual, mas é essencialmente superior a ele. O homem não pode merecê-la, nem vivê-la,
apenas com suas forças. Por penetrante e culta que seja, sua inteligência, por
si mesma, não pode chegar a conhecer as verdades sobrenaturais da Revelação; e,
por vigorosa que seja, sua vontade não pode atuar sobrenaturalmente. Daí
necessitar não somente da graça santificante, que transforma e eleva seu
espírito de modo permanente à vida de filho de Deus, como também das graças ou
auxílios atuais, com que deus lhe ilumina o intelecto e lhe conforta e anima a
vontade. A palavra de Cristo é terminante: “Sine
me nihil potestis facere” (“Sem Mim não podereis fazer nada”).
Sem estas graças com que Deus nos
conforta e sustenta na vida sobrenatural, não poderíamos permanecer nem atuar
nela, precisamente porque esta vida sobrenatural está essencialmente por cima
de toda natureza criada e criável. Pertence a uma ordem divina, que o homem só pode alcançar e viver com a ação de
Deus em sua alma. Ação de Deus que normalmente opera através dos meios
sobrenaturais estabelecidos pelo próprio Cristo.
Se todo ser natural – também o ser
do agir do homem e de todas as criaturas – sob
o aspecto de ser (sub ratione entis)
procede sempre de Deus como Causa primeira, o homem, precisamente porque não é o ser, mas participa dele contingencialmente, com muito mais razão
depende imediatamente do Ser de Deus no
ser e na vida sobrenaturais, que transcendem essencialmente toda a ordem
humana e criada”.
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Mons. Octavio NICOLÁS DERISI.
Vida interior: base de toda a renovação,
Revista Hora Presente, Ano III, Agosto de 1971, n. 10, p. 93-94.
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