segunda-feira, 31 de março de 2014

INSTITUCIONALIZAÇÃO DA DESORDEM REVOLUCIONÁRIA

O que aproxima entre si, não só o comunismo e o nacional-socialismo, mas também a democracia totalitária do nosso tempo, é exatamente o caráter de guerra civil institucionalizada segunda a lúcida análise de Domenico Fisichella, que definiu o totalitarismo, enquanto sistema global, como “um regime de institucionalização da desordem revolucionária e da guerra civil”. Já se vislumbra a passagem da guerra civil “moderna”, ideologicamente motivada, para a guerra civil “pós-moderna”: uma explosão de violência sem sentido que coincide o paroxismo da anarquia e do caos. A queda do muro de Berlim e o fim do sistema bipolar podem ser vistos como a certidão de nascimento deste novo gênero de conflito, definido como “guerra molecular” pelo sociólogo alemão Hans Magnus Enzensberger. As metástases da “guerra civil molecular”, escreve Enzensberger, “são parte integrante da vida quotidiana das grandes cidades, isto não só em lima ou Janesburgo, Bombaim e Rio de Janeiro, mas também Paris e Berlim, Detroit e Birmingham, Milão e Hamburgo”. Os protagonistas não são unicamente terroristas, mafiosos, skinheads, traficantes de droga e esquadrões da morte, mas também simples cidadãos que, de repente, se transformam em delinquentes hooligan, piromanos e serial killer. Segundo Enzensberger, para além de todas as diferenças, existe um denominador comum: o culto da destruição pela destruição, devido á absoluta falta de princípios. A nova guerra civil dentro das grandes metrópoles não encontra, com efeito, qualquer justificação ideológica ou moral: é fruto do niilismo contemporâneo. Na perspectiva dos “teóricos do caos”, o fundamento e o vínculo mais profundo da sociedade não consistem no princípio aristotélico da amizade, mas no princípio hobbesiano e schimittiano da inimizade e do conflito... O niilismo pós-moderno é o fundamento desta conflitualidade permanente e a vazia de significado.

Roberto DE MATTEI. A soberania necessária: reflexões sobre e a crise do Estado moderno, Porto: livraria Civilização, 2002, pp.165-167.

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