(Argel,1943)
“Senhor, dai-me a paz dos estábulos,
a paz das coisas organizadas, das colheitas realizadas.
Permiti que eu seja, tendo terminado
de tornar-me, estou cansado dos lutos do meu coração, estou velho demais para
recomeçar, perdi um após outro meus amigos e meus inimigos, e em meu caminho
fez-se uma luz de ócios tristes.
Meu Deus, afastei-me de vós, mas
voltei, vi os homens ao redor do velocino de ouro, não interessantes, mas
estúpidos, e as crianças que nascem hoje são mais estrangeiras que os jovens
bárbaros. Sinto-me carregado de tesouros inúteis como de uma música que não
será jamais compreendida. Comecei minha obra com o machado de lenhador na
floresta, e estava embriagado com o cântico das árvores, mas, agora que vi de
muito perto os homens, estou cansado.
Aparecei perante mim, Senhor, pois tudo
é duro quando se perde o gosto de Deus.
Em que se reencontrar, lar, costumes,
crenças, eis o que é tão difícil hoje e o que torna tudo tão amargo...
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Antoine de
SAINT-EXUPÉRY. Cartas do Pequeno Príncipe,
BH-SP: Itatiaia, 1974, p. 38.
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