“Como disse
na sua mensagem natalícia S.S. Pio XII, não existe organização do mundo que
possa garantir a dignidade do homem e a soberania inviolável da pessoa, se se
prescindir dos valores imortais do espírito e da verdade de Cristo; e não
existe, por consequência, nem humanismos da cultura nem do trabalho. Daí o
valor insubstituível da religião, que é indispensável ao homem como a sua mesma
alma.
Também a
vida religiosa é “trabalho”, o mais humano, o mais universal e, por isso,
“católico”: trabalhar, para nós, para o próximo e para Deus, segundo a ordem da
verdade natural, iluminada pela fé, que é verdade e graça sobrenatural. O
apostolado do Sacerdote ou o leigo católicos, o culto religioso, a oração,
etc., são trabalho e altíssimo trabalho social, mais do que social na medida em
que se encontra voltado para fins supersociais, para a total realização do
homem e, por isso, da liberdade plena. Não edifica casas ou outros confortos
materiais, mas edifica o espirito dos homens, isto é, aqueles que habitam as
casas e usam dos confortos. A técnica preocupa-se em construir as estradas, mas
a Igreja de Deus assume uma empresa muito mais importante: preocupa-se com a
alma dos homens que por elas passam, reza pela sua paz material e espiritual,
e, quando pode, prodiga-se em toda a espécie de auxilio. Mas para que serve a
oração? Para nada, se for ateu; é eficacíssima, se se crer que o homem é filho
de Deus e que o Pai é também o Amor. A oração, que tem confiança na
misericórdia do Criador, e o temor de Deus, por amor da sua justiça, são
“trabalho”, o trabalho que eleva e santifica todas as formas da atividade
humana que, no fundo, com as nossas obras honestas, quaisquer que sejam, é
resposta à verdade. Resposta sempre inadequada – a do grande poeta tanto como a
do camponês que ara a terra – que nunca poderá dar ao homem a sua plenitude,
porque a plenitude do homem não é a sociedade (liberal ou comunista, ou o que
quer que seja) ou o homem mesmo. Só o destino sobrenatural é a elevação suprema
da dignidade da pessoa; só ela faz com que o trabalho de todo o indivíduo, se
Deus o quer, encontre a sua plenitude na glória de Deus”.
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Michele
Federico SCIACCA. A hora de Cristo, Lisboa: Aster / São Paulo: Flambyant, p.
186.
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