Acaso quando [Dom
Quixote] chama as moças da comarca de “altas donzelas” e elas não podem conter o
riso, não é a observação profunda e piedosa do cavaleiro cristão que reconhece
nas infelizes criaturas, a dignidade da mulher, a inocência perdida na impudicícia
e na humilhação de todas as horas? E quando reflete com os acolhedores pastores
sobre a “ditosa idade e séculos ditosos, aqueles que os antigos chamavam de
dourados”, quando “não havia a fraude, nem engano, nem a malicia mesclando-se
com a verdade e a franqueza”, e os pastores lhe escutavam ‘maravilhados e atônitos’,
não é em razão de sentirem-se arrebatados pela magia do verbo criador até a
nostalgia do tempo do esplendor original da criatura humana? Dom Quixote, senhor de piedade e de sapiência,
levanta com as mãos graciosas e varonis das ponderadas palavras e das discretas
e bem ajustas razões, os caídos, os humilhados, os necessitados, a humanidade
derrotada e claudicante, até a altura de sua nobilíssima condição e dignidade de
‘ser’, até a excelência da imagem e semelhança de Deus”.
Jordán B. GENTA. Rehabilitacion de
la Inteligencia. Buenos Aires: Universidad Libre Argentina, 1946, p. 41-42.
Nenhum comentário:
Postar um comentário