terça-feira, 14 de abril de 2015

RECONQUISTAR! COMO?

Artigo “¡Reconquistar! ¿Cómo?”, do R.P. Xavier BEAUVAIS, divulgado na Revista Iesus Christus nº 78 do Distrito da América do Sul da Fraternidade Sacerdotal São Pio X [e publicado no Brasil pelo MJCB – Movimento da Juventude Católica do Brasil].
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Porque “o zelo para a reconquista é primeiro uma obra sobrenatural, temos que apoiar-nos primeiro sobre os meios sobrenaturais” (1), estes mesmos que forjam toda vida cristã, vida que não é outra que uma ascensão permanente e ininterrupta à santidade, pois o essencial é a visão de Deus, o desenvolvimento pleno da graça santificante.
A reconquista passa então pelos meios ordinários dispostos pela Providência, principalmente a vida sacramental.
A reconquista passa pela prática dos mandamentos de Deus: ou seja, “ver tudo e fazer tudo sob esse ângulo, sob o ângulo das virtudes, o que nos trará um impulso novo, uma perfeição nova: a virtude de justiça para Deus, pelo serviço de Deus e da Igreja, pela adoração, o sacrifício; na temperança, a humildade, a fortaleza, tudo isto coroado pelas virtudes teologais” (2).
Se queremos reconstruir a cristandade, devemos absolutamente voltar a encontrar esse fervor, essa santidade que foi a origem de dita cristandade.
A Cristandade é merecida quando os cristãos combatem. Levemos então esta vida cristã profunda com tudo o que isso implica – de orações, de virtudes e de sacrifícios – para permanecer fiéis.
A crise da Igreja não admite outro remédio que a santidade dos fiéis. Temos que fazer de nossos corações templos sustentados por quatro colunas: a fé, os sacramentos, a oração, os mandamentos. Templos onde deve reinar a Virgem Maria.
Nosso combate pede todas as forças sobrenaturais que são necessárias para lutar contra aquele que quer destruir-nos.
Devemos ser conscientes deste combate dramático, apocalíptico, no qual vivemos, e não minimizá-lo.
“O que é um tradicionalista?”, perguntava Dom Lefebvre em um sermão que pronunciou em São Nicolas do Chardonnet, em Paris, no ano de 1987:
“É aquele que crê, que tem a fé e que quer que esta fé seja íntegra. Também é aquele que se esforça com todo o seu coração, com toda a sua alma, por observar a Lei de Deus e os preceitos do Evangelho para ser conformes à vontade de Deus”.
“Se esforça então por evitar o pecado, que considera como o mal de sua alma. Mas sabe que é débil, que tem necessidade de todos os socorros que o Bom Deus transmitiu por intermédio de sua Igreja: os sacramentos, e em particular o Santo Sacrifício da Missa e a devoção à Santíssima Virgem”.
“Mudar os homens seria uma obra muito decepcionante se não fosse acompanhada primeiro com um trabalho essencial no fundo de nossas almas”(3). O essencial de nossa vida cristã permanecerá sempre no amor de Deus, e esse amor deve ser tudo para nosso coração, será a luz de nossa inteligência.
Trata-se de amar a Deus acima de tudo, simplesmente, e este amor é terrivelmente exigente.
Quando se descuida da verdade evangélica, quando se abandona a virtude e a vida cristã à qual o Divino Redentor chama todos os homens; então, tudo cai por terra, tudo vacila, e cedo ou tarde tudo perece miseravelmente.
