quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

VIVEMOS NO VENTRE CEGO DE UMA ADMINISTRAÇÃO

Vivemos no ventre cego de uma administração. Uma administração é uma maquina. Quanto mais perfeita é uma administração, mais ela elimina o arbítrio humano. Numa administração perfeita, onde o homem desempenha o papel de uma engrenagem, a preguiça, a desonestidade, a injustiça já não podem causar estragos.
Mas, assim como a maquina é construída para administrar uma sucessão de movimentos previstos de uma vez para sempre, também a administração não cria mais do que isso. Limita-se a gerir. Aplica tal sanção a tal falta, tal solução a tal problema. Uma administração não está montada para resolver problemas novos. Se numa máquina de embutir introduzirmos bocados de madeira, nem por isso sairão móveis. Para que a máquina se adaptasse seria preciso que um homem dispusesse do direito de intervir. Mas, numa administração, montada para remediar os inconvenientes do arbítrio humano, as engrenagens recusam a intervenção do homem. Recusam o relojoeiro.


Antoine de SAINT-EXUPÉRY. Piloto de Guerra, Lisboa: Editorial Aster, 7. ed., p. 77-78.

Nenhum comentário:

Postar um comentário