sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A PEDAGOGIA DO HOMEM ESSENCIAL

Frente à Pedagogia da mediocridade e do ecletismo, frente à proposta de um self-made man sem mais compromissos senão desfazer-se deles, frente à moral autônoma e a prescidência magisterial, frente aos pensamentos moveis e à anormalidade homologada com o normal, frente à todas as formas de imanentismo, reducionismo e massificação, frente à destruição da vida contemplativa com as maquinas de ensinar e os programas de controle remoto, frente – em suma – à Pedagogia Moderna, é necessário, urgente, impostergável, reconquistar a Pedagogia dos Arquétipos.
Tudo já foi provado; resta provar a Verdade.
Um ensino fundado no senhorio sobre si mesmo – que não é outra coisa que a verdadeira liberdade -, na renúncia e na obediência, na concepção da vida como um ato de serviço; um ensino sustentado nos mais altos valores especulativos e nas mais licitas preocupações concretas.
Pedagogia do homem essencial, portador de um destino transcendente; Pedagogia da virtude e do Patriotismo; da Ordem Natural e do realismo; Pedagogia da Cruz e não da foice e do martelo, porque uma não se salva nem engrandece com as saídas laborais e os avanços técnicos, mas – como dizia Marechal –

“cuando traza la cruz en su esfera durable; la Cruz tiene dos líneas: ¿cómo las traza un pueblo? con la marcha fogosa de sus héroes abajo (tal es la horizontal) y la levitación de sus Santos arriba (tal es la vertical de uma Cruz bien lograda)”

A resposta adequada deve partir de uma atitude metafísica. Não basta resolver problemas conjunturais por importantes que pareçam. Mas, ademais -  e isto é decisivo -, esse movimento da alma para o Exemplar que suscitam os Arquétipos, não só incide no próprio aperfeiçoamento pessoa e social mas tem seu desenlace obrigatório, sua coroação, diríamos, no conhecimento e imitação do Arquétipo por antonomásia, a Causa Exemplar, Modelo e Modelador, guia e matriz de tudo o que existe: Deus.



Antonio CAPONNETTO. Pedagogía y educación: la crisis de la contemplación en la Escuela Moderna. Colección Ensayos Doctrinarios. Buenos Aires: Cruz y Fierro Editores, 1981, pp. 256-257.


O VALOR DA PALAVRA

A arte divina da Criação tem sua analogia mais próxima no ato de afirmar o que é ou intuir uma forma bela, mais do que o ato de fazer ou de produzir. Em outros términos, se trata de esclarecer que o ato de criar se compreende melhor através da contemplação intelectual que da prática manual ou técnica. Se queremos buscar entre as atividades próprias do homem a que está mais próxima e é mais semelhante ao Ato de Criar, a encontraremos na atividade intelectual mais pura e mais desprendida do material... o que é o mesmo, o ato de nomear um ser, de chama-lo por seu nome, indicando quem é e fazendo-o vir à presença.... O “Fazer” divino tem sua analogia mais próxima na arte da palavra... Falar com propriedade, chamas as coisas por seu nome, sabe-las distinguir e hierarquizar, esta atividade especulativa teórica cuja plenitude se alcançaria na Contemplação pura, é a que melhor e mais adequadamente nos permite compreender o Ato da Criação... No princípio era o Verbo e não o trabalho. Primeiro é nomear as coisas e depois é faze-las. A tarefa peremptória que incumbe a nós ocidentais, é precisamente a reabilitação da palavra restituindo-a ao seu prestigio antigo, à sua nobreza original.


Jordán Bruno GENTA. La idea y las ideologias, Dialogos metafísicos de Platon. La teoria de las ideas en la demonstración de la inmaterialidad y de la libertad del alma. Buenos Aires: Ed. del Restaurador, 1949, p. 207.  


O MONOPÓLIO DAS METAMÁTICAS

“Nosso século instaurou o monopólio pedagógico das matemáticas. Não somente o estudo das diversas ciências está vertebrado nas matemáticas, mas o recurso didático universal para ensinar quaisquer saberes é o sistema do cálculo numérico e das ilustrações geométricas; planos, mapas, esquemas, enumerações, catálogos, diagramas, estatísticas e gráficos de todas as classes. O mesmo para ensinar as partes de uma casa que para ensinar as partes da alma, o movimento de um corpo que a história da Pátria. A concepção mecânica que define nossa mentalidade de modernos radica na função retora cada vez mais exclusiva que vem exercendo as matemáticas em todos os domínios do saber humano, desde começos do séculos XVII, a partir de Descartes e Galileu... O habito de cálculo e experimentação se generalizou tanto e chegou a ser tão absorvente e abusivo que só se admitem os resultados obtidos por tais métodos, trate-se de um problema físico ou de um problema moral".


Jordán Bruno GENTA. El filósofo y los sofistas. Curso de  introducción a la Filosofía. Diálogos socráticos de Platón. Bs. As., 1949, pp. 18-19
Jordán Bruno GENTA (2 de outubro de 1909 - 27 de outubro de 1974).

