Prólogo da segunda edição
Este ensaio teve
maior acolhida do público do que seu autor imaginara.
Nele se dizem
algumas verdades, senão novas, substanciais que me pareceu conveniente apontar
nesta nova edição.
Por isso, foi
suprimido o que podia haver de circunstancial para dar ênfase, em troca, a
conceitos, embora hoje olvidados, não menos necessários e urgentes da
problemática religiosa.
São estes os
conceitos de Realeza de Cristo e o de Civilização Cristã. Se devemos crer, com
efeito, para certos autores não se sabe hoje o que é a civilização cristã nem o
sabem “todos os Papas de nosso século” (O sacerdote dominicano Avril e o
jesuíta de Soras, citados pela revista francesa Itinéraires, junho de
1963, página 153.).
No entanto, é o
conceito de Realeza de Cristo o qual nos pode esclarecer suficientemente o de
civilização cristã e é este, ou de seu equivalente Cidade Católica, o que, como
ponto de referência, pode dar-nos ampla certeza do que na realidade o comunismo
se propõe destruir totalmente, para logo, desta forma reduzir a Igreja ao
silencio mais absoluto.
Ao suprimir
conceitos tão substanciais, se é suprimido, por conseguinte, o reto
conhecimento do comunismo e de sua propagação e se retira as bases para uma
luta eficaz contra este mal, o primeiro de nosso tempo.
A Carta Magna da
Igreja sobre o comunismo ateu, a Divini Redemptoris de Pio XI, em troca,
centraliza sobre o ponto da Civilização Cristã e de sua exclusão pelo comunismo
toda a medida de erro, de malicia e de perigo de que este está cheio.
Por isso, na
primeira página de dito documento, depois de destacar que a promessa e a vinda
do Redentor preencheu as ânsias de tão longa expectação da humanidade e
“inaugurou uma nova civilização universal cristã, imensamente superior a que
até então à custa dos maiores esforços e trabalhos atingiram alguns povos mais
privilegiados”, acrescenta este parágrafo sugestivo: “Este perigo tão
ameaçador, já o haveis compreendido, Veneráveis Irmãos, é o comunismo
bolchevique e ateu, que se propõe como fim peculiar revolucionar radicalmente a
ordem social e subverter os próprios fundamentos da civilização cristã”.
Porque entre muitos
católicos se suprime ou se debilita o reto sentido do que seja a civilização
católica ou a Cidade Católica, se é suprimido também ou se debilita
paralelamente o combate que se há de empreender contra este mal e perigo do
comunismo e se dá lugar a uma como que aceitação do mesmo, quando não a um
verdadeiro reconhecimento e aprovação.
Tal o erro do
progressismo que em formas mais ou menos francas ou atenuadas invade hoje e
envenena a mentalidade e a ação de muitos católicos. Esperamos em breve dedicar
a este tema um pequeno ensaio, não obstante, não quiséramos deixar de assinalar
aqui seu erro e seu perigo. (“En torno al Progresismo Cristiano”,
Librería Huemul, Buenos Aires, 1964, e reeditado como “Un Progresismo
vergonzante”, Cruz y Fierro Editores, Buenos Aires, 1967).
Ao alterar o
conceito de civilização cristã e em consequência o de comunismo, muitos
católicos encontram-se obrigados a alterar o significado da teologia da
história, desvinculando esta do dogma fundamental na matéria que é o da Realeza
de Cristo. Porque a história, a história da realidade temporal dos povos, de
sua realidade pública e também política, deve significar o alto e supremo
domínio que Deus colocou nas mãos de Cristo. É certo que poderão os povos
rebelar-se contra a pacífica dominação de Cristo. Mas ainda assim, para sua
ruína, os povos não poderão deixar ter significado à Cristo. Porque a história
tem uma direta dependência de Cristo, já que toda ela deve significar como um
sacramento o reino de Deus com um sacramento. E somente significa positivamente
quando se converte em história cristã, em Cidade Católica. Por esquecer isso, a
teologia da história se converteu hoje em uma teologia nominalista que nega a
substancia mesmo com que deveria estar constituída; é, a saber, desta
significação positiva que há de brindar a realidade publica dos povos.
Por isso, alteração
do conceito de civilização cristã, diminuição do combate contra o comunismo,
progressismo e uma má teologia da história andam hoje juntos em muitos
católicos e ainda em teólogos que consideram expertos em teologia da história.
Tudo isto nos dá induz há acrescentar um novo capitulo a este primitivo ensaio
que leva precisamente por título “Da Realeza de Cristo na história à
Civilização Cristã”. Desta forma se tornará mais consistente a coerência de
temas que não podem ser separados.
R. P JULIO MEINVIELLE
Epifania do Senhor,
1964.
Padre Julio Meinvielle (1905-1973)
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