quinta-feira, 27 de março de 2014

O PODER PÚBLICO COMO UM EMPECILHO E UM TRAMBOLHO

Nesses oásis, revivendo o tempo das bandeiras, tudo se deve à iniciativa privada. Foi o particular que desbravou a mata, que ergueu as plantações, que estendeu pela terra virgem os trilhos dos caminhos de ferro, que fundou cidades, abriu fabricas, organizou companhias e importou o conforto da vida material. O poder público, pacientemente, esperou os frutos da riqueza semeada. E logo em seguida criou o imposto, como os governadores do século XVIII e a metrópole estúpida, na loucura do ouro, criaram os quintos, os dízimos, dízimas, a capitação e a derrama. Nesse afã, porém, a administração publica faliu, não podendo acompanhar o movimento progressista, ora lento, ora impetuoso. E assoberbado, num afobamento tonto, ficou atrás: é quase um empecilho e um trambolho. No resto do país a coisa se agrava: os homens, de incapazes, tornaram-se desonestos e pela cumplicidade dos apaniguamentos eleitorais, aceitaram com pequena relutância o consórcio das funções administrativas com os interesses mercantis. A fragilidade humana fez o resto, que é a vergonha da nação. Na desordem da incompetência, do peculato, da tirania, da cobiça, perderam-se as normas mais comesinhas na direção dos negócios públicos. 
Paulo PRADO. Retrato do Brasil: ensaio sobre a tristeza brasileira, 4 ed, Rio de Janeiro: F. Briguiet & CIA, 1931, pp. 206-207.



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