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

RECONHECER OS TEMPOS DO ANTICRISTO

Minha inquietude, minha preocupação quase exclusiva – minha “obsessão” pelos “tempos apocalípticos” foi criticada por alguns, estranhos e próximos.
Não me dou ao trabalho de justificar-me frente aos que subestimam tudo quanto atine à consumação dos tempos, e que nadam no nirvana de uma despreocupação beatífica. Mas me parece muito plausível a objeção de quantos, talvez tão “parusíacos” ou mais que eu, condenam, no entanto, minha insistência em destacar os caracteres negativos – aterradores, na realidade -  do mundo em que vivemos. Assim como para mim, para eles também parecem tremendamente negativos e prenuncio de acontecimentos “apocalípticos”. Apenas se distanciam de minha atitude por uma questão de prioridades, ou de “entonação”. Pensam que estar tão atentos aos horrores do mundo atual, acovardaria os fiéis receptivos de nosso ensinamento. Que isso privaria, sobretudo os jovens, da esperança necessária para viver cristãmente.
A atenção preferencial aos aspectos negativos do mundo atual se justifica, ao meu ver, pelo fato de que eles são, precisamente o prenuncio e a antessala da Glória a que aspiramos. Sua extrema negatividade realça a extrema positividade d’Aquilo que esperamos. Aviva em nós, a consciência do Triunfo vindouro, por oposição. Por Contraste.
Esse efeito, por assim dizer, “dialético”, que a soma de perversidade de nosso mundo engendra em nós, não teria lugar se não fosse porque sabemos que o desenlace é dialético.
Por que o sabemos? Não por algum cálculo de análise política ou histórica. Sabemos pela Fé. Sabemos porque nos foi revelado taxativamente:

“Quando estas coisas começarem a acontecer, cobrai animo e levantai vossas cabeças, porque se aproxima a vossa redenção” (Lucas 21, 28)

“As coisas” que diz o texto não são, precisamente, fáceis e deleitosas. São terrivelmente duras e tenebrosas. Mas são prenuncio e antessala do Triunfo definitivo do Bem. “Se aproxima a vossa redenção”, diz. Quer dizer, este triunfo é definitivo, permanente. É eterno, não há volta. Portanto, ocorrido uma vez, ai termina a “dialética da história”.
Mas a “dialética”, anterior ao final, de que Bem e de que Mal se trata? De Cristo e do Anticristo: o Bem histórico. Então, se assim é, se isto é como Nosso Senhor nos anuncia, se o Mal chegado a sua plenitude no Anticristo, anuncia o triunfo definitivo de Cristo e de nossa redenção, então quase, quase, deveríamos querer que o Mal se intensificasse. “Polique du pire”: quanto pior, tanto melhor. E dizia, e volto a dizer agora, que a tudo isso que sabemos pela fé, devemos desejar com a esperança fundada na fé. Porque Cristo nos ordenou imperativamente:   
  
“Quando vedes que tudo isso sucede, levantai vossas cabeças”.

Devemos desejar, na hipótese – que creio que é vigente -, de que nada nos reste humanamente por fazer; porque do contrário, é claro, deveríamos tentar corrigir o Mal. Esperemos, pois, confiantes na palavra de Cristo, que também disse:

 “Disse-vos, porém, essas palavras para que, quando chegar a hora, vos lembreis de que vo-lo anunciei”. (João 16, 4)

Ou seja, estava escrito. Estava escrito que estas coisas haviam de ocorrer, e ocorrem. O Senhor as tem previstas, o Senhor mantém em suas mãos as rédeas. E quando ao discípulo de Cristo não reste mais nada a fazer, senão padecer – como era o caso daqueles para quem Cristo se dirigiu, e como creio que é o caso para nós -, resta apenas... vigiar. Vigiar para manter a esperança.   

  “Quando vedes que tudo isso sucede, levantai vossas cabeças”.

E por isso eu digo, agora, que deve-se observar o Anticristo. Observá-lo não por masoquismo – já está dito – mas para ver como se cumpre nele o anunciado: a intensificação do Mal, que precede ao triunfo definitivo de Cristo.


Federico MIHURA SEEBER*. El Anticristo, Buenos Aires: Ed. Samizdat,  2012, pp. 35-37.

*O autor é originário de Buenos Aires. Licenciado em Filosofia pela Universidade Católica Argentina: Santa Maria de Buenos Aires e engenheiro agrônomo pela Universidade Nacional de Buenos Aires. É investigador do Conselho Nacional de Investigações Cientificas e Técnicas (Conicet), diretor do Instituto de Investigações de Ciências Políticas da Universidade Católica Argentina e professor de Metodologia Política na Faculdade de Direito e Ciências Políticas da Universidade Católica Argentina. É autos dos seguintes trabalhos: Filosofía economica en Aristóteles, Usura y capitalismo, Aproximación al dolor, Que sean uno, Meditaciones ociosas, Signos: hoje de ruta. Escreveu vários artigos para as revistas Verbo, Universitas, Sapiencia, Gladius, Mikael, Philosofica e Lateranum.