batismo nos alistou em uma milícia: a milícia de Jesus Cristo.
crisma nos deu as armas necessárias para o combate.
confissão reparará nossas almas ao mesmo tempo que nos dará ”fortaleza e vigilância para discernir as tentações e combatê-las”(4).
Reconquistar nossas almas pela confissão!
“Os pecados que chamamos leves, não os tenha por inofensivos, diz Santo Agostinho; se os tem por inofensivos quando os pesa, treme quando os conta. Qual é nossa esperança? Primeiro a confissão, depois, a dileção”.
Uma boa confissão é uma vida nova que começa.
Confessar-se é esvaziar seu coração de todo outro amor que não seja o de Deus.
Tenham em suas consciências a inquietude de Deus. Vejam esses corações, sujos com torpezas, atos sórdidos, faltas leprosas que deixam boiar no olhar luzes que não enganam.
As quedas finais, as que liquidaram tudo: a decência, o pudor, o respeito por si mesmo, por seu corpo, por sua palavra, e Deus com todo o resto, não são mais que o resultado de centenas de pequenas renúncias prévias.
“Carregados com paixões, com debilidades e com faltas, um se cansa, outro cede, e se diz que não chegará nunca a tirar de cima esse odor de barro e de pecado que nos acompanha”(5).
Como? Não renunciaremos! Que maior misericórdia que o sacramento da penitência!
“Em cada queda nos levantaremos”, e de joelhos, diante de Jesus Cristo na pessoa do sacerdote, nosso pai, confessaremos humildemente nossas faltas, ”decididos” com a força desse sacramento ”a ser tão mais vigilantes quanto mais débeis nos sintamos”(6).
comunhão nos fará avançar porque fortalece. Se não são fortes, de quem é a culpa? Os senhores dispõem de toda a força que da tal sacramento já que lhes da Aquele mesmo que é a Fortaleza.
O grande meio de entrar no caminho da perfeição, da santidade é entregar-se a Deus.
Nosso Senhor anda conosco, nos nutre desse sacramento graças ao sacerdotes da Fraternidade São Pio X e os poucos outros, fiéis à Tradição, conservando e aumentando em nós a vida da graça, pois toda alma cristã deve crescer.
Esta santidade extrai-se de sua fonte, da Missa católica, a Missa tridentina, pois somente ela é certamente missionária, apostólica, tão somente ela contém tudo o que pode fazer voltar Deus às almas, e ninguém estranhará ao ver florescer esplêndidas vocações sacerdotais e religiosas nos lares ardentes onde o pai e a mãe acodem a extrair da Missa e da comunhão diária ou quase diária as forças necessárias para renovar seu fervor e sua generosidade.
É dessa Missa que extrairão as graças de fidelidade, de conversão e de salvação. Tenham fé nas graças da Missa. Que espetáculo miserável se dá na maioria de nossos Priorados ao ver a Missa diária inclusive às vezes sem nenhum fiel.
Que a oração tenha seu lugar capital na reconquista. Antes da ação, a oração; durante a ação, a oração, e depois da ação também a oração, pois nossa ação deve proceder de um coração transformado no coração de Jesus Cristo e de Maria. É inútil sonhar com uma elite sem a oração. Toda ação, ainda que política, deve ser o fruto de nossa vida interior; senão, está destinada ao fracasso, tal como comprovamos na política há séculos.
Armemo-nos de nosso terço como de um estilingue, assim como recomendava São Luís Maria a seus missionários:

