sábado, 29 de março de 2014

O FILOSOFO MODERNO E A REVOLUÇÃO

A classe intelectual por inteira, tal como é hoje, serve a Revolução. As exceções são individuais.. pouco numerosa e não sujeita às etiquetas eventualmente liberais, centristas, moderadas ou contemporâneas. O que conta é o ser e não o parecer, a substância e não os acidentes visíveis; o peso real, a autêntica densidade. A filosofia de Descartes, que era homem de ordem e de razão, prepara a Revolução. A anarquia aparente de um São Francisco de Assis, a contraria radicalmente. O filosofo moderno, enquanto tal, é um malfeitor público. “O maior de todos os criminosos – dizia Chesterton – é o filosofo moderno, livre de toda lei”. Livre da lei natural, ou do Decálogo, o filosofo moderno subverte toda possibilidade de educação e destrói, em pensamento e através do pensamento, as condições da vida. Tudo isto estava relegado à teoria, à retórica, virtual, implícita, inconsciente e apenas perceptível ao gênio de um Chesterton ou de um Péguy, de um Blanc de Saint-Bonnet ou de um Claudel. O peso real, o verdadeiro alcance de um pensamento, não o compreende muitas vezes os professores que o fracionam em fórmulas feitas, em series de palavras entrelaçadas umas nas outras, em capítulos de manual: esta espécie de moeda não deixa de ser uma moeda falsa, que afasta a verdadeira, que desintegra o pensamento, que degrada as almas. Chega um dia – o nosso – em que a filosofia moderna, naturalmente, atinge o seu último estágio de amadurecimento, de apodrecimento, e em que ao fim, consciente do que trazia em si, a ouvimos anunciar claramente o que era, sem saber muito bem, desde sempre. Eis aqui o que um filósofo moderno escreveu em 1966, em um numero de revista dedicado a um tal Jean Paul Sartre: “Fazer-se ouvir não é atrair a simpatia. É semear o terror. A filosofia de amanhã será terrorista. De forma alguma filosofia do terrorismo, senão filosofia terrorista, ligada a uma prática política do terrorismo”. Essa é toda a filosofia moderna que estava ligada substancialmente a pratica do terrorismo por ela iluminado. Semelhante declaração não espantaria em nada um Charles de Koninck e tampouco espantará um Gilson. O desiderato principal e último da filosofia moderna não está em um erro da inteligência, senão em uma revolta da vontade, é um non serviam universalmente destruidor. De Descartes - que certamente teria se horrorizado -, de Descartes a Kant, de Kant a Hegel, de Hegel ao coquetel molotov, a consequência é valida. Eu não vim vos dizer: “Eu” já havia dito... Sei que não inventei nada. Venho vos dizer: tudo está em Péguy. Principalmente. E em Chesterton. E em Charles de Koninck... e em uns vinte mais.  Cem vezes anunciado, desmontado, demonstrado. Com quarenta, cinquenta, sessenta anos de antecipação. A comédia que representa a Revolução tem suas paginas escritas ponto por ponto, há muito tempo, com todas as notas explicativas de rodapé. Já é hora de finalmente compreendê-la. Já é hora.

Jean MADIRAN (1920-2013). Después de la Revolución de mayo. Revista Verbo n. 67-68. Originalmente em Itineraires n.124, 1968.

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