EXISTE UMA ORDEM NATURAL?

A cultura moderna foi perdendo gradualmente o sentido da ordem à medida que a filosofia foi se desvinculando da realidade cotidiana para refugiar-se em um jogo mental, sem contato com as coisas concretas. Como consequência desse processo histórico, o homem foi substituindo os dados naturais da experiência pelas construções da razão e da imaginação.

As negações modernas da ordem

Surgiram, assim, nos últimos dois séculos, diversas doutrinas, as vezes opostas entre si, mas cujo denominador comum consiste na negação de uma ordem natural.
O materialismo positivista, o relativismo, o existencialismo, coincidem em negar a regularidade, a constância, a permanência da realidade, em particular, a existência de uma natureza humana e de uma ordem natural que sirvam de fundamento para as normas morais e para as relações sociais.
O materialismo positivista sustenta que todo o universo, tanto físico como humano, é constituído por um único princípio que é a matéria. Afirma que a matéria está em movimento e trata de justificar a variedade de seres de toda espécie que existem em nosso planeta dizendo que as diversas partículas materiais vão mudando de lugar e se associam como consequência de forças mecânicas, que iriam se combinando por um acaso gigantesco. O acaso cósmico é erigido para poder negar a existência de Deus e sua inteligência ordenadora do mundo.
Por sua vez, a corrente relativista nega a existência de toda realidade permanente. Apoiando-se na experiência da mudança, das variações que se dão tanto na realidade física como na humana, o relativismo, nega toda verdade transcendente e todo valor moral universal.  Em semelhante concepção todo conhecimento, toda norma ética, toda estrutura social, são relativos a um tempo dado e um lugar determinado, mas perdem toda vigência em outros casos. Tudo muda, tudo se transforma incessantemente, sem que se possa falar de uma ordem essencial.
De modo semelhante ao relativismo, a corrente existencialista enfatiza a contingencia, nas incessantes variações que afetam a condição humana. O homem carece de natureza – proclama o existencialista ateu Jean-Paul Sartre – e ao não ter natureza, tampouco existe um Autor da natureza, quer dizer, Deus (ver L’existencialisme est un humanisme, ed. Nagel, París, 1968, p. 22). Em consequência, o homem constrói a si mesmo através de sua liberdade; é o mero “projeto de sua liberdade”, carece de essência e só existe em um mundo absurdo, sem ordem nem sentido algum. Não há, portanto, outra moral a não ser a que o indivíduo fabrica para si. O existencialismo é um subjetivismo radical, no qual desaparece toda referência à realidade objetiva.

A raiz do erro

Em todos estes apóstolos da mudança pela mudança, a negação da Natureza e de sua ordem procedem de um mesmo erro fundamental. Participam da falsa crença de que falar de “essência”, de “natureza”, de “ordem”, implica cair em uma postura rígida, imóvel, totalmente estática. Isso é totalmente gratuito, pois não conexão alguma entre ambas afirmações.
O problema real consiste em explicar a mudança, o movimento. Para poder fazê-lo, devemos reconhecer que em toda transformação há um elemento que varia e outro elemento que permanece. Se não fosse assim, não poderíamos dizer que uma criança cresceu, que uma semente germinou em planta ou que nós somos os mesmos desde que nascemos há 20, 30 ou 70 anos... Se nada permanecesse, teríamos que admitir que a criança, a planta ou nós mesmos, somos seres absolutamente diferentes daqueles. Para que haja mudança deve haver algo que mudou, quer dizer, um sujeito da mudança. Do contrário, não haveria mudança alguma.
A filosofia cristão opõem à estes erros uma concepção muito distinta e conforme a experiência. Para além de toda mudança, há realidades permanentes: a essência ou natureza de cada coisa ou ser.
A evidencia da mudança não só não suprime essa natureza mas a pressupõem necessariamente. A experiência cotidiana nos mostra que as pereiras dão sempre peras e não maçãs nem nós moscada, e que os olmos nunca produzem peras. Por não se sabe que deplorável “estabilidade” as vacas sempre têm terneiros e não girafas nem elefantes, e, o que é ainda mais escandaloso, os terneiros têm sempre uma cabeça, uma calda e quatro patas... E quando em alguma ocasião aparece algum com cinco patas ou com duas cabeças, o bom senso exclama espontaneamente: “Que barbaridade, pobre animal, que defeituoso!” Reações que não fazem senão provar que não só há natureza mas que existe uma ordem natural. A evidencia dessa ordem universal é que nos permite distinguir o normal do patológico, o são do enfermo, o loco do lúcido, o motor que funcionava bem do que funciona mal, o bom pai do mal pai, a lei justa da lei injusta.

