Uma das características fundamentais da época em que vivemos é a aficção
desmedida às novidades, às inovações e às originalidades. As palavras “novo”,
“moderno” e “revolucionário” são epítetos empregados com êxito nas propagandas
desenvolvidas para tornar aceitáveis ideias originais ou extravagantes e para
suscitar o consumo dos mais variados produtos comerciais. Agora estas palavras carregam uma carga emocional que atrai a juventude a parece seduzir bembém os
menos jovens que para não ficarem para trás se deixam amiúdo arrastar
docilmente pelo toverlinho da mudança irreflexiva. Até mesmo nas atividades
humanas que pareciam mais estáveis, definitivas e refretárias às
transformações, se introduziram os agentes do “inovacionismo” e assim se fala
agora de uma “nova liturgia” e da “matemática moderna”, e colocamos em parelelo
estas duas expressões, pois nos parece que, uma no sagrado e a outra no
profano, representam dois dos mais aldazes avanços do espírito modernista em
domínios que até agora se haviam considerado como formando parte da “sacta
sanctorum” das tradições da humanidade. Por ora o reformismo triunfa em toda a
linha e nos mais variados campos através de uma hábil propaganda que mescla sem
discriminação os indubitáveis benefícios de muitas inovações com outras
mudanças e originalidades muito mais discutíveis. Nos postos chave de muitas
administrações se tem introduzido na maioria dos países elementos messiânicos,
cuja boa fé não nos corresponde colocar em duvida, mas que se inspiram na ideia
simplista de que toda mudança ou modernização é sinônimo de progreso eque este
é tanto mais acusado e benéfico quando mais drástica é a ruptura com o passado
que se qualifica, no mais das vezes, precipitadamente de rotineira e estática.
Os ousados que se atravem a apor-se à semelhantes ações e inovações, as vezes
comparáveis com a passagem de um rebanho de búfalos sobre um armazém de
valiosas porcelanas, são qualificados com os epítetos infamantes de
“imobilistas” e “reacionários”, de “conservadores” e “retrógrados”. Só são
permitidas algumas discretas retificações no trajeto que seguem os búfalos, com
a condição de não se olvidar de saldar-lhes amavelmente quando passam e fechar
os olhos aos destroços que causam.
Julio GARRIDO MARECA (†
14-5-1982). Las matematicas y la realidad: consideraciones sobre la "matemática
moderna" y la reforma de la enseñanza, Revista Verbo, Madri, p. 391-392.
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