Os biólogos definem
este [o câncer] como uma proliferação anárquica de células que vão devorando os
órgãos, que depois se destroem a si mesmas e conduzem o vivo para a morte. E,
como o câncer representa o auge da desordem biológica, o socialismo representa
o auge da desordem social.
Expliquemo-nos. O
socialismo inclina para o câncer na medida em que implica um desequilíbrio no
exercício do poder político nas relações entre este poder (o Estado) e o
conjunto dos elementos da nação: indivíduos, famílias, empresas, coletividades
locais etc.
A existência do
Estado é uma necessidade para toda a sociedade civilizada. Sua tarefa essencial
consiste em harmonizar as liberdades dos cidadãos; quer dizer, em arbitrar
mediante leis justas (seguidas de coerção no caso de sua inobservância: a força
deve permanecer na lei...), os intercâmbios e conflitos entre os indivíduos e
grupos...
(...)
(...)
Quando a raposa anda
livremente pelo galinheiro, a liberdade das aves, dentro de sua espécie, e o
poder de voltear de um extremo ao outro do cercado não significam nada perto da
agilidade e a avidez do carnívoro.
Nesse sentido, o
socialismo surge como uma reação contra os excessos do liberalismo do século
anterior. Mas esta reação contra os danos causados pela liberdade foi sendo
impulsionada gradualmente até o estrangulamento da própria liberdade.
O Estado, sob o
pretexto de justiça, igualdade, assistência, foi se infiltrando pouco a pouco
nas entranhas do aparato social; monopolizou os créditos, paralisou o trabalho
com os impostos e a poupança com a inflação, atacou a propriedade privada,
única defesa da liberdade, procurou a segurança de cada um com o preço da
escravidão de todos. Em resumo; erigindo-se em espoliador e distribuidor
universal, monstro de duas caras, na qual se combinam o Minotauro e a vaca
leiteira, reduz a nação a um amontoado de indivíduos sem laços entre eles e sem
nenhuma defesa diante de si.
É a definição pura do
câncer. O diagnóstico de Salleron é severo e seu prognóstico pessimista. Para
ele este processo cancerígeno parece difícil endereçar pelas duas razões
seguintes:
1) Porque os líderes
do socialismo, ligados à sua ideologia, estão condenados à fuga para frente,
quer dizer, à uma radicalização crescente de seu método de governo que
desemboca no comunismo, termo fatal da utopia igualitária.
2) Porque grande
parte dos cidadãos digeriram, com o leite, o veneno socialista e se acostumaram
a esperar tudo do Estado e, com isso, perderam o sentido do risco e das
responsabilidades, que é inseparável do amor à liberdade, tal como o bovino,
para quem a segurança do estábulo e a escassez do feno lhe faria esquecer o
jugo.
Onde está, pois, o
remédio? “Ver claro, é ver escuro”, dizia Valéry. Mas, talvez Salleron leve o
pessimismo muito longe.
Há câncer, isto é
certo, mas este câncer não diz respeito a todo organismo social; está no Estado
mais que na nação, no país legal mais que no real, e creio que este é ainda
capaz de ter uma reação saudável. E, mais ainda, porque a evidencia dos
absurdos e dos males que provoca o socialismo salta aos olhos claramente cada vez
mais.
Mas uma mudança da
equipe de governo não basta se não é apoiado por uma reação vital das células
sem câncer. Somos nós que devemos nos agarrar aos últimos farrapos da liberdade
e assumir toda a responsabilidade. Em outros termos, salvaguardar e estender
estas ilhotas de saúde social que o totalitarismo do Estado se afana em
eliminar como relíquias do passado e que, na realidade, são sementes para o
futuro. Será necessário ocorrer uma avalanche de catástrofes econômicas e
políticas? O ignoramos. O que, sem embargo, sabemos é que o processo de
descentralização – ou de descancerização – passa pela consciência e pela
conduta daqueles que recusam a perspectiva de deixar-se devorar pelo câncer.
O socialismo – e o
comunismo para o que inevitavelmente caminha se não nega seus próprios
princípios – se opõem às leis mais elementares e mais comprovadas pela
experiência, da natureza humana e da saúde das sociedades. Logo, já é uma
promessa de vitoria combater tendo a natureza por aliada. O fim deste combate é
a saúde da sociedade, que o triunfo do socialismo asfixiaria em um colapso
próximo da morte.
___ Gustave
THIBON. Louis Salleron nos fala do câncer socialista. Artigo sobre um livro de
Louis Salleron (1905-1989), publicado na revista Itineraires, n. 277, de
novembro de 1983.
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