A ciência confirma a existência de uma ordem

O simples contato com as coisas, nos mostra, pois, que o natural existe na intimidade de cada ser. Porque a formiga é o que é, pode caminhar, alimentar-se e defender-se como o faz; porque o joão-de-barro é como é, pode construir seu ninho tal como faz; porque o homem é como é naturalmente, pode pensar, sentir, amar e trabalhar humanamente...
Mas a ciência aporta uma confirmação assombrosa à constatação não só de que cada ser têm uma essência ou natureza, mas de que essa natureza não é fruto do acaso, mas que possui uma Ordem, uma hierarquia, uma harmonia que se manifesta em todos os seres e em todos os fenômenos.
A simples observação nos mostra, com efeito, que há leis naturais que regem os fenômenos físicos e humanos. O homem sempre admirou a regularidade da marcha dos planetas, das inumeráveis constelações; sempre se assombrou com o ritmo das estações, das marés, da geração da vida.  
Mas o progresso cientifico atual, a física e a química contemporâneas, nos diz que uma simples molécula de proteína contém 18 aminoácidos diferentes, dispostos em uma ordem bem estruturada.
Uma única molécula de albumina inclui dezenas de milhares de milhões de átomos, agrupados ordenadamente em uma estrutura dissimétrica. Hoje sabemos que um ser vivo é constituído principalmente por moléculas de proteínas que contém entre 300 e 1.000 aminoácidos. As transformações químicas das células são catalisadas por enzimas, que por sua vez possuem estruturas particulares.
Um só organismo unicelular possui abundantes proteínas, além de lipídios, açucares, vitaminas, ácidos nucleicos.
Como explicar, então, à luz destas constatações, que a estrutura intima da matéria em seus níveis mais elementares exige um ordenamento tão perfeito, tão delicado, tão constante, para poder produzir o mais simples dos seres vivos? Se a isso somamos a existência não de um mas de milhões de milhões de organismos monocelulares e a complexidade pavorosa dos organismos mais complexos, como sustentar que um acaso cedo preside tanta maravilha?
O moderno cálculo de probabilidades prova a impossibilidade de uma pura combinação fortuita.
Em consequência, nem o acaso cego do materialismo, nem o relativismo, nem o subjetivismo existencialista conseguem explicar a ordem assombrosa do cosmo físico e da vida humana.

Por outro lado, como explicar logicamente a incoerência dos relativistas, para quem – como já apontado por Aristóteles há 25 séculos – tudo é relativo salvo o próprio relativismo?

Carlos Alberto SACHERI. El orden natural, 6. ed. [1. ed de 1975], Buenos Aires: Vórtice, 2008, pp. 45-48.


quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

AS MURALHAS DA CIDADE

As muralhas são necessárias para o homem, para a família, para a Cidade, porque toda morada está ameaçada. Isto o advertiu com sua agudeza habitual Saint-Exupéry: “o homem é muito semelhante à cidadela. Ele bem derruba as muralhas para assegurar a liberdade, mas nessa altura não passa de fortaleza desmantelada e aberta às estrelas. Começa então a angustia que vem de ter deixado de ser” (“Cidadela”, II). E como antecipando-se a estes obscuros tempos nos quais vivemos, escuta a voz do insensato que pretende destruir o palácio com o argumento da eficácia e que hoje escutamos nos arrotos da eloquência de tantos políticos, economistas, jornalistas: “Quanto espaço dilapidado, quantas riquezas inexploradas, quantas comodidades perdidas por negligência! Urge demolir estes muros inúteis... então o homem será livre”. O insensato busca derrubar os muros e degradar os homens a cuja sombra viviam, e que nessa altura, tornar-se-ão “gado de praça pública”, pois já não se elevam para as alturas das torres e pilares do palácio que são capazes de inspirar poemas. É possível que por muito tempo vivam da lembrança dessa sombra da nostalgia; “depois, a própria sombra se apagará e deixarão de compreender” (“Cidadela”, III).  Mas o ser pleno não se esgota nesta perspectiva que se reduz à ordem natural. Ali, Saint-Exupéry busca, diante da falsa liberdade, defender o homem para que possa alcançar a plenitude em seu ser natural; isso é bom porque é a base de sua vida sobrenatural, mas insuficiente. É preciso construir outros muros. Essas muralhas que aparecem nos Salmos e que alcançam sua perfeição na Lei Nova, para o bem dos homens, segundo as palavras de um louco genial. Esse judeu convertido, poeta dos Cursos de Cultura Católica, chamado Jacobo Fijman, que escreveu em suaEstrella de la mañana’: “dichosa el alba de las ciudades que hacen em Cristo sus murallas”. 


Bernardino MONTEJANO. Apresentação do livro “Las Murallas de la Ciudad” de Miguel Ayuso, Ethos: Revista de Filosofía Práctica, Buenos Aires: 2011, p. 239. 

