Não deixeis ainda de chorar sobre os berços, desejando sempre
promover singelas festinhas sobre o túmulo da criança que morre em nossos dias.
Custa-me demais suportar o abandono crudelíssimo da criança, sem experimentar
revoltas tremendas nos meu coração.
Ela vai a escola, mas naquele luxuoso
estabelecimento não há um indicio de Religião; não falam em Deus os seus
livros; ocupam-se de tudo os seus mestres, exceto de religião.
A criança entoa
hinos à bandeira, faz ginástica, canta as glórias dos patrícios que se
distinguiram pelo saber e pelo valor militar; mas não a ginástica da alma – o
exercício da virtude –, não canta um hino ao estandarte da pátria celestial – a
Cruz -, não glorifica aos heróis do bem – os Santos -, não louva ao autor
supremo de todas as cousas – Deus.
Começou
a aula.
Esta de
posse de sua carteirinha de estudos: ao lado um colega procura dissipá-la a
todo transe... na frente um outro prende a sua atenção... além, companheiros
cínicos.
Nos
recreios aconselhados para descanso do espírito, brinca bastante, faz queixas
dos colegas, e estes queixam-se dela também.
Volta
de novo ao estudo e, depois de pequeno esforço é chamada a dar lição. Expõe o
que aprende, recebe explicações da mestra e regressa pressurosa à casa. Pela
rua à fora recebe mil insinuações para o mal, conversas indecentes, vistas
livres, insultos a velhinhos que passam, altercações grosseiras entre pessoas
sem educação, deboche e até blasfêmias. Falam-lhe sobre fitas de cinema, senas
de círculos, crimes sensacionais, escândalos dados, prisões efetuadas,
valentias e suicídios.
Ouve
falar de tudo menos da verdade, do bem, da virtude, de Deus. Ei-la ao pé da
escada do rico palacete que habita, sobe aos pulos de alegria, chega ao
refeitório de repente... pergunta pela mãe; não está, saiu a passeio, não
voltará tão cedo. A criança tem alguma fome, pede pão e goiabada e a governanta
mau humorada, não lhe atende.
Muda-lhe
as roupas sem um carinho, injuriando-o algumas vezes, outras vezes lhe dá –
piparotes. Nova série de maus exemplos nos remansos do lar doméstico: conversas
de namoros, narrativas de fatos escabrosos, figuras asquerosas, e mil outros
escândalos que penetram pelas portas a dentro dos lares, onde não há vigilância
moral, onde não se teme a Deus e não se pensa no Céu. Batem 5 horas, quando vem
entrando a sua mãe brigando contra a engomadeira, contra a modista e até contra
a professora de seu filho, para o qual ainda não teve hoje um beijo, uma
caricia, uma demonstração de verdadeiro amor. Volta-se arrebatada para ele e
beija-o secamente, parecendo fazer esforço supremo...
Não
terminou esta cena dolorosa, quando entra o pai chamando ao filho – diabinho
mimoso, safadinho do meu coração, homem de futuro e tantas outras expressões
próprias de almas sem formação. À noite a criança vai para o leito, sem uma
Ave-Maria, como se levanta pela manhã.
Os
berços de tais famílias merecem lágrimas, somente lágrimas...
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Padre
Tabosa. Lágrimas ainda?, Publicado na Revista A Cruz.
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