É preciso refletir sobre o “evangelho
ambíguo” e sobre os cristãos iludidos que são – ao mesmo tempo – fiéis e
vítimas dele. Eles fizeram o Evangelho cair de sua altitude sobrenatural para
achatá-lo ao nível das aspirações impuras do homem carnal. Sabem que o Evangelho
é místico e que transcende as sociedades humanas, mas, não aceitando plenamente
que essa mística faça cumprir a lei natural, eles chegam a pregar o Evangelho
contra o direito natural, a excomungar em nome do Evangelho os humildes
sustentadores da constituição natural das sociedades. Eles sabem que os
ministros de Cristo são, por estado, os servidores dos seus irmãos em vista do
Reino dos Céus, mas, não aceitando plenamente a dignidade de seus ministros. Se
eles pudessem, fabricariam uma pseudo-Igreja, trabalhando para promover o que
eles chama uma “Igreja pobre”, vazia de seus poderes hierárquicos, imaginando
que ela seria assim mais viva na fé e amor.
Tais falsos apóstolos nos atingem
nas regiões místicas da alma, sem contradizer o que ali se esconde de muito
humano, nos fazem crer que tudo em nós pode ser igualmente satisfeito pelo
Evangelho, ao mesmo tempo o espírito serviçal e a covardia em levar a própria
dignidade; o amor da justiça... mas também o ressentimento; o zelo das almas e
também o consentimento ao mundo. Os desgastes para o povo cristão são
incalculáveis: nada é tão devastador para o cristão como a graça, não digo
renegada e pisada, mas corrompida. A Revolução não pode ter melhores auxiliares
no interior da Igreja de Cristo – e mesmo no mundo em geral – que os apóstolos
desviados, e tantos cristãos iludidos que se alinharam atrás deles.
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R. Th. CALMEL, OP.
Revista Itinéraires n. 106.
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