A NECESSIDADE DE FORMAR HOMENS

“Castigareis em primeiro término a mentira e a delação, que certamente podem servir ao homem e em aparência à Cidade. Mas somente a fidelidade cria os fortes. Porque não pode haver fidelidade em um campo e não em outro. Não é fiel quem pode trair o seu companheiro de trabalho. Necessito uma cidade forte e não apoiarei sua força na podridão dos homens” (Saint-Exupéry, Cidadela). A cidade se apoia na saúde dos homens e das pequenas comunidades, em particular das famílias. A família ‘é o habitáculo da educação; por isso, a dissolução da primeira traz fatalmente como consequência a destruição da segunda’. A educação requer prêmios e castigos, cujo objetivo deve ser formar os homens na fidelidade para a vida privada e para a vida pública. Para Saint-Exupéry não há duas moral. Não há nenhum resquício para o maquiavelismo. Apenas o homem bom poderá ser um bom cidadão em uma cidade justa”.


Bernardino MONTEJANO. El Educador: Jardinero de hombres.

DEBATE SOBRE IDENTIDADE DE GÊNERO (Dr. Henrique Lima)

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

O CAVALEIRO CRISTÃO

Os séculos de Reconquista impregnou de religiosidade até a medula da alma do Cavaleiro cristão; infundindo-lhe, ademais, a convicção de que a vida é, com efeito, luta; a luta por impor à realidade circundante uma forma boa, uma maneira de ser excelente, que por si mesma a realidade não teria. O Cavaleiro cristão é, pois, essencialmente um paladino defensor de uma causa, desfazedor de ofensas e injustiças, que vai pelo mundo subjugando toda realidade - coisas e pessoas - ao imperativo dos valores supremos, incondicionais. E o que o caracteriza e o designa como paladino não é apenas sua condição de esforçado propugnador do bem, mas, sobretudo, o método direto com que procura o bem. O Cavaleiro cristão não tem paciência, não aguarda, não espera; não busca, para converter em boa a realidade má, subterfúgios que de um modo, por assim dizer, mecânico, metódico e natural, produza a desejada modificação da realidade. O Cavaleiro cristão acredita cegamente na virtude e eficácia imediata de sua própria vontade e resolução esforçada para transformar as coisas. Outras mentalidades mais lentas, menos executivas e mais propensas à acatar o sistema das leis naturais, pensarão que toda modificação da realidade pelo homem requer tempo, exige primeiro uma submissão aparente à legalidade física e material, até descobrir, pouco a pouco, as conjunturas pelas quais se possa obrigar a natureza a assumir a forma e função determinada pelo pensamento humano do melhor.  Essa maneira de operar sobre as coisas reais postula, no entanto, a necessidade de esperar; requer tempo e implica a ideia de uma evolução lenta no processo de modificação das coisas pelo homem. Mas o método evolutivo e paciente de influir sobre a realidade repugna o Cavaleiro cristão, que quer agora mesmo e sem mais tardar, pelo só Império de sua vontade e poder, que o mal desapareça e o bem prepondere, e que tudo se submeta à formula contundente de suas palavras. Há na mentalidade do paladino ao mesmo tempo otimismo e impaciência; otimismo como Fé absoluta no poder moral da vontade; impaciência como demanda da transformação imediata e total, não gradual e progressiva. Para o Cavaleiro cristão, em suma, o ideal moral não é a norma a que submeta um processo de transformação lento e progressivo, mas o imperativo de realização imediata, completa e perfeita. Essa maneira de sentir e de pensar implica, por sua vez, certo desprezo da realidade intrínseca; não só no sentido de considerá-la má ou indiferente, mas também no sentido de tê-la por facilmente vencível, transformável, dominável. A matéria, o corpo, os corpos estão ou devem estar sob as ordens do espírito; se se negam obedecer ao espírito, é preciso obrigar-lhes, pela violência, se for necessário, ou pela penitência ou pelo castigo sobre si mesmo e sobre os demais. O Cavaleiro cristão não duvida poder transformar a realidade conforme os imperativos das preferencias absolutas; justamente porque despreza a realidade e a considera incapaz de verdadeira e autônoma existência. A vida, pois, toda a vida deverá consistir essencialmente em uma constante emenda das coisas conforme os ditames do melhor, do mais perfeito.
Agora, em que consiste o melhor, o mais perfeito? Quem diz ao Cavaleiro cristão o que tem que preferir, o que deve fazer, a lei a que deve submeter os demais e a si mesmo? Agora chegamos a outro ponto capital de nossa análise. Esses valores, essas preferências absolutas a que o Cavaleiro cristão deve submeter aos demais e submete a si mesmo, não procedem de nenhum código escrito, nem de costumes, nem de convenções humanas; procedem exclusivamente da própria consciência do Cavaleiro. Não estão "ai", como as leis públicas; mas florescem no coração do Cavaleiro, o qual não conhece outra legalidade que a lei de Deus e sua própria convicção. O Cavaleiro cristão é paladino de uma causa que se cifra em Deus e sua consciência. Não acata leis que não sejam "suas" leis; não se rege por outro faro que a luz acesa em seu próprio peito....


