“Insistimos neste ponto: das três
virtudes teologais, a mais contrastante com os anseios naturais da vida humana,
a mais transformadora de critérios e valores, é, sem dúvida, a peregrina
virtude da Esperança, que Péguy e Brasilliach, dois poetas, dois heróis, que os
mandarins da gauche catholique
rejeitaram, viram com os traços de uma menina pobre, espécie de gata
borralheira das virtudes teologais. No mundo moderno, a feroz avidez de bens
terrestres, a polifórmica gulodice dos olhos, dos ouvidos, da boca e do sexo
ainda procura uma forma de fé adulterada, ainda nos engana com uma hedionda
caricatura da caridade, mas a divina Esperança é frontalmente rejeitada. Toda a
crise do mundo católico secularizado, temporalizado, agachado, ávido de terra,
de pó, de palha e de carne, é principalmente uma febre de desesperança. Os
chamados progressistas querem aqui e agora o pagamento das promessas, e ameaçam
levar à falência a Igreja, má pagadora neste mundo. Querem o resgate dos
títulos de felicidade terrestre, e não o das almas”.
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Gustavo CORÇÃO. A esperança.
07-10-1972.__________________
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