“Há oitenta anos nos esgotamos em esforços
infrutuosos para criar uma nova sociedade destruindo pela violência os hábitos
e costumes que constituem as grandezas de nossos avós, inspirando-nos em
quimeras condenadas pela natureza do homem. Buscamos na mudança das formas de
governo as melhoras que somente podem ser conquistadas com a volta à virtude.
Nessa busca esquecemos os fatos consagrados pela experiência dos povos para nos
unir à palavras vazias de sentido. Por uma contradição, patente ao simples bom
senso, pretendemos servi-las, e cremos criar o reino do bem com a ajuda de
procedimentos que não haviam ousado usar nem sequer os poderes mais absolutos.
Destruímos não somente os germes da liberdade, mas também as condições de
estabilidade, exagerando fora de medida o papel do Estado em detrimento do
governo local e das corporações para o bem público. Com efeito, arruinamos, com
estas inovações perigosas, as instituições tradicionais que, em todos os
tempos, em todos os países, tornaram suportáveis os regimes de força e
benfeitores os regimes de liberdade. Nosso erro mais fatal consiste em
desorganizar, com as intromissões do Estado, a autoridade do pai de família, a
mais natural e fecunda das autonomias, a que conserva melhor o laço social, ao
reprimir a corrupção originária, encarrilhando as jovens gerações no respeito e
na obediência. Este erro é o que submete o lar, o porvir do trabalho e toda a família à autoridade dos legistas, dos burocratas e de seus agentes
privilegiados. É o que, em outras palavras, retira da vida privada suas
liberdades mais necessárias e mais fecundas, sem nenhuma razão de interesse
público”.
___ Frederic LE PLAY, citado por André Charlier sem
seu artigo “Sobre algunas palabras mágicas” publicado na Revista Verbo, de
Madri, 1971.
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