Manuel García MORENTE. “El caballero Cristiano” (Conferência pronunciada no dia 2 de junho de 1938, na Associação de Amigos da Arte de Buenos Aires), em Idea de la Hispanidad, Buenos Aires: Espasa-Calpe S. A., 1938.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O HOMEM É UM DEVEDOR INSOLVENTE

É curioso, mas o homem é um ser essencialmente instável. Foi feito para transcender-se, têm a vocação da transcendência. Não pode reduzir-se a permanecer nos limites de um humanismo enclausurado em si mesmo: ou se transcende elevando-se, ou se transcende degradando-se; ou se transcende para cima ou se transcende para baixo. Segundo Scheler, o núcleo substancial do homem se concentra neste impulso, nesta tendência espiritual de transcender-se. Thibon já o havia expresso ao seu modo: “O homem só se realiza superando-se; não chega a ser ele mesmo senão quando ultrapassa seus limites. E, a dizer a verdade, não tem limites, mas pode, segundo se lhe abra ou feche a porta a Deus, dilatar-se até o infinito ou reduzir-se até o nada”. Estranho esse traço do homem. Ou se eleva endeusando-se, como fizeram os santos, ou se degrada animalizando-se, como o filho prodigo que, após renunciar sua filiação enobrecedora, acabou apascentando cerdos. A decisão é intransferível, pessoal. Sempre nos repugnou aquela expressão: “cada um deve aceitar-se como é”. Os arquétipos e modelos se propõem à nossa consideração precisamente para que não nos aceitemos como somos, mas para que nos decidamos a transcender-nos. “Somos viajantes em busca da pátria – dizia Hello -, temos que elevar os olhos para reconhecer o caminho”. Conta Cervantes que os rústicos que escutavam o Quixote nos comércios terminavam arrebatados por seu discurso. É que aquelas palavras ardentes lhes permitiam reencontrar-se com o melhor deles mesmos, elevando seus corações acima da trivialidade cotidiana.
A existência do banal – disse Heidegger – é feita de abdicação e termina no tédio e na angustia, exigindo algo mais que o preencha e sacie. Foi Deus quem colocou em nós essa atração para o sublime, essa necessidade ontológica de nos superar, de ser distintos e melhores do que somos, esse anseio de quebrar o círculo estreito das apetências menores. Somente tendendo ao superior, chegamos a ser autenticamente nós mesmos; somente acendendo à atração das alturas, saímos de nossa subjetividade e nos tornamos capazes de pôr nossa vida ao serviço de Deus e dos demais.
A Declaração dos Direitos do Homem, tal como brotou do espirito da Revolução Francesa, contribuiu para criar nos homens uma consciência de credores exigentes, eclipsando a recordação da grande dívida de serviço que sobre todos pesa.


P. Alfredo SAÉNZ, S. J. Arquetipos cristianos, Pamplona: Fundación Gratis Date, 2005, p. 04.
                                      R.P Alfredo Saénz S.J

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

A ESTUPIDEZ É UM PECADO GRAVE


A MULTIPLICAÇÃO DOS SÓS E O TOTALITARISMO MODERNO

Uma "sociedade" com a praga que Valery chama "a multiplicação dos sós", é necessariamente coletivista. Como diria o conselheiro Acácio, para ser eu, não é preciso ser outro, na dependência de outro, Deus, homem, hierarquia, sociedade, instituições, coisas, universo, nada em suma de tudo que é. É então necessário suprimir qualquer alienação, romper todos os vínculo que ainda unissem, mesmo mentalmente, o eu ao não-eu.
Mas, para que todas as subjetividades estejam na mesma situação, é preciso compor todo um Estado proprietário de tudo que não é o próprio eu, o eu esvaziado de ser, ou , se assim podemos dizer, o eu que recebe seu vazio de ser — Monstro anônimo em cujas mínimas percepções, se vê que não passa de um Aparelho manobrado por uma "nova classe dirigente" e minoritária.The madness of the many for the gain of a few, dizia Pope. Atrás do monstro estão os maquinistas.
Para ver isso, é preciso deixar toda a subjetividade. Ao contrário, quanto mais mergulhamos na subjetividade para liberá-la do que não é ela, tanto mais nos diluímos numa coletividade imaginária, numa espécie de "teosfera" de massa humana divinizada, que outra coisa não é senão o eu indefinidamente dilatado.


Marcel DE CORTE. Sartre, filósofo da contestação.

