A 31 de Maio deste ano foi
canonizado João Maria Batista Vianney (1786-1850) o celebre Cura d’Ars, ao qual
nestes termos se refere, em um dos últimos números da revista “E’tudes” o jesuíta
Paul Dudou:
Levou
na sua paroquia d’Ars, durante quarenta e um anos, uma vida de santo
(1818-1859).
A
casa dele era a Igreja. De madrugada, já lá estava a rezar. Dizia sua missa,
como um serafim, pregava com uma unção de abalar montanhas; ensinava catecismo
numa linguagem luminosa ainda para os espíritos menos penetrantes; ouvia de
confissão inúmeras pessoas, doze, quinze, dezoito horas seguidas, com uma paciência,
uma bondade, uma autoridade de direção, difícil de imaginar.
Quando
cessava de ser dos outros, nem por isso se pertencia a si próprio.
Refeições
ligeiras, ou antes, repastos de mendigos, temperados com a mortificação
quotidiana. Sono curto e mal, no chão duro; noites passadas em sangrentas
penitencias, em lutas contra os assaltos do “tinhoso”, em conversas com Deus por
meio do breviário ou da oração mental.
Nada
de adegas, nem copa, nem vestiários. Não tinha casa montada. Dinheiro, provisões,
roupas de cama ou de mesa que passavam pela mão desse perdulário, lá se ia tudo
entregue ao primeiro necessitado que se lhe punha diante.
Pouco
se lhe dava do amanhã. O cura d’Ars seguia à risca o programa evangélico
traçado pelo Cristo nos capítulos V e VI de São Mateus.
No
início da carreira pastoral, saia da paróquia, para ajudar os colegas da
vizinhança, quando ausentes, em missões ou jubileus.
A
breve trecho, apegaram-se as almas àquele pregador e àquele confessor que não
se parecia com nenhum outro. De Montmere, Saint Trevier, Savigneux, Caueins,
São Bernardo, Trévoux.
Era
costume ir muita gente a Ars, em busca do homem de Deus, cuja vida e cujos
conselhos tocavam as raias do prodígio.
Assim
é que começou essa romaria que aos poucos arrastava aos pés do santo,
peregrinos de Dombes, da Bresse, do Bugey, do Beaujoiale, do Lyonnais, e da
França inteira, da Bélgica, da Inglaterra e das duas Américas.
Ars,
aldeia obscura do preguiçoso Saône, e dos açudes das Dombes, ficou sendo uma
das encruzilhadas do mundo.
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Publicado em A Cruz, n. 30, de 19 de julho de 1925.
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