Senhor, eu chego a
ti, porque trabalhei em teu nome. Para ti, as sementeiras.
Construí este
círio. Pertence-te acendê-lo.
Construí este
templo. Cabe-te habitar o seu silêncio.
A presa não é para
mim. Eu limitei-me a construir o laço.
Tome essa atitude
para ser animado por ela. Construí um homem segundo as tuas divinas linhas de
força, para que ele caminhe. Pertence-te usar do veículo, se vires nisso a tua
glória.
Assim, do alto das
muralhas, lancei um profundo suspiro. Adeus, meu povo – pensava eu. Esvaziei-me
do meu amor e vou dormir. No entanto, sou tão invencível como a semente. EU não
disse todos os aspectos do meu rosto. Mas criar não é enunciar. Consegui
exprimir-me inteiramente, se emiti um som que é aquele e não outro. Se amei uma
atitude, que é aquele e não outra. Se introduzi na massa um fermento que é tal
fermento e não outro. Daqui para o futuro, todos vós nascentes de mim. Se se
vos deparar um ato a escolher entre outros, haveis de encontrar o invisível declive
que vos fará desenvolver a minha árvore, e vos realizardes assim de acordo
comigo.
Vós vos sentireis
livres, e eu morto. Com essa liberdade que o rio tem de se dirigir para o mar
ou a pedra abandonada de descer.
Criai ramos. Criai
flores e frutos. Hão de vos pesar na vindima.
Ó meu povo amado,
se eu te aumentei a herança, sê fiel de geração em geração.
Enquanto a
sentinela dava os cem passos, eu rezava e meditava.
O meu império
destaca-me sentinelas que vigilam. Vi assim a atear esse fogo que, n a
sentinela, se torna chama de vigilância.
Que belo é o meu
soldado quando olha.
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Antoine de SAINT-EXUPÉRY.
Cidadela, trad. Ruy Belo, São Paulo-Lisboa: Quadrante-Aster, CXXX p. 203-204.
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