A crise que afeta o mundo moderno e contemporâneo
é crise de fundamento, de um fundamento absoluto da verdade e dos valores
humanos; “ruptura” entre Deus e o homem. A sociedade hodierna, excetuando
núcleos isolados, encontra-se “desintegrada”, é uma sociedade de homens
intelectual e moralmente desintegrados: falta-lhe a unidade fundamental. Esta
falta é também advertida pelos responsáveis por tal desintegração. Daqui a
reconhecida necessidade do absoluto, que o pensamento moderno, a começar no
século XVI, pensou poder dispensar ou substituir, absolutizando os valores
humanos válidos como tais, sempre necessitados de se fundarem sobre o absoluto,
ou de o testemunharem. Mas este absoluto constitui o objeto próprio da
metafísica; então, o mundo moderno julgou que podia dispensá-la. Àquilo que a
filosofia chama absoluto, com mais gravidade e sem possibilidade de equívocos,
a teologia chama Deus; ainda uma vez a ilusão do pensamento laicista se revela
com o julgar poder prescindir de Deus. Perdido Deus, perdeu-se o homem, o
fundamento do homem e o seu fim supremo. Sem Deus, a vida humana despedaça-se e
dispersa-se, desintegra-se. A carência de absoluto, hoje, é carência de Deus,
após a queda de tantos e tantos mitos.
Michele Federico SCIACCA. A hora
de Cristo, Lisboa-São Paulo: Aster-Flamboyant, 1959, p. 49.
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