Jorge
de Lima*
Que
canseira tremenda neste fim de tarde! Nem vontade de nenhum alimento nem de
nenhuma distração a não ser o desejo de ficar a noite, toda esta longa noite
convosco, Cristo Rei! A noite vem e os homens vão dormir mais uma vez e as
noites serão cada vez menos, até a noite da Eternidade. A caminho da morte as
noites vão, vão, vão! O silencio foi feito para a noite e a vigília na noite
põe o homem mais próximo de Deus. Há pássaros que vivem de noite, há frutos que
amaduram de noite, há flores que só dão de noite, há cantos que só se ouvem de
noite. Cristo Rei que encheis o silencio e o espaço da noite e que estais
comigo em todas as horas da noite e fechais os olhos dos que vão dormir e que
vão morrer durante esta noite, Cristo Rei ficai comigo dentro de minha noite.
Os que vão sem destino e sem poiso na escuridão e os que vão pelos cais, pelas
ruas desertas, os que caem na sombra, os doentes sem cura precisam vos
encontrar nesta noite longa, Cristo Rei, precisam vos encontrar nos seus leitos
de morte, nas suas vielas, nas suas quedas da noite. A noite mansa desce como
uma fronte cansada. Cristo Rei amparai a minha fronte cansada dos pesadelos da
vida, das angustias da hora, da inquietação dos dias dos homens! Cristo Rei
iluminai a escuridão de meu espírito, enchei totalmente o espaço imenso que a
iniquidade do mundo põe no cérebro de todos os seres inquietos dentro da noite
longa. Não terei medo junto de meu Rei! Há lobos lá fora! Cristo Rei não me
abandoneis dentro da noite longa.
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*In. Revista A Ordem, n. 83, 1937, p. 88.
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