“Temos, com efeito, o
habito de esperar durante muito tempo os encontros... A terra, assim, é ao
mesmo tempo deserta e rica. Rica desses jardins secretos, escondidos, difíceis de
atingir, mas aos quais o oficio nos conduz sempre, um dia ou outro. A vida nos
separa talvez dos companheiros, e nos impede de pensar muito nisso. Eles estão em
algum lugar, não se sabe bem onde, silenciosos e esquecidos, mas tão fieis! E
se cruzarmos seus caminhos, eles nos sacodem pelos ombros com belos lampejos de
alegria. Sim, nós temos o hábito de esperar. Mas pouco a pouco descobrimos que não
ouviremos nunca mais o riso claro daquele companheiro; descobriremos que aquele
jardim está fechado para sempre. Então começa nosso verdadeiro luto, que não é
desesperado, mas um pouco amargo. Nada, jamais, na verdade, substituirá o
companheiro perdido. Ninguém pode criar velhos companheiros. Nada vale o
tesouro de tantas recordações comuns, de tantas horas más vividas juntos, de
tantas desavenças, de tantas reconciliações, de tantos impulsos afetivos. Não
se reconstroem essas amizades. Seria inútil plantar um carvalho na esperança de
ter, em breve, o abrigo de suas folhas.
Assim vai a vida. A
principio, enriquecemos; plantamos durante anos, mas os anos chegam em que o
tempo destrói esse trabalho, arranca essas arvores. Um a um, os companheiros
nos retiram sua sombra. E aos nossos lutos mistura-se então a mágoa secreta de
envelhecer. Esta moral que Mermoz e tantos outros me ensinaram. A grandeza de
uma profissão é talvez, antes de tudo, unir os homens; só há um verdadeiro
luxo, o das relações humanas.
Trabalhando só pelos bens materiais construímos nós mesmos nossa prisão. Encerramo-nos lá dentro,
solitários, com nossa moeda de cinza que não pode ser trocada por coisa alguma
que valha a pena viver. Se procuro entre minhas lembranças as que me deixaram
um gosto durável, se faço o balanço das horas que valeram a pena, certamente só
encontro aquelas que nenhuma fortuna do mundo ter-me-ia presenteado. Não se
compra a amizade de um Mermoz, de um companheiro a quem estamos ligados para
sempre pelas provas sofridas juntos”.
___ Antoine de
SAINT-EXUPÉRY. Terra dos homens, Rio de Janeiro: José Olympio, 1973, pp. 24-25.
Français Mermoz, Saint-Exupéry e Guillaumet
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