Lisongeando os
guaranis sob a falsa afirmativa de que lhes roubaram a felicidade;
convencendo-os de que foram donos de uma civilização que os europeus destruíram
com o auxílio do padre; minando o sentimento religioso da ração para edificar a
sociedade à base da matéria e do ateísmo, a bandeira do verbo moscovita é a restauração
do comunismo, sob o fundamento de que este foi a primeira forma de governo do
povo paraguaio.
Mas aqui devemos opor
à mistificação e à falsidade a palavra serena da justiça. É que há um abismo
entre aquilo que se chamou comunismo cristão em Paraguai e o comunismo da
Rússia bolchevista. O espiritualismo não se pode confundir com materialismo.
Comunista no primeiro
sentido é o homem vivendo na terra, mas voltado para o céu. O comunista filiado
às ideias de Marx é mero aparato de utilidade terrestre, homem exclusivamente
voltado para a matéria. O comunismo da Rússia Vermelha é a palavra de
Nietzsche, exortando o homem a conservar-se fiel à terra, sem lembra-se do
Além. Em Paraguai os jesuítas fizeram comunismo vinculando o natural ao
sobrenatural, as coisas da terra às do Alto. Ao guarani apontaram sempre o
caminho que conduz até Deus.
(...)
Não conhecemos erro
mais grosseiro, portanto, que esse de pretender-se desdobrar entre os
descendentes guaranis o lábaro das doutrinas bolchevistas, sobre o fundamento
de que isso consulta às suas tradições comunistas.
___ José de MELO E SILVA.
Fronteiras guaranis: a trajetória da nação cuja cultura dominou a fronteira
Brasil-Paraguai, 2. ed., Campo Grande: Instituto Histórico e Geográfico do Mato
Grosso do Sul, 2003 (1. Ed., 1939), p.
61-62.
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