                               Marcel DE CORTE (1905-1994)

HERESIA PROGRESSISTA

 “O problema atual desse movimento [o progressismo católico] é identificar ou confundir: o sagrado e o profano; o natural e o sobrenatural; a Igreja e o mundo; a Teologia reduzida ou substituída por uma antropologia naturalista; a concepção de um Deus distante que não intervém no mundo do homem. Tudo isso está em pugna com a teologia católica e os autênticos ensinamentos da Igreja. Para esclarecer digamos: o homem se faz cristão pelo caráter sacramental do batismo; bom cristão pela graça santificante e as virtudes infusas.
O problema atual do sagrado e do profano, da Igreja e do mundo etc., não pode ser resolvido em um problema de tensões entre sagrado-profano (Schillebeeckx-Metz); ou ainda pelo grau maior ou menor de autonomia de homens ou instituições em relação a fé ou a religião; tampouco é problema para ser resolvido pelas circunstancias históricas. Por isso é mister destacar o caráter de Cristão que o homem recebe no batismo; pelo qual deixa o paganismo para entrar no novo mundo da fé.
Para a nova igreja, para a igreja do progressismo católico, o homem nasce cristão ou sem-cristão; para a Igreja católico, o homem nasce pagão; e no ato do batismo recebe o caráter e a graça de cristão.
Se buscou uma teologia que justifique a adaptação da Igreja ao mundo, do sobretudo ao natural, que abriu caminhos para os pecados contra a fé,  para a heresia e para a apostasia; pelos menos propõem uma “renovação da vida religiosa” (como nas publicações CLAR), que conduz ao abandono da vida religiosa. A teologia “buscada” tem, pelo menos, muitas afinidades com a de Miguel du Bay (Bayo) condenado por São Pio V em 1 de outubro de 1567”


____ Fray Alberto GARCIA VIEYRA, O.P. Esencia de la Herejía Progresista, p. 02.
Fray Alberto García Vieyra, O.P (1912-1985)


É JUSTO E BELO MORRER PELO ESSENCIAL

“Genta nunca vacilou. Inundada sua inteligência com a luz da Revelação, pode escrever – agora sabe que com o próprio sangue – duas frases em que de um modo quase místico descreveu o seu destino: “Nem Deus nem a Pátria nem a Família são bens que escolhem. À eles pertencemos e devemos servi-los com fidelidade até a morte. E desertar, esquece-los, voltar-se contra eles é traição, o maior dos crimes”... “É justo e belo morrer pela Pátria e por tudo o que é essencial e permanente nela: unidade de ser, integridade moral e natural, a soberania nacional, a Igreja de Cristo”. Estas frases estão escritas com o estilo militar da exatidão. Não houve tempo nem lugar para a retorica. E se não fosse vulgaridade, se poderia dizer que Gente teve sua própria morte. Este livros nos explica.
Ninguém na Argentina, caminhou com seu passo de mártir, de frente para a morte justa e bela, como Jordán Bruno Genta.
Apenas Carlos Alberto Sacheri.”


Víctor EDUARDO ORDOÑEZ. Estudo preliminar da obra de Jordán BRUNO GENTA,  “Acerca de la libertad de enseñar y de la enseñanza de la libertad; libre examen y comunismo; Guerra contrarrevolucionario”,  Buenos Aires: Biblioteca del pensamento nacionalista argentino, 1975.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL E SEUS DEMOLIDORES

Realmente, está em grave crise a cultura e a civilização ocidental. E tal crise é vista por dois ângulos opostos pelo vértice. Alguns, descobrindo os defeitos e as misérias que o pecado original e os pecados e os erros dos homens sobre ele acumularam, põem a tônica nesses erros, agravam-nos, e tudo englobam neles, advogando então a destruição total... Sem sequer darem sinal de pensar numa instauratio magna abi mis fundamentis. Ao que tudo indica, são niilistas. Outros, de semelhante estirpe, querem substituir a precária ordem atual por uma “nova”, de presidiários do Estado Onipotente e Omnisciente.
Tais outros, reconhecendo as excelências da longa elaboração, salientando os momentos altos do grande legado, denunciam também a crise, analisando e apontando as primeiras fissuras, os rombos e depois as rupturas.
É o trabalho de um Maritain, em Trois Réformateurs, de um Etienne Gilson, em Les Métamorphoses de la Cité de Dieu, de um Leonel Franca, em A Crise do Mundo Moderno, de Gustavo Corção, em Dois Amores, Duas Cidades. Esses não querem negar nem renegar. Querem salvar o patrimônio ameaçado. Esses homens sabem que a cultura ocidental tem coisas de altíssimo valor, no domínio do pensamento, das ciências matemáticas e naturais, puras ou aplicadas, no domínio do Belo, letras, música, artes plásticas. Chamaram atenção para os erros acumulados, as suas consequências, os venenos instilados, e mostram que isso pode levar à morte, que eles não desejam. Querem, sim, salvar ou restaurar o que é bom, espancar as trevas, corrigir os desvios, sonhando assim, anelando assim por uma cidade terrena que não ponha pesados obstáculos ao caminho para a cidade celeste. Eles acreditam na grande do homem, acreditam na verdade e no bem. Mas sabem que esse frágil “espirito em condição carnal” sofre a ação da gravidade, recebe e aceita convites do abismo, e não raro cede à ação e ao convite. Não são ingênuos otimistas, nem amargos pessimistas. Acreditam no homem, repito, batem calorosas palmas ao que a humanidade tem feito de bom, sobretudo neste Ocidente, mas clamam, mas apontam os demolidores, mas anatematizam os enviados ou inspirados ou sequazes do Pai da Mentira.


