terça-feira, 25 de março de 2014

UMA ÉPOCA DE DESFUNDAMENTAÇÃO

“A época contemporânea é uma época de desfundamentação. Isso se deve ‘à perda da realidade’. É uma época amorfa, incapaz de produzir um estilo e um tipo humano característicos. É também uma época ocasionalista caracterizada por produzir toda espécie de substituições inspiradas na boa nova da religião secular da modernidade herdada do humanismo. A substituição principal, que abre a porta para todas as demais, é a do princípio de transcendência pelo de imanência. Isto desfundamenta a anterior visão da realidade sem, no entanto, ter sido capaz de estabelecer uma nova fundamentação. Dai que seja também uma época niilista. O impulso veio, efetivamente, do humanismo, cuja fé na capacidade de conhecer e de fazer do homem, suscitou a esperança em conseguir, por fim, o estabelecimento da Cidade Perfeita. Seria uma Cidade do Homem constituída por homens novos nos quais a virtude da solidariedade, virtude do homem exterior, substitui a caridade, virtude do homem interior. Esta religião veio à luz na Revolução francesa, competindo desde então com o cristianismo: a fé no homem substitui a fé em Deus, a fé no homem novo substitui a fé em Cristo, e o Reino do Homem substitui o Reino de Deus. A moral desta religião do homem emancipado é o humanismo e sua igreja o Estado-Nação, um Estado Moral. Dizia Heinrich Heine: ‘wir wollen hier auf Erden schon das Himmelreich errichten’ (queremos alcançar já aqui na terra o Reino do Céu). Após a revolução, o humano é, miméticamente, o deus do homem (Feuerbach). O humano se diviniza como Eu romântico, sendo a humanidade o demiurgo revolucionário (C. Schmitt). Por trás disso está o mito do nostálgico estado de natureza rousseuniano”.


Dalmacio NEGRO PAVÓN. Política y facciones: la guerra de todos contra todos. Revista Verbo.


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