“arderemos como fogos
lutaremos como cachorros.
Esclareceremos as trevas como verdadeiros sóis,
esmagaremos em todo lugar onde formos
a cabeça da serpente”.
Mais uma vez, não se formam elites sem a oração; dela extraímos nossa convicção de católicos.
Aqueles que conheceram a guerra – dizia Dom Lefebvre – recordar-se-ão de que a gente se punha a rezar quando as bombas começavam a cair. Neste momento, hoje, caem outras bombas, e quantos dos nossos vacilam e morrem sob estas bombas!
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Como reconquistar?
Pela defesa da Verdade
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Isto é ser confessor da fé. É impossível calar-nos, debilitar a Lei de Deus para adaptá-la ao gosto das vontades humanas.
Se queremos defender a verdade, comecemos por localizar-nos na verdade e na humildade.
Um católico orgulhoso de sua fé não pode aceitar a condição de cachorro mudo, pois um cachorro que não late perdeu sua função própria.
Como afirmava Gustavo Corção, “saibamos latir e saibamos também morder. Tenhamos esse bom olfato para sentir de longe o lobo e o leão que rodeiam o seio da Igreja, buscando a quem devorar.
“Tratemos de farejar de longe o mal hálito dos mercenários que dialogam com o lobo, enquanto este devora tranquilamente as ovelhas.
“Tenhamos o mesmo bom ouvido do cachorro do gramofone, cuja alegria reside no reconhecimento da voz de seu mestre”.
Aos verdadeiros cristãos, aos filhos da luz lhes corresponde reagir contra o  liberalismo, submetendo à verdade a inteligência e todos os atos de nossa vida privada e pública.
Mas se guardamos a Verdade, se rejeitamos as ideologias modernas, é para mantermo-nos em uma passividade farisaica?
As almas morrem de fome e de sede. Cabe a nós fazê-las conhecer a Verdade religiosa que por si só pode satisfazer as almas, mas primeiro devemos conhecê-la nós mesmos.
Na Tradição Católica há uma só doutrina, um pensamento capaz de esclarecer todos os campos da inteligência e do pensamento, capaz de dar-lhes a verdadeira liberdade aos homens, a da vida interior.
Convém que formemo-nos urgentemente na doutrina contra-revolucionária ao invés de resmungar esterilmente contra um mundo que já não anda mais.
Mais uma vez, são sejamos cachorros mudos.
Atrever-se a proclamar a Verdade, atrever-se a proclamar o reinado social de Nosso Senhor Jesus Cristo, isto soa mal diante dos ouvidos do mundo laico, do mundo eclesiástico de hoje. Não é, como se diz: “politicamente correto”; vamos passar por atrasados, surdos, sujos… o que nos importa?
Temos que ganhar os corações por meio da chama da caridade, sim, mas sem esquecermos de esclarecer as inteligências com a luz da verdade.
Há que dizer a verdade com amor, tal como nos é dita. Sim, mas falar com amor não quer dizer falar sem força. O Amor é uma força diante da qual nenhuma força pode resistir: a tudo vence, tudo o atrai.
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Como reconquistar?
Por nosso zelo
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Nosso ardor missionário, “nosso zelo pela reconquista descansa sobre três coisas que encontramos nos grandes apóstolos” (7):
– O zelo pela glória de Deus, ou o que é o mesmo, “buscar a glória de Deus em todas as coisas, ou seja, viver na humildade” (8).
Deus faz tudo para sua glória.
Quanto a nós, devemos trabalhar para sua glória, e não para nossa pequena pessoa. Quem somos? pequenos instrumentos nas mãos de Deus!
– O zelo pela nossa santificação. “O amor de Deus deve ser a alma de nossa vida cristã, o motor de nosso zelo” (9).
Como já dissemos, este zelo é nutrido com a oração, é cultivado por meio dos sacramentos, e a condição para que dê frutos é permanecer unidos a Deus, pois senão, cairemos na esterilidade.
– O zelo pelo dever de estado. “O que vêem os homens são os frutos que derivam de nossa vida interior: uma vida familiar edificante, uma vida profissional virtuosa (…) A retidão de vida deixará sempre um testemunho”(10).
Deus é quem anima nosso zelo, quando nos diz:
“Tenham confiança, Eu venci o mundo”.
Com tudo isto, nosso zelo apostólico dará frutos.
Comprometamo-nos no apostolado com o coração ardente de amor a Deus, sem medir nossas penas.
Que nosso exemplo sem orgulho disfarçado e sem falsa modéstia, brilhe diante dos olhos dos homens; assim atrairemos mais facilmente os corações a nós mesmos, para assim ganhá-los para Nosso Senhor Jesus Cristo, pois trata-se disto: ganhar as almas tristemente sentadas na sombra da morte.
A opinião aburguesada dos católicos bem instalados não nos interessa; o que nos importa é o bem da família, de nossa Igreja que é a salvação de todos, daqueles que merecem e desmerecem, daqueles que querem e daqueles que não querem se salvar.
Basta com aqueles que veem nossa Igreja se perder e nossa pátria sem encontrar mais remédios que falar sobre a necessidade de remediar tal situação. Atuemos! Senão, vamos cair em uma espécie de romanticismo que alguém definia como um suicídio cotidiano diante de um espelho.
“Quando desaparecem os santos, aparecem os afeminados. Quando desaparecem as conquistas, chegam as contas da administração. Quando desaparecem os guerreiros, aparecem os políticos. Quando desaparecem os fundadores, aparecem os preceptores” (11).
Então, a reconquista por meio do apostolado é para reaprender a conhecer Jesus Cristo, a quem tudo devemos.
A todos aqueles que perderam seu caminho, a todos aqueles que erram, que morrem, saibamos nutri-los de Jesus Cristo, de nossa doutrina.
Temos uma missão: reconquistar as almas, arrancando-as do pecado. Ganhem-nas! Mas para isto, preserve-se das armadilhas que o demônio e o mundo não cessarão de pôr sob nossos passos.
Missão grandiosa!
Há um grande erro em querer opor a santificação pessoal à obra do apostolado da salvação das almas. São duas atividades complementares, tão unidas, que me atrevo a dizer que não se pode progredir em uma sem fazer a outra.
“Aquele que não tem zelo não ama”, dizia Santo Agostinho. De fato, o amor é conquistador. É porque ama Deus acima de tudo que o sacerdote tem uma alma de conquistador, e a um nível inferior, mas real, todos aqueles que contraíram matrimonio sabem quão conquistador é o amor.

