quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

RECONHECER OS TEMPOS DO ANTICRISTO

Minha inquietude, minha preocupação quase exclusiva – minha “obsessão” pelos “tempos apocalípticos” foi criticada por alguns, estranhos e próximos.
Não me dou ao trabalho de justificar-me frente aos que subestimam tudo quanto atine à consumação dos tempos, e que nadam no nirvana de uma despreocupação beatífica. Mas me parece muito plausível a objeção de quantos, talvez tão “parusíacos” ou mais que eu, condenam, no entanto, minha insistência em destacar os caracteres negativos – aterradores, na realidade -  do mundo em que vivemos. Assim como para mim, para eles também parecem tremendamente negativos e prenuncio de acontecimentos “apocalípticos”. Apenas se distanciam de minha atitude por uma questão de prioridades, ou de “entonação”. Pensam que estar tão atentos aos horrores do mundo atual, acovardaria os fiéis receptivos de nosso ensinamento. Que isso privaria, sobretudo os jovens, da esperança necessária para viver cristãmente.
A atenção preferencial aos aspectos negativos do mundo atual se justifica, ao meu ver, pelo fato de que eles são, precisamente o prenuncio e a antessala da Glória a que aspiramos. Sua extrema negatividade realça a extrema positividade d’Aquilo que esperamos. Aviva em nós, a consciência do Triunfo vindouro, por oposição. Por Contraste.
Esse efeito, por assim dizer, “dialético”, que a soma de perversidade de nosso mundo engendra em nós, não teria lugar se não fosse porque sabemos que o desenlace é dialético.
Por que o sabemos? Não por algum cálculo de análise política ou histórica. Sabemos pela Fé. Sabemos porque nos foi revelado taxativamente:

“Quando estas coisas começarem a acontecer, cobrai animo e levantai vossas cabeças, porque se aproxima a vossa redenção” (Lucas 21, 28)

“As coisas” que diz o texto não são, precisamente, fáceis e deleitosas. São terrivelmente duras e tenebrosas. Mas são prenuncio e antessala do Triunfo definitivo do Bem. “Se aproxima a vossa redenção”, diz. Quer dizer, este triunfo é definitivo, permanente. É eterno, não há volta. Portanto, ocorrido uma vez, ai termina a “dialética da história”.
Mas a “dialética”, anterior ao final, de que Bem e de que Mal se trata? De Cristo e do Anticristo: o Bem histórico. Então, se assim é, se isto é como Nosso Senhor nos anuncia, se o Mal chegado a sua plenitude no Anticristo, anuncia o triunfo definitivo de Cristo e de nossa redenção, então quase, quase, deveríamos querer que o Mal se intensificasse. “Polique du pire”: quanto pior, tanto melhor. E dizia, e volto a dizer agora, que a tudo isso que sabemos pela fé, devemos desejar com a esperança fundada na fé. Porque Cristo nos ordenou imperativamente:   
  
“Quando vedes que tudo isso sucede, levantai vossas cabeças”.

Devemos desejar, na hipótese – que creio que é vigente -, de que nada nos reste humanamente por fazer; porque do contrário, é claro, deveríamos tentar corrigir o Mal. Esperemos, pois, confiantes na palavra de Cristo, que também disse:

 “Disse-vos, porém, essas palavras para que, quando chegar a hora, vos lembreis de que vo-lo anunciei”. (João 16, 4)

Ou seja, estava escrito. Estava escrito que estas coisas haviam de ocorrer, e ocorrem. O Senhor as tem previstas, o Senhor mantém em suas mãos as rédeas. E quando ao discípulo de Cristo não reste mais nada a fazer, senão padecer – como era o caso daqueles para quem Cristo se dirigiu, e como creio que é o caso para nós -, resta apenas... vigiar. Vigiar para manter a esperança.   

  “Quando vedes que tudo isso sucede, levantai vossas cabeças”.

E por isso eu digo, agora, que deve-se observar o Anticristo. Observá-lo não por masoquismo – já está dito – mas para ver como se cumpre nele o anunciado: a intensificação do Mal, que precede ao triunfo definitivo de Cristo.


Federico MIHURA SEEBER*. El Anticristo, Buenos Aires: Ed. Samizdat,  2012, pp. 35-37.

*O autor é originário de Buenos Aires. Licenciado em Filosofia pela Universidade Católica Argentina: Santa Maria de Buenos Aires e engenheiro agrônomo pela Universidade Nacional de Buenos Aires. É investigador do Conselho Nacional de Investigações Cientificas e Técnicas (Conicet), diretor do Instituto de Investigações de Ciências Políticas da Universidade Católica Argentina e professor de Metodologia Política na Faculdade de Direito e Ciências Políticas da Universidade Católica Argentina. É autos dos seguintes trabalhos: Filosofía economica en Aristóteles, Usura y capitalismo, Aproximación al dolor, Que sean uno, Meditaciones ociosas, Signos: hoje de ruta. Escreveu vários artigos para as revistas Verbo, Universitas, Sapiencia, Gladius, Mikael, Philosofica e Lateranum.

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