segunda-feira, 30 de novembro de 2015

LUTA CONTRA O DESÂNIMO

       

(Argel,1943)

         “Senhor, dai-me a paz dos estábulos, a paz das coisas organizadas, das colheitas realizadas.
         Permiti que eu seja, tendo terminado de tornar-me, estou cansado dos lutos do meu coração, estou velho demais para recomeçar, perdi um após outro meus amigos e meus inimigos, e em meu caminho fez-se uma luz de ócios tristes.
         Meu Deus, afastei-me de vós, mas voltei, vi os homens ao redor do velocino de ouro, não interessantes, mas estúpidos, e as crianças que nascem hoje são mais estrangeiras que os jovens bárbaros. Sinto-me carregado de tesouros inúteis como de uma música que não será jamais compreendida. Comecei minha obra com o machado de lenhador na floresta, e estava embriagado com o cântico das árvores, mas, agora que vi de muito perto os homens, estou cansado.
         Aparecei perante mim, Senhor, pois tudo é duro quando se perde o gosto de Deus.
         Em que se reencontrar, lar, costumes, crenças, eis o que é tão difícil hoje e o que torna tudo tão amargo...

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Antoine de SAINT-EXUPÉRY. Cartas do Pequeno Príncipe, BH-SP: Itatiaia, 1974, p. 38.

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