“Se a verdade que possuem permanecesse neles como um objeto de contemplação em vista de uma alegria espiritual, não serviria para a causa da paz. A verdade deve ser vivida, comunicada, aplicada em todos os campos da vida” (12).

Que nossa reconquista reflita a de Deus, que seja tão esclarecedora e vivificante, como generosa e amante.

“A Igreja é militante, e então é uma luta contínua. Esta luta faz do mundo um verdadeiro campo de batalha e de todo cristão um soldado valente que combate sob o estandarte da cruz; com uma mão repele o inimigo, com a outra eleva as paredes do templo e trabalha em santificar-se” (13).

Não existe um sem o outro.
Deem uma mostra de tenacidade no prosseguimento deste ideal: ganhar os homens para Deus.
Sejam testemunhas de Jesus Cristo em todos os seus atos.
Um soldado não deve ter medo de se cansar por seu chefe. Sem espírito missionário um homem se amorna, se rebaixa e o espírito do mundo nos invade.
Evangelizar é gritar por Jesus Cristo em meio do alvoroço carnavalesco onde cada um faz publicidade e vende sua lamentável mercadoria no grande circo ecumênico de hoje.
Fortes na sua vida interior, poderão e deverão ser essa elite que dá o exemplo, que atrai as massas, uma elite intelectual e espiritual.
Finalmente, não há reconquista possível sem vocações.
Às centenas deveriam se levantar os varões e as mulheres para entrar no serviço exclusivo de Nosso Senhor.
Há uma grande tarefa mais urgente, mais elevada que as mais formosas profissões, há uma vida mais profunda que transmitir que aquela que transmitem os esposos católicos.
Mas não há segredos, afirmava Dom Marcel Lefebvre:

“Em nossas escolas católicas é onde encontraremos os futuros sacerdotes católicos. É claro. E como consequência, em suas famílias católicas com numerosos filhos, ali nascerão as vocações e as futuras famílias cristãs.”

É impossível pensar em uma restauração da sociedade cristã sem a transmissão da sabedoria cristã, sem a formação do espírito e do coração das crianças, que é a razão essencial das escolas que começam a nascer no Distrito (La Reja – Viña del Mar – Anisacate, com as Irmãs Dominicanas).
Há alguma milícia que possa aceitar uma alma batizada mais formosa que a milícia sacerdotal?

“Que se volte ao espírito de vitória, de sacrifício, de união com Nosso Senhor Jesus Cristo no altar, e as vocações florescerão de novo, tornar-se-ão numerosas”, concluía Dom Lefebvre.
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Padre Xavier Beauvais
Antigo superior do Distrito da América do Sul
[e atual diretor espiritual do grupo francês de leigos Civitas]
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(1) R.P. Alain Delagneau, na publicação ”Marchons Droit”.
(2) R.P. François Pivert, no boletim ”Le combat de la foi”.
(3) León Degrelle, de seu livro ”Almas ardendo”.
(4) R.P. Alain Delagneau, op. cit.
(5) León Degrelle, op. cit.
(6) León Degrelle, op. cit.
(7) R.P. Alain Delagneau, op. cit.
(8) R.P. Alain Delagneau, op. cit.
(9) R.P. Alain Delagneau, op. cit.
(10) R.P. Alain Delagneau, op. cit.
(11) Ignacio Braulio Anzoátegui.
(12) Sua Santidade Pio XII.

(13) Sua Santidade Pio XI.

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