Vivemos no ventre
cego de uma administração. Uma administração é uma maquina. Quanto mais
perfeita é uma administração, mais ela elimina o arbítrio humano. Numa
administração perfeita, onde o homem desempenha o papel de uma engrenagem, a
preguiça, a desonestidade, a injustiça já não podem causar estragos.
Mas, assim como a
maquina é construída para administrar uma sucessão de movimentos previstos de
uma vez para sempre, também a administração não cria mais do que isso.
Limita-se a gerir. Aplica tal sanção a tal falta, tal solução a tal problema.
Uma administração não está montada para resolver problemas novos. Se numa
máquina de embutir introduzirmos bocados de madeira, nem por isso sairão
móveis. Para que a máquina se adaptasse seria preciso que um homem dispusesse
do direito de intervir. Mas, numa administração, montada para remediar os
inconvenientes do arbítrio humano, as engrenagens recusam a intervenção do
homem. Recusam o relojoeiro.
Antoine de SAINT-EXUPÉRY. Piloto de Guerra,
Lisboa: Editorial Aster, 7. ed., p. 77-78.
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