Gladstone CHAVES DE MELO (1917-2001). Origem, formação e aspectos da cultura brasileira, Centro do Livro Brasileiro, 1974, pp. 264-265.  


CARLOS ALBERTO SACHERI: UM MÁRTIR DE CRISTO REI

“As circunstancias da morte de Sacheri revestem um simbolismo especial, pois foi assassinado na ocasião do cumprimento de seus deveres religiosos, do preceito dominical da Missa. Sua morte teve certo aspecto de homicídio ritual, cometido, pode-se dizer, por seitas de inspiração satânica que quiseram assinar seu crime, deixar sua marca de ódio a Deus e a Religião de Cristo. Mas, a despeito de sua perversidade, Satanás e seus sequazes, embora não o queiram, servem aos planos de Deus. A circunstancia de que se valeram foi a melhor garantia de uma morte santa e de que ela está vinculada ao testemunho cristão da Verdade total, à que Sacheri estava plenamente dedicado e que era a razão de sua vida. Dar a vida como testemunho da Verdade, eis ai o martírio.  "...Quem perde sua vida por amor de Mim, a encontrará" (S. Mateus, 16, 25).


Buenaventura CAVIGLIA CÁMPOR. Carlos Sacheri en la República Oriental, in: CARLOS ALBERTO SACHERI: Un mártir de Cristo Rey, Buenos Aires: Roca Viva (Organizado por Antonio Caponnetto), 1998, p. 37.

Carlos Alberto SACHERI (Buenos Aires, 22 de outubro de 1933 – 22 de dezembro de 1974) com sua esposa e filhos.

CARLOS ALBERTO SACHERI: PRESENTE!


PROGRESSISTAS


NO PRINCÍPIO ERA O VERBO...



A UNIVERSIDADE É O UNIVERSO DA ALMA QUE CONHECE

A Universidade é um fruto de vida perene na Cidade que envelhece e morre como os homens que nascem e se nutrem de sua história.
A Universidade é o reflexo mental, a imagem viva, a ideia do Universo: a realidade das coisas e sua ordem imutável estão intima e vitalmente presentes na Verdade da Sabedoria, das ciências e das artes.
A Universidade é o universo da alma que conhece. Seu fim transcende, repetimos, a vida da Cidade cuja virtude e perfeição é o Bem Comum, ao qual se ordena o homem inteiro, o composto de alma e corpo que substancialmente é.
A missão primeira e principal da Universidade não é a preparação do cidadão para a vida pública, nem a superior capacitação profissional. É verdade que lhe compete, uma vez que o Bem Comum se subordina à Verdade e não é possível fora dela, a formação da classe dirigente e o cuidado da identidade moral da Pátria; assim como assegurar a primeira e mais elevada idoneidade cientifica e técnica nas profissões liberais.
E é neste plano do saber prático e útil, exclusivamente, que a Universidade se modifica e necessita renovar-se para responder às exigências do presente: o progresso incessante das ciências exatas e experimentais impõe a readaptação continua dessa parte subordinada da Universidade.
A Universidade é para o homem, antes de tudo, ser: o melhor ser e a perfeição intelectual de sua natureza na Sabedoria. Sua missão primeira e principal é a formação do douto, do verdadeiro doutor: o que possui um saber universal (não enciclopédico) porque sabe as causas primeiras e o princípio de todas as coisas; e que, em razão desse saber puro e ótimo, é o que melhor ensina.
O sábio não é o que sabe muito de uma ou de várias ciências particulares e segundas (matemáticas, física, química, biologia, psicologia etc.); tampouco o investigador paciente e sagaz que aumenta a ciência experimental com novas e valiosas descobertas.
Sábio é o filosofo, cujo perfil interior nos deixou Aristóteles na Ética a Nicômaco e na Metafísica; e cujo arquétipo é o próprio Aristóteles “o mestre daqueles que sabem”.
A Universidade é o testemunho visível da preeminência intelectual sobre as virtudes praticas, da visão sobre a ação, da teoria sobre a práxis, do ócio contemplativo sobre o trabalho manual ou mecânico.
A parte superior e dirigente da Universidade é imóvel como a Verdade dos princípios e das essências, cujo conhecimento aumenta em profundidade, pelo progresso no mesmo ser definido e inesgotável; e não por substituição de hipóteses anteriores por outras ajustadas ao limite da experiência alcançado até o dia de hoje.
No princípio era o Verbo, declara a voz mais antiga; e não foi a ação, como declamam, por igual, os corifeus do materialismo marxista e do pragmatismo plutocrático, empresários de novidades precárias e terríveis.


Jordán Bruno GENTA (1909-1974). Rehabilitación de la inteligência, Universidad Libre Argentina: Estudios de Filosofía, Política y Letras, Buenos Aires: 1946, pp. 25-29.
Jordán Bruno GENTA (1909-1974)