"Só pode ser na casa. Na casa
de família. Na casa que se fecha, não para isolar-se da cidade, mas para
abrigar da chuva e do vento a boa sementeira da amizade... Disse que a casa é
um segredo. De fato o é. Ou deve ser. Deve ser uma interioridade. Uma
intimidade. Uma intimidade de afeições e uma intimidade de aflições. Um mundo
de recato. Uma história escondida. Mas dentro desse segredo que abriga uma família
há um outro segredo que se esconde da família. Naquela gruta de pedra há uma
concha fechada e dentro dessa concha um segredo maior, escondido na intimidade
e no segredo da casa. Os esposos se escondem. Escondem-se da casa, dentro da
casa. Fecham-se dentro do que já é fechado. Abrigam-se no interior do que já é
abrigado. E assim é que, nesse último reduto, nesse último porto, nesse abrigo,
nessa concha, preparam não só o amor e a justiça, mas também o fruto dessa
justiça e desse amor."
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Gustavo Corção. A casa, artigo
publicado em O Globo, 03/01/1976.
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