Abandonamos
o magistério dos heróis, das mais altas excelências de vida, para
conformarmo-nos “cada vez mais aos procedimentos da natureza”, mecanizada,
impessoal e cega. E é, todavia, uma pseudofilosofia empírica e utilitária, com
seu cortejo de virtudes pequeno-burguesas, a que fundamenta nossa pedagogia
oficial. Compreende-se que o materialismo em todas suas formas, que se reduzem
sempre ao tipo ideológico forjado pela experiência sensível o sentido econômico
das coisas, tenha um caráter eminentemente populista e tenha gozado sempre do
favor da multidão. Somente uma mentalidade pequena é capaz de hipóteses tão grosseiras
como o evolucionismo darwinista ou o materialismo histórico. Somente a vulgaridade
irremissível da época pode consagrar-lhe seu entusiasmo e sua devoção. Platão,
primeiro entre os pares da mais alta aristocracia da inteligência que já
existiu, assinalou a origem plebeia de toda forma de empirismo e de
utilitarismo. Isto não exclui a presença de qualidades respeitáveis nos
depositários desse espírito pragmático: capacidade de trabalho, tenacidade,
exatidão, paciência, pontualidade etc.. Ao contrário, é sinal inequívoco de
autentica aristocracia do espírito a veneração da antiguidade e o orgulho de
uma origem elevada; afirmar os mesmos princípios e as mesmas razões últimas que
foram reconhecidas e respeitadas no passado; querer que a mesma fé a mesma
identidade dos antecessores sejam ainda hoje nossa fé e nossa fidelidade.
O
ódio à antiguidade e aos valores permanentes é o sinal da mediocridade
irrevogável. As almas plebeias não reconhecem normas imutáveis nem arquétipos definitivos;
confundem o respeito com a urbanidade e o pudor com a higiene. Os materialistas
expõem este incurável ressentimento contra o ser, em linguagem mais direta e
mais clara que seus tímidos sequazes: “Tudo o que existe merece perecer”,
declara Engels e aderem todos os amantes do progresso indefinido, para quem a
Idade de Ouro está sempre no porvir... O empirismo que informa nossa pedagogia
liberal é a filosofia típica dos pequenos burgueses; uma espécie vergonhosa de
materialismo, uma forma dissimulada, oportunista e farisaica dessa mesma
ideologia que se expressa na linguagem cínica e audaz dos doutrinários
marxistas. É uma linguagem própria dos tíbios e dos cômodos, cujo léxico
padecemos longamente nas escolas: evolução, adaptação ao meio, seleção natural,
progresso indefinido, livre pensamento, expansão ilimitada da individualidade, tolerâncias,
liberalidade, humanidade etc.
O
recurso crítico empregado igualmente por empiristas e materialistas é a
historia natural do espírito e de seus bens transcendentes ou objetivos: religião,
filosofia, arte, moral e direito. Uma vez que se fixa a origem da crença
religiosa na ignorância e no temor, e se faz radicar a especulação filosófica em
um estado oculto da inteligência; uma vez que o espírito e seus conteúdos próprios
são reduzidos por essa crítica perversa às condições materiais ou razões
externas de sua existência, não resta outro princípio que a utilidade para
forjar uma explicação universal do destino do homem, nem outro fundamento que a
economia para construir a sociedade, nem outro método cientifico que o
experimental para dar um sentido positivo ao esforço e assegurar a melhora
progressiva das condições de vida, fim ultimo de todos os afãs do homem.
Assim
se chega a propor como progresso a substituição do magistério do modelo divino
e dos grandes homens, por essa tendência da vida do individuo e da sociedade a
imitar os processos mecânicos do mundo físico e o equilíbrio das forças cegas,
que estuda a ciência empírico-matematica da natureza. É o programa de
socialização radical da economia e da nivelação completa dos indivíduos,
mediante sua adaptação e ajude a uma administração coletiva da Sociedade, mercê
a um processo que converta a comunidade de todos os homens em um imenso
mecanismo de produção e distribuição coletivas, onde cada indivíduo não seja
mais que uma ínfima peça articulada com todas as demais. A força resultante
dessa combinação de elementos insignificantes em si e facilmente substituíveis teve
poder suficiente como para assegurar o máximo de bem estar e de estabilidade a
todas as pelas do conjunto. Se conseguiu
desse modo o extremo envilecimento do homem, a escravidão irremediável do
individuo à espécie. Se a inteligência não tem em nós mais que um mero valor de
instrumento de trabalho, os indivíduos e os povos não são mais que funções de
melhoramento indefinido das condições materiais da vida, que acompanharão os
sempre novos exemplares da espécie.
Ocorre,
pois, que o homem se manifesta como instrumento das condições externas de sua existência,
em lugar de serem estas, o meio para a perfeição de seu ser e para o
cumprimento de seu fim político e espiritual. Tais são os caminhos para onde
leva essa pedagogia liberal e cosmopolita que suportamos durante sessenta anos
e que comprometeu, mais que nosso patrimônio material, a existência mesmo de
nossa individualidade moral e política. A educação estrutura sobre os valores utilitários,
desvinculada da formação ética da pessoa, que prega um pacifismo
internacionalista, o menosprezo da Cruz com seu laicismo beligerante e o
menosprezo da Espada com seu ódio aos homens que a levantam, necessitava ser
reintegrada a sua verdadeira função especifica: a de formar o homem no
conhecimento da verdade e na vida da justiça, quer dizer, no serviço de Deus e
da Pátria. A tarefa primordial consiste em reestabelecer a hierarquia da inteligência
mediante o cultivo da filosofia perene, cujas fontes vivas são os grandes
mestres clássicos – Platão, Aristóteles, santo Agostinho e Santo Tomás -; assim
como beber daqueles exímios doutores da Espanha Imperial, mestres de doutrina
oral e jurídica como Vitória e Suárez, a fim de devolver à Política seu status
de ciência arquitetônica e à antiga prudência aos varões esclarecidos, que
terão presente na legislação temporal e perecível, a contemplação da verdade
eterna a ordem imutável do ser.
À
política educacional, no que atine a formação do caráter nas almas juvenis, se propõe
restituir a pedagogia dos Santos e dos Heróis a fim de que voltem a brilhar na
conduta do cidadão, a fortaleza, a prudência e a justiça dos modelos
escolhidos. O cumprimento desse ideal educativo, solidamente estabelecido, dará
como resultado a aparição de cidadãos exemplares nos quais se integrará uma
alma serena e firme com um espírito vivo e brilhante...
____ Jordán Bruno GENTA.
El magistério de lós arquétipos de la nacionalidad, 20 de junho de 1944, pp.
100-104.
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